Recheio indigesto de um sanduíche de responsabilidade que o coloca numa mesma semana entre a cruz do lanterninha Duque de Caxias e a caldeirinha da líder Portuguesa, o São Caetano deu um primeiro e importante passo para fugir da zona de rebaixamento da Série B do Campeonato Brasileiro. A vitória ante o Duque de Caxias fora de casa não pode ser avaliada como o oito de obrigação nem 80 da recuperação total. Foi um resultado importante que, se seguido de novo triunfo, sábado no Estádio Anacleto Campanella, colocaria a equipe do técnico Márcio Araújo temporariamente fora da degola.
Ganhar do Duque de Caxias não foi a moleza que alguns esperavam porque o adversário está virtualmente rebaixado à Série C. O gol do lateral Everton Silva logo aos dois minutos, numa jogada típica de lateral/ala de time que joga com três zagueiros, ameaçou desestabilizar de vez um São Caetano à procura de equilíbrio emocional.
Demorou para o time de Márcio Araújo entrar em sintonia. Deixava espaços demais no meio de campo e recuava exageradamente a linha de defesa. Chamava o adversário para sua área.
Aos poucos, entretanto, o São Caetano foi-se ajeitando. O meio de campo com três volantes (Augusto Recife, Ricardo Conceição e Souza) começava a ganhar alguma mobilidade, e os laterais, principalmente Arthur, apareciam no ataque.
Pena que Márcio Araújo insista em escalar apenas um articulador no meio de campo, Kleber, o que sobrecarrega a armação. Antonio Flávio e Ricardo Xavier movimentavam-se no ataque mas havia dificuldade na coordenação de jogadas. Menos mal que Márcio Araújo não repetiu a extravagância de escalar o zagueiro Revson de segundo volante.
O gol de Nunes logo aos dois minutos do segundo tempo, com o pé trocado, depois de um cruzamento da esquerda, mostrou que o centroavante parece decidido a não escolher jogadas nas quais usará o corpo como arma de contundência. O então titular Ricardo Xavier parece ter dúvidas quanto a isso, porque é mais cuidadoso diante de brutamontes que costumam destruir os ataques como zagueiros de área.
Com o empate e com um Duque de Caxias emitindo sinais de que a marcação intensa do primeiro tempo começava a provocar danos na resistência física, o São Caetano pode controlar o jogo sem grandes sustos. E até se deu ao luxo de insistir com Revson, que substituiu a um Souza esgotado fisicamente. Esperava-se que Revson entrasse como terceiro zagueiro ou mesmo como primeiro volante, mas de novo jogou um pouco mais avançado, de segundo volante. Ainda bem que foi por pouco tempo.
Quando tudo parecia crer que o jogo terminaria sem nova mudança no placar, eis que o Duque de Caxias perdeu o foco após falta que provocou discussões porque o lateral Everton Silva pisou num adversário, e Túlio, que entrara pouco antes, recebeu livre após a cobrança rápida e, sem marcação, fez o terceiro gol. O resumo é que o São Caetano jogou para o gasto diante de um adversário que deve roubar alguns pontos na competição apenas porque seus jogadores e o técnico Paulo Campos demonstram dignidade. Não tivesse comando, o Duque de Caxias poderia patrocinar exageros disciplinares de quem não tem mais nada a perder, porque tudo está perdido.
O poder de reação do grupo está limitado pelo comprometimento da preparação ao campeonato. A baixa de rendimento físico é visível entre outros motivos porque muitos jogadores chegaram tarde demais, sem ritmo de jogo. Ainda há dirigentes no futebol que desconhecem a lógica de encadeamento dos dominós. Quando falta uma peça, todo o restante é comprometido. E aí tudo desanda.
A expectativa em relação ao São Caetano é de que o jogo com a Portuguesa poderá dar muito mais que os três pontos aparentemente mais difíceis de conquistar. Ganhar do líder e virtualmente novo integrante da Série A do Brasileiro possivelmente engataria nova fase do São Caetano, absorvendo as melhores qualidades do técnico Márcio Araújo, respeitado pela capacidade de harmonizar grupos. Só restaria, então, deixar de improvisos e escalar os melhores. Manter Ailton, Geovane e Roger 90 minutos fora de um jogo, preferindo Revson fora de função e um inexperiente Túlio não são as melhores opções.
Para superar a Portuguesa o São Caetano não pode cometer erros técnicos nas áreas de risco, precisa estar inspirado como conjunto comprometido com a posição de figurante de um compromisso do qual poderá sim deixar o campo como protagonista e, acima de tudo, saber utilizar o banco de reservas nos momentos mais delicados.
Ganhar da Portuguesa na Série B passou a ser o objetivo redentor de todos os adversários. Algo semelhante a passar incólume pelo Duque de Caxias. Tomara que o São Caetano cumpra uma semana de ressurreição, quem sabe coroando nova vitória com a fuga da zona do rebaixamento.
Entre a lanterninha do Duque de Caxias e o holofote da Portuguesa, a expectativa é de que finalmente a estrela do São Caetano volte a brilhar.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André