Recolho destes arquivos, exatamente de 22 de março do ano passado, um texto que produzi sobre um Santo André que vai deixar saudade, aquele Santo André vice-campeão paulista em finais diante do Santos. Decido comparar com o Santo André de agora, que vai deixar muitas dores. O artigo integral está nesta revista eletrônica, mas vou confrontá-lo em vários trechos com estes dias e com tudo o que já escrevi nesta temporada da Série A do Campeonato Paulista.
Qual é o objetivo desse novo trabalho? Sem delongas: mostrar aos leitores que por mais que me oponha aos métodos diretivos de Ronan Maria Pinto, presidente da empresa que administra o Ramalhão, não misturo as coisas.
Cheguei ao estágio de maturidade profissional que não me permite desarranjos biliares. Ronan Maria Pinto é o suprassumo do que me oponho como perfil de dirigente esportivo, mas não me permitiria raciocinar com o fígado, como alguns imbecis de memória curta e língua grande pretendem fazer crer entre outras razões como tentativa de desclassificação de quem não conseguem calar.
Vamos então a alguns trechos do texto que escrevi há exatamente um ano sob o título “Santo André e São Caetano atingem limites diferentes no campeonato”, confrontando-os com a realidade destes dias. Faço apenas um adendo: vou retirar o São Caetano da análise porque esse não é o caso deste artigo.
Escrevi há um ano atrás:
Restando quatro rodadas para o encerramento da fase classificatória da Série A do Campeonato Paulista, a conclusão é quase óbvia mas nem por isso dispensável de exposição: o Santo André atingiu o limite máximo do estado da arte que lhe permite tanto a estrutura organizacional como o potencial individual e coletivo. (…) Não é por outra razão que o Santo André já é praticamente semifinalista do Campeonato Paulista. (…) O Santo André joga com a certeza de que o gol adversário é apenas um detalhe, alcançável a qualquer momento. (…) O Santo André despreza com certa molequice cuidados maiores com o sistema defensivo. É sempre um desafio ao Santo André estar atrás no placar. (…) O Santo André está tão avantajado em auto-estima que seria desnecessário liquidar em apenas 10 minutos o jogo com o Bragantino. A vitória viria de qualquer forma. (…) Bem ao contrário (do São Caetano) o Santo André transmite a sensação de que é programado tecnologicamente para manter o ritmo do começo ao fim. (…) O Santo André joga todo o tempo por aproximação, e melhorou muito pela direita com o mais técnico Cicinho no lugar do robótico Rômulo. (…) O limite máximo de potencialidade do Santo André nesta temporada, com as condições de que dispõe, não é chutometria. Esse patamar implica dizer que a equipe não pode ser desconsiderada na luta pelo título paulista, embora as circunstâncias de mata-mata sejam outras. Tudo começa do zero, ou do quase zero. A literatura esportiva está repleta de exemplos de equipes que chegaram à fase decisiva muito à frente de adversários que só se garantiram em cima da hora e o que se viu foram resultados surpreendentes. (…) Santo André e São Caetano adotam modelos antagônicos. O primeiro é mais versátil, mais leve, mais veloz.
Agora, um resumo com outras palavras do que já escrevi sobre o Santo André depois de 14 rodadas da Série A do Campeonato Paulista deste ano.
Trata-se de um time que lembra um saco de gatos, uma Torre de Babel, qualquer coisa que se assemelhe a uma bagunça generalizada. As individualidades de destaque, se existirem de fato, sucumbem diante de tantas indefinições que marcam o grupo, perdido entre defender em bloco e atacar monotonamente em esticadas longas para a corrida desenfreada de dois atacantes rápidos que sobraram, depois de tantos outros que passaram por experiências desastrosas. Nada, absolutamente nada daquele time que encantou o Brasil nos dois jogos finais contra o Santos sobrou depois de 360 dias. É um candidatíssimo mais que garantido à Série B do Paulista do ano que vem, depois de rebaixado à Série C do Brasileiro no segundo semestre do ano passado, desmontado que fora logo após o sucesso no Paulista.
A maior diferença que separa este jornalista e Ronan Maria Pinto é que não tenho compromisso com qualquer grupo de situação ou oposição do Ramalhão, enquanto o presidente da Saged, empresa que administra o futebol da cidade, adora serpentinas de paparicadores de ocasião. Não frequento botecos nem restaurantes finos, muito menos reuniões às escondidas, para golpeá-lo com realidades que precisam ser levadas ao público. Minha tribuna é este espaço digital, com toda a franqueza e transparência, sem vínculo com qualquer facção. Jogo o jogo limpo, sem intermediários.
Ronan Maria Pinto corre celeremente em direção ao título de pior presidente que a história do Santo André já reservou não porque está ensaiando o terceiro rebaixamento em quatro anos, um recorde inigualável, mas porque prometeu o céu e está entregando o inferno com autoritarismo de punhos de renda.
Apenas um adendo final sobre o Santo André vice-campeão paulista: muito antes de qualquer outro jornalista (os arquivos estão aí, basta consultá-los) cantei a bola sobre o sucesso da equipe. É apenas questão de observação. Os maiores problemas do jornalismo diário, como já escrevi, são o emburrecimento e o embrutecimento. Querem um exemplo? Não vi em um jornal sequer de ontem que o pênalti marcado contra o São Caetano foi um equívoco do árbitro, primeiro porque não houve infração alguma, segundo porque, mesmo que o apitador interpretasse falta na encenação do centroavante Kleber, a suposta irregularidade teria ocorrido fora da área.
Só algumas emissoras de TV denunciaram o equívoco do árbitro, entre outras parcialidades, enquanto outras, caso da Globo, acobertaram.
Aliás, a TV Globo, à parte a qualidade dos profissionais, parece que vai aprofundar um dos mandamentos dessa nova fase de capturação do Clube dos 13: proteger ainda mais cada um de seus novos e exclusivos produtos quando se tratar de jogos contra adversários fora da lista e, mais, dedicar atenção de zeladoria de cristaleira quando seus parceiros de audiência e de marketing se enfrentarem.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André