Esportes

São Caetano é paciente que
aceita tudo como fatalidade

DANIEL LIMA - 05/09/2011

De volta à zona de rebaixamento e sob os efeitos de congelamento circunstancial na contagem regressiva para fugir da Série C da próxima temporada, o São Caetano não pode reclamar da goleada que sofreu sábado ante o Boa Esporte em Varginha, bem como precisa passar sebo nas canelas porque o próximo adversário, no Estádio Anacleto Campanella, é um osso duro de roer, o Bragantino em fase de ascensão. Tudo isso num único parágrafo foi mais que proposital. Foi provocativo. Significa que o São Caetano tem de reunir toda a força e fôlego possíveis para não seguir ameaçado de rebaixamento. Na toada de instabilidade que insiste perpetuar, poderá chegar sim ao fundo do poço.


Sei lá nessas alturas do campeonato e depois de 12 jogos sob o comando de Oswaldo Vadão Alvarez se o São Caetano deve trocar de treinador. Até a rodada de sábado entendia que não, que a pressão de imprensa sem assunto era um exagero, porque gosta de direcionar o destino do clube, mas a goleada foi de lascar.


Mais que a goleada, porque há determinados resultados que não passam de certa extravagância, o que causou um pouco mais de desânimo foi a forma como o São Caetano jogou. Um time apático, sem personalidade — para resumir resumidamente a situação.


O time de Vadão não engrena de jeito nenhum. Como não engrenou sob a direção de Márcio Goiano, que chegou abafando no Goiás mas já não está com tanto fôlego assim.


A pergunta que não sai de minha cabeça é a seguinte: por que o São Caetano não joga duas partidas seguidas com qualidade que favoreça a segurança de que, finalmente, está entrando na linha? Especificamente no jogo de sábado há alguns pontos que contribuíram decisivamente à derrocada:


a) A ausência de Roger para dividir as tarefas de armação no meio de campo e suporte ao ataque desequilibrou de novo a equipe. Sem alguém com as características técnicas de Roger, Ailton fica sobrecarregado. Um volante adversário que o vigie de perto e com certa força física é suficiente para dificultar a arrumação ofensiva do São Caetano. Ainda mais quando os laterais se mostram tão acanhados, sem ambições ofensivas.


b) Além de não ter as características de Roger, Antonio Flávio cometeu a bobagem de provocar a própria expulsão. Abusou do direito de desrespeitar o árbitro. O São Caetano perdia de 2 a 0 no primeiro tempo quando Antonio Flávio recebeu cartão vermelho. Aí acabou qualquer possibilidade de reação. Uma possibilidade que poderia ter sido reconquistada antes do primeiro tempo terminar se o árbitro mostrasse cartão vermelho ao zagueiro Marcelinho, que atingiu o atacante Luciano Mandi com uma rasteira lateral. O cartão amarelo foi generoso demais à gravidade da infração e a probabilidade de Mandi terminar a corrida no fundo da rede adversária. Marcelinho era o último zagueiro a ser batido. Pior que o erro do árbitro foi a consequência da queda: Mandi teve de abandonar o campo no intervalo e pelas últimas informações estaria fora da competição, porque teria quebrado a clavícula. Tomara que tenha sido alarme falso.


c) Sem um meio de campo que combina o poder de marcação de Augusto Recife e Léo Mineiro mas manietado com a sobrecarga de Ailton, o São Caetano ficou inutilizado quando perdeu Luciano Mandi como válvula de escape de velocidade ofensiva. No segundo tempo, a entrada de Geovane deu mais qualidade e velocidade mas faltavam espaços para jogar porque o Boa Esporte atraiu o adversário para contragolpear. Foi assim que chegou à goleada.


d) A falta de espírito de competição pesou bastante. O São Caetano não sentiu a importância do jogo no sentido concorrencial que se esperava. Sair de Varginha com pelo menos um ponto significaria no mínimo manter o adversário próximo da zona de rebaixamento. Os três pontos colocaram o Boa Esporte temporariamente livre desse incômodo. E isso é péssimo para o São Caetano que não pode permitir que o número de equipes ameaçadas se limite a poucos, a não ser que fuja definitivamente desse grupo.


Chegar à 21ª rodada da Série B sem um legado qualquer de estabilidade de desempenho e de resultados é o pior dos mundos. O São Caetano não tem uma nesga de referência do que poderia ter dado frutos em determinados momentos do campeonato a ponto de tentar retomar trajetória de sucesso.


Por enquanto o São Caetano é uma sucessão estatística de poucos triunfos e muitos tropeços seguidos.


É o eletroencefalograma de um paciente que merece todos os cuidados médicos. Um paciente, entretanto, que não transmite a sensação de que pretende se salvar, aceitando passivamente cada informação inquietante do boletim médico como fatalidade.


Por enquanto, há indicações de que os resultados apontam intoxicações que se encaminham para distúrbios metabólicos que podem chegar a encefalites crônicas. Está na hora de começar a reagir, sob pena de morte encefálica.


Ou não seria morte encefálica um elenco com tantos bons jogadores atirados aos gafanhotos da Série C?


Em tempo: para escapar do rebaixamento, com previstos 46 pontos ganhos como métrica estatística, o São Caetano tem a disputar 51 pontos e precisa ganhar 22, o que significa 43,14%, ante 38,09% até agora de índice de rendimento. Nada excepcionalmente complicado. Desde que reaja. Quanto à contagem progressiva, aquela que levaria a equipe ao acesso, deixem para lá. Há situações em que a matemática deixa de ser esperança e se transforma em enganação.


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Escolha a contagem e decida o futuro do São Caetano na Série B


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