Esportes

Ramalhão comemora aniversário com
rebaixamento moral à Quarta Divisão

DANIEL LIMA - 19/09/2011

Exatamente 44 anos após a fundação, o Ramalhão passou pelo maior vexame de sua história: apenas empatou com o Brasil em Pelotas e só não foi rebaixado à Série D do Campeonato Brasileiro porque o adversário perdeu anteriormente seis pontos ao escalar um jogador em situação irregular. Somente a vitória teria dispensado a ajuda do tribunal esportivo. Torcedores organizados foram às ruas para protestar contra a diretoria, principalmente Ronan Maria Pinto, presidente do Saged, empresa que terceirizou o futebol de Santo André. Muitos dos acionistas também deveriam ter nomes registrados à posteridade por omissão compulsiva.


Dos males, A manutenção na Série C evita derrocada sem precedentes no futebol brasileiro — uma equipe passar por quatro rebaixamentos seguidos, três dos quais em âmbito nacional.


Entretanto, no campo administrativo, financeiro e gerencial, o que se observa a cada dia é o agravamento de uma crise anunciada.


Sei lá o que os torcedores organizados fizeram nas ruas de Santo André. Tomara que não tenham optado por qualquer tipo de violência. A eles, a mensagem mais apropriada e legítima não é das mais otimistas, até porque não é de meu estilo fazer média. O terreno está minado para o Ramalhão. Os bons tempos do passado, de Breno Manoel Gonçalves, de Jairo Livolis, de Celso Luiz de Almeida, ficarão para a história.


A desmoralização completa do modelo empresarial que jamais chegou a ser aplicado possivelmente determinará por longo tempo, senão para sempre, o fechamento dessa alternativa. E o modelo tradicional de voluntarismo não tem mais vez no viés de negócios do futebol.


O Ramalhão está em situação típica de que, se correr, o bicho do romantismo pega; se ficar, o bicho do mercantilismo come. O futebol destes tempos não permite romantismo nem mercantilismo. Precisa e deve ser profissional para reunir num mesmo escopo estrutural a paixão inerente do esporte e a racionalidade indispensável dos negócios.


Uma associação tão óbvia quanto complexa.


Quem no Saged acreditava que se tratava de uma meta simples, caiu do cavalo.


O simples só é simples quando decodifica as entranhas do complexo.


Não vou esticar a conversa neste texto porque já escrevi muito sobre o assunto, mas, exceto se algo fortuito ocorrer, o Ramalhão ficará à deriva em busca de um passado que possivelmente não voltará. Até porque o passado só voltaria a campo se o futuro se oferecer muito diferente do presente.


Por isso, o que resta é rezar por improvável aparição de investidores que levem em conta alguns pontos positivos do Ramalhão (a proximidade com a Capital, por exemplo) e substituam o modelo falimentar que está aí. Os números são uma incógnita, mas as dívidas passam facilmente de R$ 15 milhões.


Para completar, “rebaixamento moral” é expressão retirada da expressão “campeão moral” que o técnico Claudio Coutinho, da Seleção Brasileira, esgrimiu na Copa do Mundo de 1978 após o Brasil deixar de classificar-se para a final por causa do jogo em que os anfitriões argentinos golearam por 6 a 0 uma seleção peruana aparentemente desinteressada demais e, com isso, se classificarem por saldo de gols à decisão contra a Holanda.


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