Deslocado à zona de rebaixamento da Série B do Campeonato Brasileiro após cumprir 15 dos 38 jogos previstos, o São Caetano não pode cair na esparrela do desespero e do desequilíbrio organizacional e, com isso, meter-se profundezas classificatórias adentro.
A esperada derrocada circunstancial de constar da lista dos quatro piores classificados após a derrota para o Guarani em Campinas tem de ser encarada mesmo como circunstancial, incidental, não como estrutural. Alternativa em contrário é o caos.
Não há quem entenda de futebol que negue a qualidade individual da maioria dos jogadores do São Caetano. O problema está na inconsistência tática. O Azulão virou um laboratório de pesquisas de treinadores que não conseguem encaixar as melhores opções individuais em favor do todo.
O técnico Oswaldo Vadão Alvarez sinalizou nos primeiros jogos que daria um jeito na situação, mas está-se deixando levar pelo excesso de confiança ou pela incapacidade de filtrar informações. Sofre por não entender que há evidentes riscos de prosseguir em interminável fase de escorregadelas de resultados.
O São Caetano não pode jogar com tanta liberalidade defensiva e também não pode ser tão pouco efetivo no ataque. Está faltando também o que normalmente os boleiros chamam de gana, de determinação, de vontade de vencer. Transmite-se a sensação de que o time teria o controle dos destinos de cada jogo e que venceria quando bem entendesse.
O prestígio de melhor clube médio do futebol brasileiro neste século contamina o grupo. O São Caetano precisa reaprender a ganhar o próximo jogo e o jogo seguinte. O problema é que o passado induz à acomodação e a um certo narcisismo.
O estágio — que também pode ser entendido como calvário — entre os rebaixáveis que começou ontem à noite e vai se estender não se sabe por quanto tempo pode fazer bem e também pode fazer mal ao São Caetano. Depende das reações internas, de dirigentes, jogadores e comissão técnica. É preciso entender, entre outras nuances, que nada é por acaso, mas também não há raízes profundas que determinem estado de insolvência na competição.
O São Caetano precisa definir-se tática e estrategicamente no campeonato. Taticamente para sair o quanto antes da zona de rebaixamento. Estrategicamente para definir o que pretende até a última rodada do segundo turno.
Apagar incêndios não é garantia de nada. Pensar apenas no próximo jogo não diz tudo. Muito pelo contrário. Até porque, um eventual tropeço no jogo seguinte não pode entorpecer os pressupostos de conquistas mais adiante.
O primeiro tempo de ontem à noite em Campinas não foi um tempo digno de uma equipe com tantos bons jogadores. O sistema adotado por Vadão (4-2-1-3) é um suicídio. Manter os zagueiros presos demais na marcação, enquadrar dois volantes igualmente encostados nos zagueiros, manietar um armador por demais sobrecarregado e escalar três atacantes desgarrados do restante da equipe formam um painel de improdutividades.
Compactação, palavra-chave para quem quer um time estruturado, foi o que menos se observou. Havia buracos por todos os setores do Brinco de Ouro. O modesto Guarani não fez nada além do trivial: avançou a marcação, liberou os laterais, fez os atacantes se movimentarem e criou algumas oportunidades principalmente em bolas cruzadas na área. Poderia ter terminado o primeiro tempo em vantagem.
Embora com a mesma formação tática o São Caetano passou a dominar o jogo no segundo tempo porque aproximou um pouco mais os setores, adiantou a marcação e o adversário deu sinais evidentes de cansaço físico, após um primeiro tempo de muita marcação. Fosse o São Caetano mais denso no meio de campo, com capacidade de aumentar o volume de jogo com mais troca de passes e penetrações verticalizadas, tudo teria sido resolvido em tempo hábil.
Oportunidades foram perdidas, bolas na trave deram a sensação de que falta sorte à equipe, mas o gol sofrido aos 45 minutos do segundo tempo foi um atentado à paciência.
Tudo começou com um lateral mal batido por Arthur que, revertido, proporcionou o ataque pela esquerda do ataque do Guarani, um cruzamento despretensioso em direção à pequena área, uma antecipação desastrosa de Thiago Martinelli, uma saída precipitada do goleiro Leandro e, acreditem, uma bola rebatida no peito do atacante Fernandão. Surpreso, o atacante viu a bola encaminhar-se à rede. Um lance digno os piores momentos de futebol.
Naquela altura do jogo o empate era um bom resultado para o São Caetano e até mais adequado ao domínio alternado das duas equipes, mas o gol do Guarani tornou ruinoso o que era danoso suportável.
De qualquer modo, não é hora para desespero. Muito pelo contrário. Quem sabe o estágio entre os rebaixáveis coloque o ego da equipe no devido lugar. O excesso de confiança que o São Caetano transmite por conta de um passado de glórias é duplamente nocivo, porque além de contaminar o grupo de jogadores por um certo desdém à competitividade que a Série B exige, instala as equipes adversárias num grau maior de aplicação individual e coletiva.
Apenas para completar: o zagueiro Domingos foi expulso aos 25 minutos do segundo tempo após receber cartão amarelo ainda no primeiro tempo de forma injusta. Mesmo pendurado, Domingos jogou o tempo todo desprotegido, expondo-se a antecipações que poderiam tê-lo excluído do jogo bem antes. Domingos deveria ter sido retirado da equipe ou atuado na sobra.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André