A zona de rebaixamento é um choque elétrico permanente do qual os integrantes esperam desvencilhar-se ao final de cada rodada. A zona de rebaixamento é uma impiedosa provação da qual nem todas as equipes são capazes de escapulir. Há quem faça da zona de rebaixamento a libertação, ao cair na real da praticidade de jogar por resultados, não por espetáculos. Há quem se deixe dobrar. O que será do São Caetano na Série B do Campeonato Brasileiro após o jogo desta terça-feira em Campinas contra o Guarani caso venha a ser atirado às feras da zona de rebaixamento?
A melhor resposta da equipe é não entrar nessa roubada. Não será fácil, porque o Guarani vem de surpreendente vitória diante do Grêmio Barueri fora de casa. Entretanto, se não houver escapatória, provavelmente não bastará tratar apenas de futebol nos bastidores de preparação aos jogos seguintes. O equilíbrio emocional é essencial à recuperação.
O jornalismo esportivo é de tal forma esquadrinhado em mesmices sem fim que não me lembro de um texto denso o suficiente para dimensionar com várias fontes de informação, de jogadores a dirigentes, de psicólogos a árbitros, de torcedores a repórteres de campo, quais são as sintomatologias e as reações das equipes que se metem entre os últimos colocados em situação como a de agora, de proximidade do encerramento do primeiro turno.
Sim, porque estar entre os últimos nas primeiras rodadas, em rodadas de ajeitamentos de jogos, é uma coisa, mas estar entre os últimos depois de 10, 12, 14 rodadas, observando-se a fuga da maioria dos concorrentes em direção a posições mais destacadas, é totalmente diferente. Quando a disputa começa a ganhar o formato de funil, cai a ficha de que é preciso acelerar os passos.
O que se sabe do contínuo acender da luz amarela é predominantemente o que se ouve aqui e acolá nas declarações de gente de comissões técnicas e atletas. E também de torcedores que acompanham com fidelidade a equipe. Já senti na pele como torcedor alvinegro o que significa cair aos poucos sem se dar conta da queda inapelável. Há sempre a expectativa de que ao final da próxima rodada os números serão favoráveis, que o salto a novos tempos virá. Mais que expectativa, há certa exacerbação da confiança. Seria esse também o sentimento de quem está diretamente envolvido, principalmente os jogadores? Duvido.
Imaginem os jogadores no dia-a-dia de preparativos, nas concentrações, no aquecimento em vestiário, na entrada em campo, na falta apontada na entrada da área, no escanteio, no gol adversário, nos gritos da torcida. A Província do Grande ABC já viveu dois rebaixamentos nesta temporada (com o Santo André e o São Bernardo à Série B do Campeonato Paulista) e está ameaçada de ver o Ramalhão desfalecer de vez na Série D do Campeonato Brasileiro. O que acontecerá com o São Caetano?
O jogo desta terça-feira contra o Guarani é arriscadíssimo à autoestima dos jogadores porque somente a vitória asseguraria exclusão da zona de rebaixamento, independente do resultado do outro jogo da noite, envolvendo o Bragantino. Se não vencer e o Bragantino superar o fragilíssimo Duque de Caxias em Bragança Paulista, o São Caetano ficará ao menos uma semana naquele pedacinho insólito da tábua classificatória, identificado por tarjas vermelhas.
O empate no final de semana na Vila Belmiro diante do Paraná por 1 a 1 foi normal. As duas equipes se equivalem. Aliás, o fato de se equivalerem demonstra o quanto é intrigante a campanha do Azulão, porque o Paraná está na terceira posição. O técnico Oswaldo Vadão Alvarez retomou o juízo da equipe, depois do vendaval do empate amalucado diante do ABC, quando o meio de campo do gramado em que as duas equipes se enfrentaram em Natal parecia infestado de marimbondos. Todo mundo se mandou para o ataque.
Desta vez o São Caetano manteve a sobriedade tática diante de um Paraná cauteloso no primeiro tempo e mais solto no segundo. Mas o time de Vadão ainda não consegue explodir. Tem dificuldades para impor velocidade diante de adversários mais cautelosos. A automaticidade depende de muito treinamento e também de entrosamento. A lentidão prevalece. Com o agravante de que Nunes não consegue o tempo de bola essencial para quem tem a missão de fazer gols. Parece que está sempre atrasado, embora revele qualidade que nem sempre destila nas equipes que já defendeu: tem se doado na saída de bola dos zagueiros, combatendo sem parar.
O resultado diante do Paraná não deve ter provocado estragos porque estaria enquadrado numa perspectiva de dificuldades que o adversário impõe. Assim como, apesar dos pesares, o jogo desta terça-feira com o Guarani não pode ser visto como o fim da linha em caso de tropeço.
Estão faltando muitas qualificações ao São Caetano na Série B, mas houve avanços com o técnico Vadão e as contratações dos últimos dias. Domingos, por exemplo, já demarcou território de liderança defensiva. O maior problema continua na falta de maior combatividade do meio de campo, apesar da melhora com Vadão, e de objetividade letal no ataque. O jogo com o Paraná só fugiu ao controle após a expulsão de Augusto Recife. Com 10, o São Caetano teve de cair na defesa. Faltou exatamente isso nos três jogos que deixou a vitória escapar em casa contra Sport, Ponte Preta e Barueri. Seis pontos que podem explicar a distância que separa a equipe do Paraná, na zona de classificação.
Como se observa, o São Caetano é um time em busca da agenda mais adequada: começa a se inquietar com rebaixamento quando deveria estar traçando planos para chegar entre os primeiros.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André