O que, afinal de contas, teve a morte da jovem Eloá Pimentel com o resultado do segundo turno da eleição em Santo André, onde a zebra vestiu-se de branco, de branco do médico obstetra Aidan Ravin, petebista em primeiro mandato de vereador que passou toda a temporada eleitoral curtindo certo sossego de quem ou tinha plena certeza de que nada que fizesse alteraria o curso natural do rio de votos majoritariamente favoráveis ao petista Vanderlei Siraque ou, atingido em cheio por espiritualidade fora do alcance dos mortais, sabia que chegaria sua vez de ocupar o Paço Municipal?
Perdoem-me pelo parágrafo quilométrico da frase com que abro o segundo round desta série, mas foi proposital e foge completamente do que recomendo ao bom jornalismo do dia-a-dia, que não deve ser telegráfico, porque ninguém suporta o martelar de frases curtas, mas também não pode parecer essas locomotivas que carregam vagões a perder de vista.
O caso Eloá Pimentel entra na pauta desta série porque ouvi muito burburinho sobre suposta influência daqueles dias de tensão que elevaram a audiência de irresponsáveis programas de rádio e de televisão que transformam em entretenimento a vida de celebridades de ocasião.
Nada, absolutamente nada indica que o caso Eloá deva ser considerado elemento de explicação. Nem mesmo o fato de a equipe do candidato Aidan Ravin ter supostamente estendido nos últimos dias de campanha uma faixa na fachada do prédio mais focalizado durante aquela semana do sequestro teve efeitos eleitorais. Não houve publicidade da iniciativa e, segundo me consta, petistas reagiram ao inutilizar o material.
A versão da faixa de propaganda eleitoral de Aidan Ravin é sustentada por fontes seguras, mas também há informações em contrário, que dão conta de que a tática não teria passado de ilusionismo dos derrotados.
Seja lá o que for, faixa aberta ou faixa hipotética, o fato é que o sequestro e a morte de Eloá Pimentel sequer provocaram avaria tópica no prestígio eleitoral do PT em Santo André, quanto mais encontram forças para justificar o estilhaçamento de 26 de outubro. Até porque, entre outros motivos que ajudam a sustentar essa argumentação, o atendimento médico em instalações públicas municipais não sofreu um senão sequer que pudesse ganhar a forma de rastilho de pólvora de descrédito da Administração Municipal na área de saúde.
Colocaram-se à disposição das vítimas de Lindemberg médicos, paramédicos, equipamentos e tudo o que era possível para dar respaldo à operação. A visibilidade do caso mobilizou de tal forma o Paço Municipal que não se descuidou dos mínimos detalhes. Sabia-se de antemão que, embora não tivesse nada a ver com o peixe da passionalidade juvenil, um deslize poderia desviar parte da centralidade do incidente do terreno criminal para o público.
Eloá Pimentel entra na contabilidade de prejuízos petistas apenas entre observadores desatentos cuja capacidade de foco tem parentesco com biruta de aeroporto em dia de tempestade ou por engenheiros da operação de derrubada do PT do Paço de Santo André, aos quais interessa ampliar supostas motivações do resultado exatamente para retirar o placar surpreendente da lógica de guerra de guerrilhas muito bem planejada e executada.
Segunda-feira teremos o terceiro capítulo desta série que pretende desvendar os mistérios que cercam a maior zebra eleitoral do segundo turno no Brasil.