Esportes

São Caetano segue sofrendo com
Síndrome de Namoradinha do Brasil

DANIEL LIMA - 17/08/2011

O São Caetano repetiu ontem à noite em Recife contra o Náutico uma rotina que se está tornando inquietante na Série B do Campeonato Brasileiro: joga ofensivamente, participa ativamente de bons espetáculos para quem acompanha os jogos no local ou na TV mas sai, invariavelmente, derrotado. Foi a nona partida como visitante, e mais uma derrota, contra apenas uma vitória. Do jeito que vai indo, o São Caetano vai terminar como um dos mais agradáveis times da competição, mas provavelmente rebaixado. Tanto que segue na zona da degola.


Alguém precisa alertar o técnico Oswaldo Vadão Alvarez e também os jogadores que tanto o Corinthians como o Flamengo, que lideram a Série A por pontos ganhos, jogam com o regulamento embaixo do braço. No caso, o regulamento é o alerta de que cada vitória vale três pontos e que um resultado parcial de sucesso precisa, em determinadas situações, principalmente fora de casa, ser cuidadosamente zelado.


O São Caetano trata com tamanha desfaçatez a lógica de que fora de casa não se deve perder a oportunidade de sustentar a qualquer custo uma vitória parcial ou assegurar um empate compensador que não há como assegurar que determinados insucessos são injustos. Foi o caso de ontem em Recife. O São Caetano até que não merecia perder, sofreu o segundo gol num pênalti mal marcado pelo árbitro, mas flertou durante todo o tempo com o risco de tomar gols, mesmo que apresentasse a contra-face de também poder marcá-los.


Jogar descuidadamente no ataque contra um Náutico apoiado por 15 mil torcedores que sempre e sempre provocam pequenas e também grandes distorções na arbitragem é acreditar demais na sorte.


Foi assim que o São Caetano perdeu os três pontos da antepenúltima rodada do campeonato. É verdade que também poderia ter trazido os três pontos, como também um ponto, mas a divisão praticamente equitativa de oportunidades construídas em boa parte do jogo sempre é mais vantajosa para o time da casa. Um mesmo lance pode ser pênalti para quem conta com a pressão da torcida e um lance normal para quem é visitante.


Aliás, foi na base da pressão da torcida que o árbitro transformou uma falta do zagueiro Domingos em pênalti aos 30 minutos do segundo tempo. Uma forma de compensar um deslocamento discreto mas influente do mesmo Domingos dentro da área no atacante Kieza. Encoberto, o árbitro preferiu não ceder a pressão do público.


O técnico Vadão mereceria um troféu de ousadia e coragem, mas esses atributos, em circunstâncias normais, não consagram uma boa campanha e ganham o tom de ingenuidade. É preferível o equilíbrio da cautela na hora certa à coragem em momentos inadequados. Jogar supostamente feio, exclusivamente pelo resultado, pode ser condenável para os críticos, mas faz a diferença quando se chega aos vestiários e se observa o quadro de classificação. Constar da zona de rebaixamento é o pior dos castigos.


O São Caetano é um chamariz de emoções para o bem e para o mal. Tanto que jogou ontem numa espécie de 4-2-4, inclusive com dois volantes que saíram ao ataque, com dois laterais que atacaram e com quatro atacantes (Luciano Mandi, Antonio Flávio, Geovane e Ricardo Xavier) com pouca vocação à arrumação do meio de campo. Pouquíssimas equipes no futebol brasileiro jogam com tamanha ofensividade o tempo todo.


À falta de troca de passes, de volume de jogo, de aquecimento e de desaquecimento do ritmo da partida de acordo com as circunstâncias, o São Caetano atuou o tempo todo buscando o gol em bolas esticadas, em levantamentos, em velocidade pura, em transposições laterais. Tudo dentro de um modelo incapaz de surpreender o adversário. A ousadia transformada em rotina gera mecanismos cautelares que a neutralizam ou reduz o impacto de possíveis estragos.


O que mais está próximo de explicações à compreensão do modelo desembaraçado demais do São Caetano jogar talvez seja a Síndrome da Namoradinha do Brasil. Explica-se: o São Caetano fez tanto sucesso na primeira década deste século, acumulou tantos triunfos e chegou a patamar de respeitabilidade acima da média que talvez não se tenha dado conta de que os tempos são outros.


Que tempos são esses? De que é uma equipe de porte médio encarada pelos adversários como equipe de porte médio-grande, mas que se comporta como equipe de porte grande-médio. Resumo da ópera: os adversários do São Caetano sempre têm uma dose suplementar de aplicação técnico-tática em relação a equipes do mesmo porte mas sem a mesma história nacional enquanto o São Caetano parece acreditar que seja um médio-grande maior que a maioria dos adversários, deixando de dedicar-se coletivamente como um time do porte da maioria dos concorrentes na Série B.


Tudo isso parece complicado, mas não é. Talvez jogadores, comissão técnica e dirigentes devessem participar de divãs coletivos para entender o que eles vivem e não se dão conta. A grandeza do São Caetano nos últimos 10 anos é muito superior de fato à da maioria dos adversários da Série B, mesmo de equipes muito mais populares, mas o passado recente não entra em campo. Dois vice-campeonatos brasileiros, um título paulista e um vice da Libertadores compõem uma história respeitável, o elenco disponível é um dos melhores da Série B, mas há cuidados táticos que não podem ser desprezados.


O São Caetano ainda não aprendeu a disputar a Série B do Campeonato Brasileiro, apesar de repetir a experiência na competição pelo quinto ano consecutivo. Desse jeito, acabará na Série C.


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