A derrota do São Caetano para o Guarani de Campinas terça-feira no Estádio Anacleto Campanella pela Série B do Campeonato Brasileiro é o típico resultado desastroso porque abarca todas as evidências de catástrofe. Primeiro pela derrota em si. Segundo porque o jogo abriu uma rodada que só vai terminar no sábado, o que aumenta a expectativa por outros resultados. Terceiro porque a possibilidade de afastar-se da zona de rebaixamento foi por água abaixo. Quarto porque a possibilidade de aproximar-se ainda mais da zona de rebaixamento aumentou bastante. Quinto porque o time voltou a oscilar e até poderia ter perdido por diferença maior. Sexto porque lá se foi uma invencibilidade de 10 jogos. Sétimo porque aliviou um concorrente de preocupações com a zona do inferno.
Outros pontos poderiam ser destacados por conta daquela derrota, mas se tornam dispensáveis nestas alturas do campeonato.
Por que o São Caetano perdeu para o Guarani? O São Caetano perdeu porque o adversário sustentou o controle tático do jogo. Ter o controle tático pode não ser a mesma coisa que assumir o volante e levar o veículo para onde quiser, mas não é tão diferente assim.
O treinador e os jogadores que conseguirem levar a campo e executarem um plano de jogo em que tudo parece ter sido transposto da teoria para a prática sem sustos, acabarão comemorando um grande resultado. Foi o que ocorreu com o Guarani.
O time de Campinas fez com o São Caetano o que o São Caetano fez duas semanas antes com o Grêmio, em Barueri: fortaleceu-se defensivamente, esperou o adversário desgastar-se com trocas de bolas laterais e de forma incisiva foi abrindo espaços para transformar em gols.
O time centenário de Campinas não sabe o que fazer para colocar os salários dos jogadores em dia mas deu mais uma demonstração de responsabilidade: mobilizou-se o tempo todo para fechar todos os espaços ao São Caetano. Parecia até que os jogadores de verde contrariavam a legislação esportiva e atuavam com número acima do limite. Ou que o São Caetano entrara desfalcado de pelo menos dois dos 11 regulamentares.
Dois tempos de erros
O time de Márcio Araújo errou durante todo o tempo, nos dois tempos do jogo. A escalação de Elder Granja em substituição ao suspenso Bruno Recife não se traduziu em acertos. O ex-jogador do Palmeiras fez exatamente o que um destro executa pelo lado esquerdo do campo: encontrou dificuldades para arremeter-se em direção à linha de fundo e embolou o jogo com passes curtos e previsíveis. Improvisação sempre causa transtornos e com Granja não seria diferente. Menos mal que a qualidade técnica o tenha preservado de fracasso individual.
Também a escalação de Léo Mineiro como terceiro volante no lugar de Souza igualmente cumprindo suspensão não obteve o resultado esperado. Souza tem mais mobilidade e verticalidade, mas perde em visão do conjunto. Além disso, Léo Mineiro atuou deslocado pela centro-esquerda. Arthur foi abandonado na direita, sem ter com quem dialogar.
Com essas duas deficiências que atravancaram a ação coletiva, o pior que poderia acontecer seria o Guarani sair com vantagem no placar, porque as penetrações já raras do São Caetano, diante de um bloqueio forte do adversário, poderiam se tornar mais escassas ainda. E foi o que se deu, após o gol de Denílson aos 26 minutos, dominando livre na pequena área um cruzamento da esquerda e batendo de virada.
Se o centroavante Nunes já estava isolado e com pouca mobilidade, sentindo desconforto muscular que o retirou do jogo com o Paraná, a situação ficou pior a partir dos 35 minutos quando foi substituído por Geovane. A proposta Márcio Araújo dar mais agilidade ao ataque teria sentido se o isolamento de Nunes não fosse predominantemente em função da lentidão do meio de campo. Márcio Araújo desperdiçou ali a primeira oportunidade de manter o esquema tático que ao menos oferecia a possibilidade de uma jogada cumprida, um lançamento pelo alto. Bastava trocar Nunes pelo reserva imediato, Ricardo Xavier.
Tudo ou nada? Nada
Quando o segundo tempo começou com o São Caetano consumindo as duas substituições a que tinha direito, sinalizou-se o estreitamento de recuperação. Colocar Kleber e Luciano Mandi ainda em fase de recuperação física, após contusão, nos lugares de Léo Mineiro e Ailton, e descartar de vez o centroavante Ricardo Xavier, teve o mesmo significado de tudo ou nada. E deu em nada.
Kleber até que se movimentou razoavelmente, mas Luciano Mandi não foi visto no Anacleto Campanella. Menos mal que Geovane corrigiu o vácuo pela direita do primeiro tempo, movimentando-se persistentemente por ali e dando vida aos apoios de Arthur, um lateral em boa fase e responsável pelo único ataque perigoso no primeiro tempo, quando acertou uma cabeçada no canto baixo.
O que se viu no segundo tempo foi um São Caetano cada vez mais preocupado e descuidado ao atacar para tentar descontar a desvantagem e um Guarani incansável na marcação, pronto para dar o bote em contragolpes.
O time de Campinas perdeu pelo menos duas grandes oportunidades antes de fazer 2 a 0 aos 25 minutos, voltou a desperdiçar gols feitos em seguida e acabou sofrendo o gol de Kleber aos 44 minutos numa jogada que o São Caetano ensaiou e jamais executou até então: triangulação rápida por dentro, com participação de Geovane, Kleber e Elder Granja, e um chute contra a saída do goleiro. Um minuto antes o bandeirinha anulou equivocadamente um gol contra de um zagueiro campineiro que atrapalhou o goleiro numa cobrança de falta na pequena área. A TV mostrou que não houve impedimento algum.
Com jogos complementares programados para esta sexta-feira e também para sábado, o São Caetano ficará na torcida contra Icasa, ABC e ASA, os principais favoritos a ocupar a última vaga da degola. Esticar os olhos em direção ao Goiás, ao Barueri e ao Paraná também vale a pena. A Série B do Brasileiro jamais esteve tão infernal entre os últimos.
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