Depois do mesmo número de jogos do antecessor Márcio Goiano na Série B do Campeonato Brasileiro, o técnico Oswaldo Vadão Alvarez repete rigorosamente os macro-resultados, com uma desvantagem nada desprezível: o São Caetano meteu-se na zona de rebaixamento. Com Márcio Goiano, que chegou pouco antes da estréia da equipe, o São Caetano somou 10 pontos em nove jogos. Com Vadão, em novos nove jogos, outros 10 pontos. Com Goiano o Azulão marcou 13 gols e sofreu 16. Com Vadão, marcou 11 e sofreu 12. Na classificação geral, caiu do 14º para o 18º lugar.
A conclusão óbvia dos leitores é que o São Caetano trocou seis por meia dúzia no comando técnico. Não é bem assim. O time continua acusando deficiência brutal, que é a falta de competitividade. Há fragilidades defensivas demais e relutância visceral em dificultar as ações dos adversários, mas há avanços. O São Caetano de Vadão joga com mais fluência, dinamismo, tem mais disposição ao coletivismo, imprime ritmo mais forte no ataque.
Então, por que está marcando passo na classificação geral, ameaçado de virar o primeiro turno entre os quatro últimos colocados?
Porque o São Caetano não entende os riscos da Série B. E os riscos são específicos e maiores para um time com história de sucesso na primeira década deste século. Ganhar do São Caetano faz bem ao currículo e à autoestima dos adversários. É sempre uma injeção de ânimo.
A falta de competitividade do São Caetano está imantada na frequência com que se expõe aos ataques dos adversários. Se o sistema ofensivo, apesar dos números gerais menos nobres de Vadão em relação a Márcio Goiano, dá para o gasto, o defensivo faz água. O sistema aplicado nos últimos jogos é camicase. Poucos times do futebol brasileiro atuam no 4-2-4 de Vadão. E olhem que sou generoso no esquadrinhamento numérico. Na realidade, trata-se de 4-1-1-3-1, com quatro zagueiros, um volante, um segundo volante-armador, três atacantes e um centroavante fixo.
Foi assim no empate de sábado em Bragança Paulista contra o Vitória da Bahia, quando o São Caetano perdia de 2 a 1 até o final. Embora tenha construído mais oportunidades para definir o jogo, por pouco a equipe não saiu com nova derrota. Tudo porque segue abrindo todas as comportas aos adversários. O São Caetano não segura uma vantagem no placar por bom tempo. E é repetitivo em ficar atrás no marcador.
A equipe de Vadão não avança num dos critérios básicos de estruturalidade tática: há buracos demais entre a defesa e o ataque. Ou seja, falta compactação. O segundo gol do Vitória mostra bem isso: num rápido contragolpe, defesa distante demais do meio de campo, o adversário transformou um lançamento em profundidade em jogada fatal.
A tendência do São Caetano em suprimir o meio de campo chega ao ponto de alguém sugerir ao técnico Vadão que escreva um tratado sobre essa área do futebol que os especialistas chamam de nevrálgica a qualquer objetivo de sucesso.
A persistência com que o São Caetano ignora o espaço entre as duas intermediárias evoca a possibilidade de Vadão tentar nova revolução doméstica no futebol, depois do breve e inesquecível período do Carrossel Caipira, como ficou conhecido aquele time do Mogi Mirim de Rivaldo, Leto e outros.
Traduzir em texto o futebol que o São Caetano vem apresentando não é fácil, mas vou tentar. A equipe dá a impressão de que toda vez que tem a posse de bola o cronômetro aponta não mais que 30 segundos para o encerramento do jogo, tal a pressa a determinar o que exageradamente chamo de organização de jogadas.
É isso mesmo: O São Caetano joga do primeiro ao último instante de cada partida como se faltassem apenas 30 segundos para o apito final. É um time movido pelo acelerar permanente, pela tensão, pela volúpia.
Sei lá como eventuais cronometristas do futebol, contratados para medir o tamanho da posse de bola de cada equipe, iriam se virar se tentassem aplicar o sistema tendo o São Caetano como um dos times avaliados.
Provavelmente nem a Tecnologia da Informação que norteia o monitoramento numérico dos jogos conseguiria definir com precisão a posse de bola do São Caetano. Como saber se a equipe tem a bola sob controle se a bola passa o tempo todo num ziguezague infernal, de esticamentos sem parar, de passeios aéreos e rasantes?
Ganhando, empatando ou perdendo, o São Caetano imprime tamanha velocidade burra nos jogos que, da mesma forma que as oportunidades são criadas, acabam perdidas. Como os adversários, geralmente, mimetizam o São Caetano, por força da inércia, os jogos transformam-se em espetáculos sensacionais a torcedores e espectadores. O jogo com o ABC em Natal, empate de 2 a 2, foi uma sucessão interminável de Melhores Momentos. Muito bonito, mas o São Caetano vencia por 2 a 0 e bastava reforçar a marcação para sair com a vitória.
Talvez o São Caetano ainda não tenha entendido que a classificação da Série B leva em conta apenas os resultados dos jogos, sem qualquer bônus por conta do nível de emoções.
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