Política

Oswaldo ganha mais
impulso com Diniz

DANIEL LIMA - 21/10/2008

O que esperar de um segundo turno no qual o candidato de oposição a um governo municipal desgastadíssimo e com elevado índice de reprovação não só livrou 20 pontos percentuais de vantagem ao final da contagem de votos do turno inicial e, como se pretendesse chegar ao massacre, conseguiu como novos aliados o terceiro e o quarto colocados, a quem foram destinados mais de 53 mil votos, quase tanto quanto os votos do segundo colocado?


É sob essa condição de intensa artilharia contra a candidatura do situacionista Chiquinho do Zaíra que o petista Oswaldo Dias vai às urnas em Mauá neste 26 de outubro. É muito difícil acreditar que haja surpresa no resultado final, independentemente dos números apresentados pelo Instituto Brasmarket.


Quem desprezar a força do apoio no campo de batalha do ex-prefeito interino Diniz Lopes e do até recentemente adversário petista Mateus Prado, refiliado ao PT na semana seguinte ao primeiro turno, provavelmente acredita em Papai Noel. Afinal, são mais de 53 mil votos potencialmente canalizados ao petista. As limitações de terreno estratégico de Chiquinho do Zaíra são pronunciadas quando se observa o horizonte de reversão do quadro de complicações reveladas pelas pesquisas.


Desde o primeiro turno, Chiquinho do Zaíra percebeu que o barco situacionista estaria afundando. Por isso resolveu anunciar publicamente que se afastava do prefeito Leonel Damo. Uma iniciativa recomendada pelos marqueteiros da campanha que capturaram nas pesquisas o grau de rejeição da maioria dos eleitores à administração atual.


Pouco interessava naquelas alturas do campeonato até que ponto esses mesmos eleitores acreditariam de fato no descolamento de Chiquinho do Zaíra do Paço Municipal. Afinal, ele foi até recentemente supersecretário numa composição de forças político-partidárias que assegurou governabilidade do dirigente que comanda o Paço Municipal de Mauá. Sempre é bom lembrar que Leonel Damo assumiu a Prefeitura 11 meses depois de o mandato ser ocupado por Diniz Lopes porque o resultado de 2004 ultrapassou os limites das urnas e frequentou diversas instâncias da Justiça Eleitoral. Até que finalmente o vencedor do primeiro turno, o então vice-prefeito petista Márcio Chaves, foi desalojado juridicamente por suposta irregularidade de campanha.


O reforço de Diniz Lopes, tucano que durante aqueles 11 meses de 2005 dirigiu a Prefeitura, praticamente liquidou com o jogo eleitoral em Mauá nesta temporada. Quando o terceiro colocado na disputa do primeiro turno com 22,08% dos votos válidos, pouco abaixo dos 27,20% de Chiquinho do Zaíra, decidiu juntar-se à chapa de Oswaldo Dias e de Paulo Eugênio Pereira, em fotos reproduzidas nos sites dos jornais impressos e digitais, não pairava dúvida sobre a matemática das urnas.


A transferência de votos de Diniz Lopes para Oswaldo Dias pode até mesmo não se dar na intensidade do primeiro turno, porque política é assim mesmo, mas a maioria do eleitorado que marchou com um candidato que todos sabiam com parcas possibilidades de chegar à vitória revelou grau de fidelidade que provavelmente se estenderá ao segundo turno a quem ele resolveu somar forças.


Diniz Lopes atropelou sem cerimônia o diretório municipal do PSDB em Mauá quando tomou a iniciativa de anunciar apoio a Oswaldo Dias. Conforme noticiário dos jornais, horas antes da entrevista coletiva que selou a aliança, o PSDB local divulgou comunicado liberando o voto dos militantes. O texto, assinado pelo presidente do partido em Mauá, Carlos Alberto Polisel, candidato a vice-prefeito na chapa de Diniz Lopes, não poupou os dois finalistas. Mais: garantia que as duas candidaturas não atendiam aos compromissos programáticos do partido.


Os adversários partidários de Diniz Lopes não economizam munição para tentar desclassificar a aproximação com os petistas. Lembram que foi a quinta mudança de lado do tucano nos últimos anos. Em 2004 ele estava filiado ao PL e apoiou Chiquinho do Zaíra (PSB) na disputa municipal. Chiquinho terminou em terceiro lugar. Já em janeiro de 2005, assumiu a Prefeitura de Mauá com o apoio do PV de Leonel Damo, que ajudou a elegê-lo presidente do Legislativo e, como tal, tornou-se herdeiro legal do trono municipal.


Como é comum na governança pública, parte do secretariado de Diniz Lopes foi indicado por Leonel Damo que, no final do mesmo ano, conflito jurídico superado no Supremo Tribunal Eleitoral, assumiu o comando da Prefeitura. Diniz Lopes voltou para a Câmara de Vereadores no ano seguinte e rompeu com Chiquinho do Zaíra, secretário de Governo de Leonel Damo.


O reforço mais importante de Oswaldo Dias se defende da bateria de críticas. Lembra que em maio deste ano foi o único vereador de um Legislativo majoritariamente situacionista que votou favoravelmente às contas da administração de Oswaldo Dias em 2004. Parecer desfavorável do Tribunal de Contas do Estado colocam os números de Oswaldo Dias sob suspeição. “Fui oposição ao governo Damo, que teve Chiquinho como homem forte. Não seria coerente apoiá-lo agora” – lembrou Diniz Lopes.


Cinco dias depois do alinhamento oficial de Diniz Lopes na campanha de Oswaldo Dias foi a vez de Mateus Prado proclamar não só apoio ao petista como refiliação ao PT. Candidato do PSOL no primeiro turno, quando obteve 2,56% dos votos válidos, Mateus Prado tem peso eleitoral modesto. Muito menor que o efeito psicológico, um dos componentes mais valiosos em disputas eleitorais. “Estou voltando ao Partido dos Trabalhadores humildemente. Quero ajudar a contribuir com o que posso, com políticas públicas” – disse Mateus Prado logo depois de assinar ficha de filiação à legenda.


A trajetória de Mateus Prado durante o primeiro turno poderia sugerir que se manteria neutro no segundo turno, porque não poupou críticas a Oswaldo Dias e aos demais candidatos. Mas ele mesmo confessou durante a coletiva do anúncio de apoio ao petista que vinha mantendo contatos estreitos com o candidato a vice do PT, Paulo Eugênio Pereira, e o próprio Oswaldo Dias. “Nos últimos 45 dias a gente vem conversando. Eles sabiam da minha insatisfação com o PSOL. Sempre disse ao Oswaldo que votaria nele no segundo turno” – declarou. E completou: “As críticas continuam valendo. Há coisas de que discordo. Por exemplo: o governo do Oswaldo não avançou no social. Agora vou fazer as cobranças dentro do partido” – disse ao Diário do Grande ABC de 14 de outubro.


Um dia antes, o site do ABCD Maior dava ênfase ao descontentamento de Mateus Prado com o PSOL: “Com o tempo fui conhecendo o PSOL. Passei por série de constrangimentos nesses três anos e minha saída da legenda não é novidade. Fiz diversas reclamações. Pessoas do partido de outras cidades intervêm em Mauá e a Executiva Estadual não se pronuncia” – denunciou. Mateus Prado não pretende ocupar secretaria no possível governo de Oswaldo Dias: “Não quero participar de secretaria ou receber um cargo. Isso iria atrapalhar, porque tenho outros objetivos. Minha participação será mesmo como militante do PT”.


Outro reforço festejado pelos petistas de Mauá foi a adesão do humorista Batoré, um dos vereadores eleitos para a próxima legislatura. O comediante apresentado na entrevista coletiva ao lado de Oswaldo Dias não perdeu a oportunidade para tripudiar sobre os adversários que divulgaram notícias de que teria morrido: “Os boatos são pura maldade e incompetência. Na política tem de ter respeito e ética, e alguns que espalham boatos já estão mortos politicamente” – desabafou. Batoré vereador teve quase o mesmo número de votos de Mateus Prado, candidato a prefeito: 4.768.


Embora não frequente o noticiário dos jornais, o deputado estadual Donisete Braga é aliado assíduo da mobilização dos petistas em Mauá. Bem diferente da atuação de Vanessa Damo, também deputada estadual, que praticamente não se expôs como apoiadora de Chiquinho do Zaíra desde que o candidato trombeteou desinteresse de ter a imagem vinculada à administração de Leonel Damo.


A influência de Donisete Braga na campanha petista pode ser aferida com o flagrante da carreata de 700 veículos liderada por Oswaldo Dias no domingo seguinte ao primeiro turno: ele ocupa o banco traseiro de um jipe sintomaticamente vermelho, ao lado de Diniz Lopes. No banco intermediário, Oswaldo Dias e Paulo Eugênio Pereira acenam para os populares.


Donisete Braga recebeu 29,8 mil votos em Mauá, do total de 65.585 em todo o Estado nas eleições para a Assembléia Legislativa em 2006. Está no terceiro mandato. Ele conseguiu superar dificuldades que tornaram a vitória eleitoral prova de fogo. Afinal, não contava com o suporte da máquina administrativa local, toda convertida em direção de Vanessa Damo.


Bem no estilo petista de disputar eleição, Oswaldo Dias mantém agenda recheadíssima de compromissos, principalmente em contato com a população. O prefeito Leonel Damo é o alvo principal de críticas: “Mauá está semelhante ao que encontramos em 1997, quando assumimos a Prefeitura. A cidade está abandonada, esburacada, saúde deteriorada, muita sujeira e trânsito caótico”. O ex-prefeito lembra que construiu o Teatro Municipal, 14 escolas, viabilizou o aumento da capacidade do Pólo Petroquímico, trouxe o único shopping center do Município, duas Fatecs (Faculdade de Tecnologia) e a Fama (Faculdade de Mauá).


Oswaldo Dias defende prioridade na área de saúde com a construção do Hospital Regional de Mauá, semelhantemente ao que se instalou em Diadema e em Santo André.


Chiquinho do Zaíra fazia contas a 10 dias das eleições. Espera que os 25% de eleitores fora das contas de votos válidos no primeiro turno possam fazer a diferença no segundo turno. Garantiu que adotará, se prefeito, uma iniciativa petista da então prefeita de São Paulo, Marta Suplicy: “Vou implantar o bilhete único e promover a licitação dos transportes coletivos para que cumpram horários, sigam itinerários. Posso falar isso porque jamais fui prefeito, não tenho vínculo com ninguém” – afirmou. Chiquinho do Zaíra reconhece os problemas de Mauá: “Faltam médicos, transporte público”.


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