O principal cartão postal esportivo da Província do Grande ABC continuará a ocupar um lugar de destaque nacional. A vitória do São Caetano ante o Criciúma na tarde de sábado no Estádio Anacleto Campanella evitou o rebaixamento à Série C do Campeonato Brasileiro. A última vaga ficou com o cearense Icasa. Foi um sufoco até a última rodada, mas o São Caetano superou as dificuldades. A vitória épica na rodada anterior num Barradão lotado ante um Vitória que já comemorava volta à Série A foi o passaporte à salvação porque colocou o destino do campeonato sob controle do Azulão.
Mais que esmiuçar as razões que levaram o São Caetano a realizar uma temporada abaixo da expectativa é tentar entender como fazer do passado recente uma ligação diferente com o futuro.
Há muitas explicações que poderiam ser enfileiradas para explicar a temporada de um São Caetano que não chegou entre os oito finalistas da Série A do Campeonato Paulista e um São Caetano que escapou do pesadelo da Série C do Brasileiro.
Como não faltam padrinhos para os vencedores e os responsáveis pelos percalços desaparecem, o São Caetano terá de digerir com realismo uma temporada senão para ser esquecida, pelo menos para servir de aprendizado. Mas, dos males o menor: contrapondo-se à decepção de não ter chegado aos objetivos traçados, pelo menos livrou-se de mergulhar no fracasso. Tanto no Paulista como no Brasileiro o São Caetano foi incomodado pelo rebaixamento. Mais no segundo semestre, é claro.
Talvez a decisão mais complicada nos próximos dias que o São Caetano terá de tomar refere-se à continuidade ou não dos trabalhos do técnico Márcio Araújo. Há uma dualidade de valores a envolvê-lo: ele ajudou a salvar a equipe do rebaixamento, conquistando 27 dos 51 dos pontos disputados, performance que colocaria a equipe em segundo lugar se o rendimento de 60% dos pontos disputados fosse extrapolado a todo o campeonato. Por outro lado, o São Caetano não conseguiu, exceto em alguns poucos jogos, tornar-se uma equipe taticamente confiável. O Azulão jogou tanto do Campeonato Paulista quanto da Série B do Brasileiro muito abaixo da soma das qualidades individuais.
Instabilidade demais
Por mais que os resultados tentem salvaguardar Márcio Araújo, a qualidade do futebol não foi nada diferente do que aplicaram os treinadores que o antecederam. O São Caetano foi previsível durante toda a temporada: alternou alguns jogos não mais que razoáveis com uma maioria frustrante. As grandes atuações foram exceção à regra. E tudo porque não registrou uma marca tática definida. Fez e sofreu muitos gols.
A vitória dramática ante do Criciúma, sábado passado, não mudou esse enredo. Quando o primeiro tempo terminou em zero a zero, a preocupação estava dividida com o empate que a Portuguesa arrancava do Icasa. Os resultados combinados salvariam o São Caetano. Quando a Portuguesa fez 1 a 0 e logo depois 2 a 0, o peso da responsabilidade do Azulão foi atenuado. O São Caetano fez um gol aos 22 minutos com Souza, ocupando pela primeira vez a função de centroavante, ele que vinha atuando como terceiro volante mais avançado. Era o melhor do time e saiu logo em seguida ao gol, por sentir contusão. O passe em diagonal de Geovane, outro destaque da equipe, foi perfeito.
Os persistentes erros de posicionamento mantiveram o São Caetano abaixo do rendimento desejado. Para quem dependia das próprias forças para fugir do descenso, a ausência de marcação mais forte desde a saída de bola do adversário era inexplicável. O São Caetano jogava num ritmo excessivamente liberal. Recuava para marcar o adversário em seu campo.
Defesa, meio de campo e ataque eram setores estanques, sem sinergia. Isso demanda maior desgaste físico. Jogadas por aproximação foram raras. Excedeu-se a equipe em lançamentos isolados. Faltou mais uma vez volume de jogo e aquele ritmo de organização ofensiva que começa com um articulador e termina com alguma jogada mais aguda.
Centroavante faz falta
Sem o contundido Ailton, de novo Kleber foi escalado para a função. E de novo apareceu em jogadas individuais, mas sem dinamismo para dar velocidade ao ataque ou engenhosidade nos avanços dos laterais. Antonio Flávio e Geovane movimentaram-se muito, tentaram organizar as jogadas, mas nenhum deles conseguiu preencher o espaço de centroavante. Nunes e Ricardo Xavier, especialistas, estão contundidos.
Sem consistência ofensiva e excessivamente generoso na marcação, o São Caetano passou o tempo todo chamando o adversário para seu campo. Só melhorou depois do gol. O Criciúma desorganizou-se defensivamente e passou a dar os contragolpes ao adversário.
O 15º lugar do São Caetano ao final do campeonato foi a pior colocação no sexto ano seguido em que a equipe disputou a Série B do Brasileiro. Jamais até então foi tão ameaçada de rebaixamento, depois de passar, em distintas fases, mais de 80 dias na zona da degola. Uma queda que chegou a ser iminente. A Série B nunca exigiu tantos pontos à fuga do rebaixamento e tudo parecia conspirar para a derrocada. Até a chegada de Márcio Araújo.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André