O São Caetano invicto há 10 jogos na Série B do Campeonato Brasileiro só não está comemorando o fim de qualquer ameaça de rebaixamento porque, pela primeira vez na história, a perspectiva máxima de que 46 pontos seriam suficientes para sair do sufoco poderá ser suplantada por números cada vez mais elásticos.
Há possibilidade de até 48 pontos determinarem a marca de corte, ou seja, da última equipe a compor o grupo dos rebaixados à Série C. Não tivesse reagido de forma espetacular, ao somar 20 dos últimos 30 pontos disputados, o São Caetano já teria tido o destino dos degolados Vila Nova, Salgueiro e Duque de Caxias. Matematicamente apenas o Duque de Caxias já caiu. Salgueiro e Vila Nova esperam a extra-unção.
A Série B desta temporada é a mais estranha de todas as edições. Na Série A, o São Caetano estaria pensando, com 44 pontos, em disputar a Sul-Americana. A distribuição de pontos na Série B é menos desigual que na Série A por ser mais competitiva. Não há bichos papões, exceto a Portuguesa, disparadamente a melhor equipe. O lanterninha Duque de Caxias de tão poucos pontos acumulados ajudou a elevar a marca de corte.
Agora, oito ameaçados
A extravagância numérica coloca oito equipes na rota do rebaixamento. Grêmio Barueri e Paraná aspiravam até o final de semana um lugar entre os quatro primeiros colocados, com consequente possibilidade de chegar à Série A do próximo ano.
Agora, entretanto, jogam para fugir do olho do furacão. As duas equipes entraram na dança e se juntam a São Caetano, ABC de Natal, Guarani de Campinas, ASA de Arapiraca, Goiás e Icasa. Restam apenas cinco rodadas.
E tudo indica que a projeção matemática de 47 pontos ao final da rodada para escapar do descenso poderá se alterar. Basta que o Icasa vença o ABC. Se o Icasa vencer e o ASA ao menos empatar em casa com o Náutico, a perspectiva para fugir da queda avançará para 48 pontos. Em toda a história da Série B disputa em dois turnos por pontos corridos, apenas em uma oportunidade foi preciso fazer 46 pontos para desvencilhar-se da queda.
A situação de cada um
Veja a situação das oito equipes ameaçadas, levando-se em conta a ordem cronológica dos jogos, onde jogar em casa é (C) e jogar fora de casa é (F):
Goiás com 45 pontos ganhos, 14 vitórias, e jogos contra: Vila Nova (clássico goiano), São Caetano (C), Bragantino (F), Icasa (C) e Guarani (F).
Paraná com 45 pontos, 12 vitórias, e jogos contra: Grêmio Barueri (F), ABC (F), Guarani (C), Sport (F e Duque de Caxias.
Barueri com 44 pontos, 12 vitórias e jogos contra Paraná (C), Náutico (F), ABC (C), Criciúma (F) e Salgueiro (C).
São Caetano, 44 pontos, 10 vitórias e jogos contra Guarani (C), Goiás (F), Náutico (C), Vitória (F) e Criciúma (C).
Guarani com 43 pontos, 12 vitórias e jogos contra São Caetano (F), Icasa (C), Paraná (F), Salgueiro (F) e Goiás (C).
ABC com 43 pontos e 10 vitórias, e jogos contra Icasa (F), Paraná (C), Grêmio Barueri (F), Ponte Preta (F) e Americana (C).
ASA com 42 pontos e 11 vitórias, e jogos contra Náutico (C), Boa (F), Duque de Caxias (C), Bragantino (F) e Vitórias (C).
Icasa com 40 pontos e 11 vitórias e jogos contra ABC (C), Guarani (F), Salgueiro (C), Goiás (F) e Portuguesa (C).
Regularidade constante
O São Caetano poderia ter voltado com vitória ante o Paraná, sábado à tarde em Curitiba. O empate de 2 a 2 foi melhor para o adversário e teve participação direta do goleiro Luiz, seguramente um dos melhores da posição na competição. Luiz falhou com discrição nos dois gols do adversário.
No primeiro gol do Paraná ele calculou que um cruzamento alto da direita teria passado por trás do travessão e induziu os zagueiros a afrouxarem a atenção, do que se aproveitou o adversário para marcar.
No segundo gol do Paraná, um lançamento rasante, em diagonal e em profundidade, poderia ter sido interceptado se Luiz não ficasse apenas na ameaça. Não saiu do gol ainda se posicionou mal no chute do atacante do Paraná. Em seguida, o goleiro do São Caetano fez gestos típicos de quem assumia a culpa.
Em nenhum outro jogo do campeonato o São Caetano foi uma equipe tão homogênea no rendimento. Praticamente não houve oscilações durante os 90 minutos. Nem teve o jogo sob controle absoluto nem deixou o adversário submetê-lo a pressão insuportável. Houve equilíbrio no sistema defensivo e no sistema ofensivo.
Isso significa que o São Caetano não dependeu de mágicas defensivas nem sobreviveu de exceções ofensivas. Jogou com a precisão coletiva que lhe faltou, por exemplo, na goleada do jogo anterior em casa contra o ABC de Natal. Naquele compromisso, a eficiência sobrepôs-se fortemente à inconstância. Ante o Paraná, pautou o jogo por dividir o espetáculo com um adversário sempre perigoso em casa. Supremacia pontual de um não se deu por conta do fracasso do outro. Circunstâncias determinaram equilíbrio durante a maior parte do jogo, mas o goleiro Luiz fez a diferença.
O Paraná foi levemente superior no conjunto do primeiro tempo. Entretanto, além do primeiro gol logo aos 5 minutos, aquele no qual Luiz viu a bola além da linha de fundo e a TV não transmitiu em ângulo que pudesse ser avaliado, os paranaenses só tiveram duas outras oportunidades com o rápido Marinho. O São Caetano ameaçou com uma cabeçada de Arthur que acertou a trave, um chute de Ricardo Xavier e um chute no travessão de Preto Costa, em bola preparada por Ricardo Xavier.
O segundo tempo foi muito mais movimentado por conta de maior disposição ofensiva do São Caetano, que soltou os volantes e os laterais e passou a ter o controle no meio de campo. O Paraná investia nos contragolpes. Numa das avançadas, o volante Augusto Recife fez seu primeiro gol desde que chegou ao São Caetano: recebeu de Ricardo Xavier na entrada da área e acertou o ângulo.
Dois minutos depois o São Caetano sofreu o segundo gol, na bola enfiada em profundidade que o goleiro Luiz vacilou. Eram 10 minutos. Aí o técnico Márcio Araújo, ainda invicto no Azulão, fez duas substituições acertadíssimas: Geovane e Luciano Mandi reforçaram a mobilidade e a contundência do ataque ao substituírem um Ricardo Xavier complicado demais para definir jogadas entre os zagueiros e um Souza bastante ativo mas sempre mais marcador que atacante.
O empate de 2 a 2 demorou para sair. O São Caetano estava melhor mesmo sem oprimir o Paraná. Aos 33 minutos o empate saiu de uma jogada primorosa, após uma bola dominada pela defesa do São Caetano em cobrança de falta: Ailton, Ricardo Conceição, Geovane, Ricardo Conceição de novo, Bruno Recife e Antonio Flávio participaram de um contragolpe velocíssimo que culminou no cruzamento de Bruno Recife e cabeceio fatal de Antonio Flávio na pequena área.
Um prêmio à equipe e especialmente a Antonio Flávio, o melhor do time: ele se descobriu jogando nos vazios deixados pelos volantes e dividiu com Ailton a articulação do meio de campo num 4-3-2-1 que, com as mudanças de Márcio Araújo, virou um 4-2-2-2 de muita mobilidade e inversão de jogadas.
Depois de duas vezes atrás no placar, Márcio Araújo acautelou-se no final, ao substituir um cansado Ailton pelo mais marcador Léo Mineiro. Ou seja, optou pelo 4-3-1-2. O Paraná ainda trocou meio-campistas por atacantes, mas aí já era tarde. O São Caetano fechou todos os espaços.
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