Tão importante quanto ter demitido o técnico Oswaldo Vadão Alvarez após a derrota de sábado em casa diante do Bragantino por 2 a 0 é o São Caetano encaixar, finalmente, um técnico com personalidade para saber o que fazer com um elenco recheado de bons jogadores.
Já se passaram sete meses e três técnicos nesta temporada e o São Caetano não impôs sistema de jogo que aproxime a qualidade individual dos jogadores da competitividade coletiva exigida. Muitos diagnósticos já foram feitos, mas nada de resolutivo se efetivou.
O São Caetano vive de espasmos de um e outro jogos que parecem plataforma para, finalmente, decolar, mas o que se tem em seguida é um fiasco total. Um Challenger em chamas. Quem será o técnico do São Caetano para o provável restante da Série B, agora que faltam 16 rodadas e a equipe precisa somar 22 pontos que, juntados aos 24 já conquistados, garantiriam a fuga do rebaixamento?
Um técnico experiente com passagem constante pela Série A parece sonho impraticável. Possivelmente haveria dificuldades às negociações porque o status adquirido acaba se tornando fator muitas vezes incontornável.
A fórmula seguinte provavelmente seja pautada por um nome de sucesso na própria Série B que esteja desempregado, ou que esteja empregado mas tenha aderência a boa proposta. O São Caetano só não pode cair na enrascada de contratar um nome do rol de profissionais que contam com apadrinhamentos manjados, que ganham todas as oportunidades que gente muito mais competente tanto espera mas que não conseguem engatar uma segunda marcha na carreira.
É impressionante como há treinadores com esse perfil às pencas. No futebol, como em tantas outras atividades, não faltam apoiadores aos medíocres, porque os medíocres costumam fazer o que determinados comandos igualmente medíocres querem. O São Caetano já cometeu erros e acertos com treinadores. Gente graduadíssima como Dorival Júnior, Tite e Muricy Ramalho teve o Azulão como porta de entrada ao reconhecimento de grandes clubes.
Vadão não está na lista dos medíocres, embora tenha sido demitido com certa demora. O problema que coloca Vadão numa encruzilhada como profissional da bola em contextos semelhantes ao que encontrou no São Caetano é principalmente de temperamento. Ele é calmo, amigo e parceiro o suficiente para garantir um bom ambiente nos elencos que dirige, mas não tem a vibração, a determinação e o empenho necessários para situações de risco. Vadão é incapaz de decisões ousadas e se prende demais a conceitos que nem sempre as circunstâncias recomendam.
No caso específico do São Caetano, apesar de fartura de zagueiros de área e de laterais que sabem atuar como alas, insistiu em escalar dois zagueiros apenas e dois volantes, nenhum dos quais primeiro volante. Quando se esperava que contra o sempre retrancado Bragantino Vadão escalaria três zagueiros e daria liberdade aos alas, optou outra vez por dois zagueiros e por nada menos que três volantes. Com isso, Ailton ficou mais uma vez isolado na articulação do meio de campo, sobrecarregado e pouco produtivo.
O 4-3-1-2 do primeiro tempo (com Geovane e Luciano Mandi mais avançados no campo de ataque) acabou por afastar o meio de campo do ataque. O Bragantino soube congestionar o setor e esperar o momento certo para aproveitar erros do adversário. O 3-6-1 de Marcelo Veiga, com algumas variáveis pontuais no ataque, é uma antiga preferência do treinador do Bragantino. Tanto quanto a escolha de verdadeiros gigantes para atuar na linha de três zagueiros. Marcelo Veiga talvez sofra de complexo de marceneiro, porque não abre mão de armários.
O São Caetano foi um time defensivamente equilibrado no primeiro tempo de sábado no Anacleto Campanella. Fechou bem demais os espaços aos contragolpes com os três volantes, mas incomodou muito pouco ofensivamente.
O isolamento dos dois atacantes, as pontadas eventuais dos alas, a dificuldade de aproximação de Ailton e os excessos defensivos entorpeceram a engrenagem de infiltrações verticais e mesmo cruzamentos ante um adversário especialista em destruir. Um segundo articulador no meio de campo teria dado maior versatilidade tanto pelo meio como pelas extremidades, em evoluções com os laterais. Com Ailton duramente marcado, interrompeu-se o circuito de apoio dos laterais.
Outra deficiência tática que Vadão não corrigiu no São Caetano ao longo de 13 jogos foi a monotonia de um sistema de jogo incapaz de surpreender o adversário com manobras mais robustas. Como fez o Bragantino no começo do segundo tempo, ao impor forte marcação na saída de bola dos zagueiros e dos volantes do Azulão. Foi num rápido contragolpe que se iniciou a jogada do primeiro gol, logo no começo do segundo tempo.
Aí Vadão tentou dar mais força ofensiva ao São Caetano, mas cometeu o erro crasso de optar pela entrada de Kleber no lugar de Ailton. Tê-los juntos para organizar o meio de campo era o mais correto. Renatinho também entrou, mas é um atacante. Magnus foi colocado na equipe para corrigir a saída de Ailton, mas aí a situação parecia irreversível. O São Caetano começou o jogo com três volantes e terminou com apenas um. Só poderia tomar o segundo gol em contragolpe, em erro individual do goleiro estreante Fábio.
O que esperar do São Caetano a partir da noite desta terça-feira contra a Ponte Preta em Araraquara? Que comece a se ajeitar taticamente a partir da solidez de um sistema defensivo e de uma opção clara pelo contragolpe, até que ganhe confiança e exerça com mais abrangência a capacidade individual e coletiva de um grupo de jogadores cujos resultados e a classificação estão muito aquém de seus valores potenciais.
Vadão e seu antecessor, Márcio Goiano, não deram o equilíbrio explicitado por inúmeras variáveis individuais de um elenco recheado de bons jogadores. Tomara que o próximo treinador tenha sensibilidade para não deixar escapar a oportunidade de juntar as peças nas respectivas especialidades. Passou da hora de o São Caetano sair do papel e também do inferno da zona de rebaixamento.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André