A boa notícia em meio à derrota do São Caetano ontem à noite ante a Ponte Preta de Campinas por 1 a 0 é que, finalmente, a equipe encontrou o eixo tático para atuar fora de casa: armou-se defensivamente com três zagueiros, dois volantes móveis e um atacante mais avançado (o 3-6-1), mesmo sistema adotado pelo Bragantino, de cinco vitórias consecutivas na competição, e só não deixou Araraquara com três pontos porque cometeu um pecado fatal no futebol: desperdiçou três oportunidades agudas no primeiro tempo e sofreu um gol estranho no início do segundo.
Como o técnico Márcio Araújo acompanhou tudo de uma das cabines do estádio e não se sabe até que ponto influenciou na definição tática, somente os próximos jogos determinarão se o sistema de ontem à noite valerá quando atuar fora. Dentro de casa, no Anacleto Campanella, não estaria descartada a escalação de três zagueiros.
Afinal, acreditar que o sistema com três zagueiros é defensivo demais não corresponde à realidade. Principalmente para um Azulão que conta com laterais/alas de boa qualidade, nenhum dos volantes é essencialmente destrutivo e os meias são bem mais ofensivos do que combatentes. O São Caetano, enfim, pode jogar apenas aparentemente, dentro de casa, num 3-6-1 defensivo, porque há maleabilidade individual para avançar para um 3-4-3.
Restando 15 rodadas para o encerramento da Série B do Campeonato Brasileiro, ainda há tempo para o São Caetano achar-se como organização tática que contemple os valores individuais fartos de que dispõe em campo e no banco de reservas.
Márcio Araújo terá prestado serviços de primeira qualidade se solucionar essa questão que os antecessores desdenharam numa escalada de sobe-e-desce que jamais formatou desenho confiável na defesa e produtivo no ataque.
Talvez Márcio Araújo consiga encontrar a obviedade que o elenco do São Caetano disponibiliza: definir um esquema tático que possibilite evoluções mais ofensivas ou mais defensivas sem agredir o núcleo gerador do conceito de enfrentamentos em casa e fora de casa.
Os jogos camicases que o São Caetano já protagonizou, principalmente com o superadíssimo 4-2-4 inclusive fora do Anacleto Campanella, deveriam ser reservados ao museu do futebol. Muito antes desse esporte virar negócio sério, Zagalo deixou de ser exclusivamente ponta-esquerda para compor o meio de campo, com obrigações defensivas e de armação.
O jogo de ontem à noite foi um desperdício de pontos para o São Caetano no primeiro tempo. Nesse período, como poucas vezes se viu na competição, o São Caetano fechou muito bem os espaços e contragolpeou com contundência. A Ponte Preta mal chegou ao gol de Fábio em penetrações verticais e foi intensamente bloqueada nas laterais. Estava tudo desenhado para o time do técnico interino Ailton Silva ficar confortável, mas Cleber perdeu dois gols e Ailton outro. Nada mais comprometedor para a intensificação da marcação defensiva e a multiplicação de espaços ofensivos.
O domínio do São Caetano acabou no intervalo não propriamente porque a Ponte Preta veio com duas mudanças individuais que influenciaram o comportamento tático (os mais ofensivos Renato Cajá e Lúcio Flávio substituíram os pouco agressivos Mancuso e Ricardinho), mas principalmente pelo gol quase por acaso, de bola mal rebatida por Ricardo Conceição. Uma bola que iria para fora.
Se tudo indicava que as mudanças do técnico Gilson Kleina acenavam com a viabilidade da Ponte Preta abrir-se ainda mais aos contragolpes, o gol logo aos dois minutos obrigou o São Caetano a ser mais ousado. Tentou com os mesmos jogadores, mas abriu espaços às costas do meio de campo e, com isso, aumentou o grau de risco. A Ponte Preta ficou, então, com o controle do jogo que o São Caetano exerceu em todo o primeiro tempo.
Com o resultado adverso, o São Caetano jogou contra o tempo e contra o bom senso. O técnico Ailton Silva errou ao substituir escalonadamente os dois articuladores do meio de campo (Ailton e Cleber) por atacantes sem a mesma qualidade de organização de jogo (Renatinho e Geovane) e perdeu a opção de velocidade pelas laterais com Luciano Mandi que, mal entrou, sentiu o que parece ter sido estiramento muscular e acabou substituído.
Restaram como alternativa as jogadas compridas, os passes longos, a busca de um sortilégio de sobra de bola que a Ponte Preta encontrou no gol que lhe garantiu a manutenção entre os primeiros. Resta saber se o São Caetano não se deixará abalar por novo tropeço a ponto de jogar fora com a água do incômodo do antepenúltimo lugar na classificação a criança da solução tática mais apropriada para tempos tão difíceis.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André