Não me peçam para explicar tecnicamente o significado de margem de erro em pesquisas eleitorais.
Os chamados cientistas políticos são especialistas em manipular a semântica por si só já bastante elástica do mundo político. Margem de erro é carro alegórico respeitável quando se pretende carnavalizar análises.
Sei que margem de erro é recurso de comedimento, de cautela, de frenagem, mas também sei que institutos a utilizam em muitos casos como jogada para encontrar sempre uma resposta tecnicamente competente que justifique surpresas nas urnas. É o anteparo da desilusão possível que precisa ser acondicionada num cantinho qualquer para salvar a honra.
Não chegaria ao extremo de dizer que margem de erro é mecanismo de fuga de responsabilidade. Estaria ofendendo o pessoal da retaguarda científica que queima as pestanas para cercar o touro bravio de eleitores nem sempre sinceros que fazem do campo aberto do voto secreto plantação de malandragem.
Convenhamos que uma pesquisa com margem de erro de cinco pontos percentuais não pode ser levada a sério do ponto de vista jornalístico, porque, simplesmente, implodiria qualquer argumentação, mesmo a mais sólida.
Uma pesquisa com margem de cinco pontos pode ser irredutivelmente sólida como argumentação dos especialistas em numerologia eleitoral para justificar a vitória de um candidato que estivesse a 10 pontos percentuais do adversário. Basta fazer uma operação matemática simples: rebaixam-se os cinco pontos percentuais de quem está na frente e eleva-se o mesmo tanto de quem está abaixo. Pronto, é empate técnico.
Sou intransigentemente contrário ao uso descarado da margem de erro por veículos de comunicação. Em determinadas situações a margem de erro é olimpicamente desdenhada quando poderia prejudicar o candidato preferido do dono do negócio da informação, enquanto em outros casos faz-se esforço fenomenal para realçá-la, exatamente por conta de motivo inverso.
Querem saber, por fim, o que faço da margem de erro?
Lanço na coluna do descartável como argumento matemático, embora a respeite como elemento de análise do qual posso, eventualmente, em circunstâncias que exigem mesmo ponderação mais refletida, lançar mão.
Entretanto, nada que represente forçada de barra a ponto de mudar o núcleo do material jornalístico que se resume no chamamento avaliativo de que quem está na frente, em segundo, em terceiro lugar ou em outras posições, é quem aparece respectivamente com mais percentuais de eleitores.