A rodada de ontem à noite da Série B do Campeonato Brasileiro só não foi perfeita ou quase perfeita para o São Caetano porque o Goiás superou a Ponte Preta no final. Não fosse isso, a vitória ante o Sport na Ilha do Retiro teria significado a fuga da zona de rebaixamento após 12 rodadas consecutivas.
Mas até isso deve ser relativizado. Com o futebol que a equipe de Márcio Araújo jogou, essa história de possibilidade de rebaixamento seria catalogada como teoria conspiratória a ofender a história de sucessos do Azulão. Agora só resta à equipe confiar nas próprias competências para dissolver qualquer possibilidade de fracasso na competição.
Ganhar do Sport no Recife é uma façanha e tanto. Dali os adversários invariavelmente saem derrotados. Só a líder e virtual campeã da Série B, Portuguesa, deixou aquele gramado com os três pontos. O Azulão esbanjou futebol em pelo menos metade dos 90 minutos.
O resultado coloca o São Caetano a 13 pontos da fuga matemática do rebaixamento. Como faltam 10 jogos para o encerramento do segundo turno, cinco dos quais no Estádio Anacleto Campanella, ao Azulão só resta mesmo confirmar possível primeiro embalo na competição. Ganhar pela primeira vez dois jogos seguidos (o jogo desta sexta-feira em casa é contra o Vila Nova de Goiás, que consta da lista de rebaixáveis) será o ponto de inflexão a novos tempos.
A fórmula para vencer o Sport no Recife não é algo surrealista, que dependa de sortilégios. Ao São Caetano não faltaram condições técnicas, táticas e ambientais para o sucesso. Para começar, o adversário estava abalado com duas derrotas seguidas fora de casa, o que o afastou da zona de acesso. A instabilidade foi a campo, como admitiu o goleiro Magrão.
Contar apenas com a instabilidade emocional do Sport seria pouco para o São Caetano. Bastaria fraquejar no começo para o Sport ser empurrado pela torcida. Era preciso rigorosa disciplina tática. E isso não faltou. Poucas vezes o Azulão marcou tão bem o adversário. Tão bem, mas tão bem que Ricardo Conceição, um dos três volantes, não desgrudava do cérebro e motorzinho do adversário, o experiente Marcelinho Paraíba. O ex-sãopaulino irritou-se com o assédio. Uma situação muito diferente da do jogo com a Portuguesa, sábado. Edno atuou livre, leve e solto e participou dos três gols da líder do campeonato.
Mesmo bem marcado, Marcelinho Paraíba incomodava. Como aos 12 minutos, ao traduzir uma falta na entrada da área em cobrança na trave. O São Caetano não conseguia organizar contragolpes porque os três volantes atuavam praticamente encostados nos zagueiros e os laterais Arthur e Bruno Recife preferiam a função mais defensiva. Nunes e Antonio Flávio estavam isolados no ataque, vivendo de bolas espirradas.
Foi de um escanteio batido na pequena área para o cabeceio de Arthur, aos 31 minutos, que o São Caetano fez a plataforma para uma exibição mais próxima dos valores individuais que detém. O gol de bola parada era consequência de uma melhora gradual na fluência ofensiva. O Sport soltou-se mais ao ataque e foi surpreendido com contragolpe logo em seguida, aos 34 minutos: Arthur entrou em diagonal, tabelou com Antonio Flávio, penetrou entre os zagueiros e encobriu o goleiro.
Até o final do primeiro tempo o que se viu na Ilha do Retiro foi um São Caetano dos bons tempos de Azulão. A torcida do Sport chegou a ensaiar “olé” para reprovar a atuação da equipe local. O meio de campo do time de Márcio Araújo ocupava melhor os espaços, a linha de defesa encurtava a distância do meio de campo e os dois atacantes contavam com mais colaboração de laterais e volantes.
Nem o gol irregular, em posição de impedimento, marcado pelo Sport aos nove minutos, após cobrança de falta de Marcelinho Paraíba, desajustou o São Caetano no segundo tempo. Houve certa dificuldade em assimilar o golpe, mas nada que não fosse superado logo aos 15 minutos quando, já com Ailton substituindo o cansado Kleber, o São Caetano fez 3 a 1 com Nunes. O atacante desviou um chute forte de Ailton em direção à pequena área em rebote após cobrança de escanteio.
O que se viu até o final do jogo foi um Sport alterado pelo técnico Paulo César Gusmão, cada vez mais preocupado em substituir defensores e meio-campistas por atacantes, e um São Caetano muito bem fechado por dentro, com os três volantes, mas também envolvente no volume de jogo e no avanço sincronizado da marcação mais adiantada. Um jogo coletivo pouco visto até então no campeonato.
A vitória no Recife assentou o espírito coletivista de um São Caetano notavelmente mais aplicado. E também deve ter colocado fim às experiências de Márcio Araújo, principalmente de improvisar zagueiro no meio de campo, caso de Revson, que ontem não saiu do banco de reservas.
Além disso, o que se viu durante pelo menos metade dos 90 minutos foi um time mais confiante, recorrendo menos às jogadas esticadas que só favorecem os zagueiros. Um time tão eficiente que seria impossível convencer alguém que tenha desembarcado na capital pernambucana e desconhecesse a classificação do campeonato, de que aqueles jogadores que atuaram de camisas azuis no primeiro tempo e de camisas brancas no segundo estejam ameaçados de rebaixamento.
Agora é possível acreditar que as últimas 10 rodadas da Série B tratarão de minimizar as lembranças de rodadas anteriores e o São Caetano termine o campeonato mantendo uma interrogação na campanha desta temporada, mas com enunciado diferente do imaginado até o jogo no Recife.
Ao invés de como a equipe caiu para a Série C, prevaleceria como a equipe não disputou os primeiros lugares para chegar à Série A. Tomara que Recife seja mesmo o divisor de águas do São Caetano. Já passou da hora.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André