Esportes

Reação do São Caetano equivale a
um lugar na Série A do Brasileiro

DANIEL LIMA - 24/10/2011

Se a participação do São Caetano na Série B do Campeonato Brasileiro fosse restrita às últimas nove rodadas, desde a estréia do técnico Mário Araújo, a equipe estaria em primeiro lugar na classificação geral, com 70,37% de índice de aproveitamento, e já estaria comemorando acesso à Série A. A equipe estaria à frente da líder e já classificada Portuguesa, com 69,79% nos 32 jogos que disputou até agora. Mas como não existe mágica e nas 23 rodadas anteriores o São Caetano colecionou maus resultados, os 43 pontos acumulados até agora em todo o campeonato (44,79% de aproveitamento) ainda o ameaçam de voltar à zona do rebaixamento, na qual permaneceu durante 75 dias.


O São Caetano do técnico Márcio Araújo alcança um resultado estatístico fantástico com os 70,37% de aproveitamento em nove jogos. Nos 23 jogos anteriores, quando foram disputados 69 pontos sob o comando de Márcio Goiano e Oswaldo Vadão Alvarez, o São Caetano somou apenas 24 pontos, ou 34,78% de aproveitamento. Uma marca que, se mantida, colocaria a equipe inexoravelmente na Terceira Divisão, já que totalizaria 33 pontos a sete rodadas do final.


No fundo, no fundo, embora o índice de aproveitamento dos últimos nove jogos seja exagerado, a roda da lógica está sendo recolocada no devido lugar. O São Caetano de elenco forte e diversificado taticamente poderia estar sim entre os quatro primeiros. Estar entre os ameaçados é que não combina com os investimentos da equipe. Mas ainda está faltando jogar, com regularidade, um futebol à altura das qualificações individuais.


Eficiência extraordinária


A goleada de sábado por 4 a 0 ante o ABC de Natal foi um presente divino: a equipe jogou bem abaixo da grande apresentação da semana anterior, em Barueri, quando venceu o Grêmio por 3 a 0. As individualidades continuam a fazer a diferença, embora a equipe tenha aprendido a correr para roubar a bola do adversário. Em outros tempos, transmitia a ideia de que a bola estaria imantada e voltaria sem esforço aos pés de seus jogadores.


Desde que estreou no São Caetano, em 17 de setembro ante o Americana, no empate de 1 a 1 no Estádio Anacleto Campanella, o técnico Márcio Araújo segue invicto. Foram nove jogos, cinco vitórias e quatro empates. Como ainda faltam seis rodadas para o encerramento da competição e a marca provisória de corte do rebaixamento exige 47 pontos, com viés de alta, o melhor mesmo é se garantir com pelo menos mais cinco pontos para não correr risco algum.


A reação do São Caetano nas nove rodadas de invencibilidade, os números alcançados e os números que o situam na competição dimensionam a gravidade do quadro antes da chegada de Márcio Araújo. O São Caetano já fez no segundo turno, mesmo restando seis jogos, quase tantos pontos quanto colecionou no primeiro turno: 21 ante 22. Dezenove com Márcio Araújo, em 27 disputados.


Qual é o segredo?


Afinal, qual é o segredo do novo São Caetano para uma recuperação tão fantástica? Simples, muito simples: a união dos jogadores fora de campo, uma marca registrada do sempre discreto Márcio Araújo, foi transportada para valer para dentro de campo. Não adianta um elenco unido nos vestiários e desunido no gramado. O time corre o tempo todo, marca bem o adversário e, mesmo o peso de permanentes oscilações coletivas é superado por jogadores eficientes, de fundamentos técnicos acima da média de muitas equipes.


Foi o que se viu, por exemplo, na goleada imposta ao ABC, sábado em São Caetano. Quando Antonio Flávio acertou um chute no ângulo ao receber uma bola ajeitada por Nunes, aos 28 minutos do primeiro tempo, o goleiro mal teve tempo de esboçar defesa: a bola foi no ângulo e chegou a bater no travessão antes de entrar. Era rigorosamente o primeiro chute do São Caetano no gol adversário.


Oito minutos depois foi a vez de Souza avançar, receber na entrada da área após uma cobrança de lateral e acertar o canto. O segundo chute a gol, o segundo gol.


Tanto eficiência não é comum no futebol, mas o São Caetano vem conseguindo acertar o gol com extraordinária precisão. Por isso o ABC de Natal sentiu o baque e praticamente se entregou no segundo tempo, embora tivesse a iniciativa de atacar e de alguma forma exigisse cuidados.


O São Caetano melhorou aos poucos depois do segundo gol e um pouco mais no segundo tempo. Ganhou confiança, mobilizou-se na ocupação de espaços, avançou sincronizadamente pelo menos dois dos três volantes, contou com o avanço dos laterais e encontrou em Nunes um pivô pronto para atrapalhar a vida dos zagueiros. Por isso não foram surpresas o gol de Arthur aos 12 minutos do segundo tempo, chutando cruzando de fora da área após roubar uma saída de bola adversária, e o quarto gol, de Geovane, aos 36, infiltrando e concluindo passe perfeito de Leo Mineiro.


Repetindo a equipe


Uma das vantagens do São Caetano é que está conseguindo repetir os titulares nos últimos jogos. A entrada de Ailton no lugar de Kleber contundido deu mais velocidade nos contragolpes e melhor assistência às subidas dos laterais. Nunes está cada vez mais em forma física e retoma a percepção espacial. Antonio Flávio é menos intenso na ocupação de espaço que o reserva imediato Geovane, mas finaliza sempre com perigo. Os volantes Sousa, Augusto Recife e Ricardo Conceição viraram cães perdigueiros à frente de uma zaga cada vez mais segura com Eli Sabiá e Preto Costa. Arthur e Bruno Recife estão equilibrando marcação e apoio.


Mas tudo isso ainda está longe da estabilidade ideal e do volume de jogo esperado. O São Caetano ainda se perde no controle tático do jogo. Exceção à ótima exibição diante do Grêmio Barueri, há apagões a comprometer o conjunto. Os primeiros 20 minutos diante do ABC foram sofríveis. O goleiro Luiz salvou dois gols certos antes dos 10 minutos.


É possível que até o final da competição o São Caetano consiga ter rendimento mais homogêneo durante a maioria do tempo de cada jogo. Afinal, o risco de rebaixamento está cada vez menos inquietante, embora ainda incomode. Ganhar cinco pontos em 18 para quem ganhou 16 nos últimos 27 não é tarefa indigesta. Por isso já está na hora de a equipe demonstrar mais tranquilidade.


A rodada do final de semana praticamente decretou o rebaixamento do Vila Nova, que empatou em casa com o Grêmio Barueri. Salgueiro e Duque de Caxias já estão na Série C. Nem a matemática salva o Duque de Caxias. Apenas um milagre resolveria a situação dos outros dois condenados.


Situação dos ameaçados


Vejam a situação de cada uma das equipes que correm para fugir do rebaixamento, onde (C) são jogos disputados em casa e (F) jogos disputados fora de casa:



  • São Caetano, 43 pontos e jogos contra Paraná (F), Guarani (C), Goiás (F), Náutico (C), Vitória (F) e Criciúma (C).
  • Goiás, 42 pontos e jogos contra Duque de Caxias(C), Vila Nova (Clássico), São Caetano (C), Bragantino (F), Icasa (C) e Guarani (F).
  • ABC, 42 pontos e jogos contra ASA (C), Icasa (F), Paraná (C), Grêmio Barueri (F), Ponte Preta(F) e Americana (C).
  • ASA, 41 pontos e jogos contra ABC (F), Náutico(C), Boa (F), Duque de Caxias (C), Bragantino(F) e Vitória (C).
  • Guarani, 40 pontos e jogos contra Grêmio Barueri (C), São Caetano (F), Icasa (C), Paraná (F), Salgueiro (F) e Goiás (C).
  • Icasa, 39 pontos e jogos contra Bragantino (F), ABC (C), Guarani (F), Salgueiro (C), Goiás (F) e Portuguesa (C).
  • Vila Nova, 30 pontos e jogos contra Salgueiro(F), Goiás (Clássico), Duque de Caxias (F), Portuguesa (C), Americana (F) e Sport (C).

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