Acabou a longa jornada de 75 dias do São Caetano nas trevas da zona do rebaixamento. Motivo mais que suficiente para comemorações. Mas a oito rodadas do final da Série B do Campeonato Brasileiro a situação segue pouco confortável. O jogo desta terça-feira diante do Grêmio, em Barueri, pode confirmar a fuga para posições mais cômodas como pode provocar nova recaída, com possível retorno à degola.
O que valeu mesmo em Arapiraca, onde o ASA é quase imbatível, foi o resultado de 0 a 0. E, para completar a festa, a rodada foi quase perfeita para o São Caetano. A perfeição teria sido atingida se vencesse o ASA. Mas aí seria pedir demais.
Nenhuma das sete equipes ameaçadas de rebaixamento conseguiu fazer os três pontos na rodada que passou. Mas quem se deu melhor mesmo foi o São Caetano, que empatou fora de casa ante um adversário igualmente na relação dos inquietos.
Os outros jogos foram o sonho sonhado pelo elenco, comissão técnica e dirigentes do São Caetano porque todos os listados perderam: o já rebaixado Duque de Caxias venceu o ameaçado ABC de Natal por 1 a 0, o agora quase rebaixado Vila Nova perdeu em casa para o Náutico por 1 a 0, o ameaçadíssimo Goiás perdeu em Salvador para o Vitória por 3 a 2, o comprometidíssimo Icasa perdeu em casa para o Grêmio Barueri por 1 a 0 e o preocupadíssimo Guarani perdeu em casa o clássico para a Ponte Preta por 3 a 0.
ABC, Goiás, São Caetano, Icasa, ASA e Guarani são candidatos à última porta do descenso. Vila Nova, Salgueiro e Duque de Caxias já devem pensar na Série C, ano que vem. Principalmente Salgueiro e Duque de Caxias. O Vila Nova precisa de uma reta de chegada que lembre o Fluminense na Série A de 2009.
Empate já bastaria
O empate em Arapiraca já teria sido suficiente para o São Caetano comemorar importante passo para fugir da queda, porque impediria que um sério concorrente descolasse da zona de risco. O desempenho do time mandante diante de sua torcida é extraordinário, com apenas uma derrota em 15 jogos — 34 pontos ganhos em 45. Não fosse isso, o ASA já teria sido rebaixado. Faria companhia ao Duque de Caxias e ao Salgueiro.
Sair da zona de degola foi um presente merecido ao elenco do São Caetano. Foram 75 dias de embrutecimento. É muito difícil avaliar até que ponto esse período iniciado na derrota de 1 a 0 em 2 de agosto para o Guarani em Campinas, com um gol no final do jogo, causou transformações no grupo de jogadores.
É muito provável que o aprendizado tenha sido inesquecível e exigido muita humildade. A persistência em constar da lista de rebaixáveis possivelmente provocou muitos tipos de sentimentos pessoais e coletivos. O São Caetano deve ter vivido momentos dificílimos de convivência. A história registra que não é uma agremiação destinada a tamanho fracasso.
A contratação do técnico Márcio Araújo constitui-se em risco. Fora do mercado há quase um ano e com filosofia de vida que o aproxima muito mais da religião do que da competição, Márcio Araújo ainda não escolheu os melhores valores individuais e a melhor estrutura tática para fazer o São Caetano jogar de acordo com as potencialidades que detém. Mas conta com o apoio dos jogadores e os leva a dedicarem-se em campo em ritmo muito superior ao dos técnicos que o antecederam.
Os sete jogos em que Márcio Araújo dirigiu o São Caetano, com 13 pontos ganhos em 21 disputados, podem não representar a melhor matemática, mas resgataram a equipe do rebaixamento. Na reta de chegada da competição, os oito jogos que restam devem confirmar a expectativa de que o São Caetano escapará da Série C. Mesmo sem jogar tudo o que pode.
Pitadas de sorte
Técnico bom tem de contar com pitadas de sorte. E isso não faltou a Márcio Araújo em Arapiraca. A ausência do contundido Kleber e a entrada do mais agressivo Ailton deram mais qualidade e dinamismo a um meio de campo excessivamente preocupado em defender com os volantes Augusto Recife, Ricardo Conceição e Sousa. Destes, apenas Souza contou mais uma vez com alguma liberdade de apoiar. Antonio Flávio e Nunes ficaram mais à frente, onde contaram com infiltrações de Ailton e também do lateral Bruno Recife. O outro lateral, Arthur, passou o tempo todo preocupado em marcar o que seria um dos pontos fortes do sistema ofensivo do adversário.
Foi jogando num 4-3-1-2 de muita cautela, posse de bola, viradas de jogo, sem pressa, que o São Caetano jamais se sentiu incomodado pelo adversário durante todo o primeiro tempo. Um cruzamento que ganhou efeito e quase surpreendeu o goleiro Luiz e uma penetração pelo meio mal arrematada por Alexsandro foram os únicos lances agudos do ataque do ASA. O São Caetano poderia ter chegado ao gol se uma triangulação entre Ailton, Nunes e Bruno Recife fosse completada por Ailton quase debaixo da trave. A vantagem teria sido inadequada à interpretação do jogo, embora o São Caetano mantivesse por mais tempo o controle da bola.
O segundo tempo mostrou que Márcio Araújo também tem ajuda da sorte. Fez uma opção arriscada quando sentiu que o ASA voltara mais ofensivo, mais forte na marcação e que poderia vencer o jogo depois de três ataques contundentes antes que se completassem 10 minutos. A substituição de Souza, agora dispersivo demais na saída de bola, por um novo volante, Léo Mineiro, fortaleceu de vez o sistema defensivo, mas acabou com a única saída no circuito de ligação do meio de campo e o ataque, além de Ailton, cada vez mais bem marcado.
O São Caetano perdeu a fluência no meio de campo e passou a viver de bolas lotéricas, de jogadas isoladas, o que facilitava a tarefa de uma sempre bem posicionada defesa adversária. Márcio Araújo poderia ter colocado Leo Mineiro no lugar de Augusto Recife ou de Ricardo Conceição, desde o começo do jogo pendurados com cartão amarelo, mas preferiu fechar o time de vez. Deve ter levado em conta também que o árbitro, da FIFA, não mostraria cartão vermelho apenas para satisfazer a torcida.
A troca de Ailton por Roger aos 25 minutos não pode ser entendida como algo diferente e o mesmo do mesmo. Embora descansado e talentoso, Roger também sumiu num meio de campo entregue à ocupação adversária. O São Caetano optou por agarrar-se ao empate a qualquer custo e não sofreu grandes sustos até o final, porque soube bloquear a entrada da área. As tentativas de infiltrações laterais do ASA foram igualmente neutralizadas.
Dono de um dos piores sistemas defensivos e de um dos melhores sistemas ofensivos do campeonato, o São Caetano soube jogar com o regulamento e com as circunstâncias. A correção defensiva sacrificou a potencialidade ofensiva. Essa falta de equilíbrio perdura durante toda a competição. Menos mal que desta vez o resultado tenha sido favorável.
Dormir fora da zona de degola depois de 75 dias de tormentas provavelmente foi a maior emoção do São Caetano na Série B do Campeonato Brasileiro. Mas a missão ainda não está cumprida. Ainda faltam oito rodadas. O calvário amadureceu a equipe.
Os jogos que restam
Vejam a situação de cada uma das equipes que correm para fugir do rebaixamento, onde (C) são jogos disputados em casa e (F) jogos disputados fora de casa:
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