Esportes

O que tem a ver a morte de Celso
Daniel e o silêncio no Ramalhão?

DANIEL LIMA - 29/11/2011

O que existe em comum entre a morte do então prefeito CelsoDaniel, em janeiro de 2002, e a paralisia institucional combinada com ofracasso do futebol em Santo André, representado pelo Ramalhão, chama-se Ronan MariaPinto, presidente da empresa que terceirizou a equipe e dono do Diário doGrande ABC.


 


A sobrevivência do fantasma da suposta participação doempresário na morte de Celso Daniel, gerada por um contragolpe na versão maisque comprovada pela polícia de crime comum, alimenta uma engrenagem psicossocialde afastamento da maioria que tem o Ramalhão no coração.


 


Não é fácil escrever sobre a relação entre a morte de CelsoDaniel, o presente mais recente do Ramalhão e a influência de Ronan MariaPinto. Mas o dever jornalístico está acima de tudo. Seria estúpido ao cubo senão o fizesse depois de ouvir o que ouvi ontem à noite de forma maismassificada, mais concentrada, mais convencedora.


 


Pior presidente da história de 44 anos do Ramalhão, o donodo Diário do Grande ABC é um dos que pagam o pato das idiossincrasias popularespor ter sido enfiado no enredo do crime que vitimou o maior prefeito regionalque o outrora Grande ABC e a atual Província do Grande ABC já teve.


 


Trata-se, nesse caso específico, de baita injustiça comRonan Maria Pinto. Paradoxalmente, a propagação popular de participação noassassinato, que lhe dá muitas dores de cabeça ainda hoje, o protege de umareação coordenada, senão inconformada, de gente que tem o Ramalhão no peito ena alma.


 


Dono de um botequim


 


Ronan Maria Pinto dirige o Saged (Santo André GestãoDesportiva e Empresarial) como um dono de botequim. Ignora tudo que se refere àhistória do Ramalhão. É incapaz de compartilhar ações. Dizer a ele que asolução do Ramalhão está em algo semelhante ao que o Santos empreendeu, com umagestão colegiada de verdade, ganha a forma de provocação. Ronan Maria Pinto tempoder e dinheiro e por isso mesmo entende que deve prevalecer sempre à frentedo Ramalhão.


 


A proteção fomentada pela fama de matador, porque é assimque boa parte da sociedade o qualifica, ajuda a fortalecê-lo e também aenfraquecê-lo, porque, como se sabe, não há mágica num mundo tão competitivo:ou se trabalha em conjunto, em equipe, ou os custos elevam-se ainda mais e ofracasso é a porta de entrada das possibilidades mais viáveis.


 


Convidado que fui a participar ontem à noite na sede doEsporte Clube Santo André de uma reunião do Conselho Deliberativo da agremiaçãoque gerou o Ramalhão, sugeri que a instituição tenha mais densidadeparticipativa nas assembléias do Saged.


 


O presidente do Conselho Deliberativo, Jairo Livolis,durante muitos anos principal dirigente do Esporte Clube Santo André, marcouaquele encontro para comemorar 30 anos do que chama de maior conquista doRamalhão, o título da então Segunda Divisão do futebol paulista, ante o XV dePiracicaba.


 


Os Baixinhos Frenéticos (Da Silva, Bona, Arnaldinho eFernandinho), e o centroavante Lance, autor de um gol histórico ante o Saad, em São Caetano, naquelatemporada, foram homenageados. Chamado a falar, emocionalizei o discurso porqueé impossível reconstruir oralmente aqueles acontecimentos sem que a saudadebata no peito. E também é impossível deixar de cruzar os destinos do passado edo presente do Ramalhão.


 


A convocatória que fiz aos conselheiros é simples: como oEsporte Clube Santo André tem cerca de 20% nas ações do Saged, essa porçãoprecisa contar com a representação física de todos os conselheiros decididos aengajar-se na tentativa de recolocar nos eixos da responsabilidade coletiva umRamalhão controlado por um único e desastrado dirigente. Senti que a reação foiextraordinariamente favorável, mas não vou me iludir: existe uma barreira demedo que separa muitos conselheiros que me procuraram durante o jantar e adireção do Ramalhão.


 


A todos aqueles que expuseram receios de ações individuais,por conta dos riscos que correriam tendo como oponente o presidente do Saged,respondi que o caso Celso Daniel, sobre o qual escrevi milhões de caracteres, éuma fantasia quando os nomes de Ronan Maria Pinto, Klinger Sousa e Sérgio Gomesentram em campo. Seilá se os convenci.


 


Massa representativa


 


Certo mesmo é que o Conselho de Acionistas do Saged precisaser mais ativo e contar com muito mais representantes do Esporte Clube SantoAndré. Essa massa crítica de oposição aos rumos do Ramalhão é vital para emprimeira instância impedir o aprofundamento da crise atual e, em seguida,resgatar a agremiação do controle de um dirigente que não consegue traçarperspectiva alguma que permita se pensar em algo que não seja uma nova fase de frustrações.


 


Por essas coisas do destino, o prefeito que mais contribuiupara o sucesso do Ramalhão, numa parceria que resultou na conquista da Taça SãoPaulo de Futebol Junior, no acesso à Série B do Campeonato Brasileiro e notítulo da Copa do Brasil em pleno Maracanã ante o Flamengo, é o mesmo prefeito cuja mortesegue a assombrar, quando não a acovardar, uma cidade inteira, sob umdissimulado mas real ambiente de inquietação social que tem em Ronan Maria Pinto,pela exposição pública que as funções que exerce demandam, o principalprotagonista.


 


Um protagonista por enquanto incapaz de mostrar valor comodirigente esportivo e muito distante de liderar uma publicação cujo presentenão se sustente apenas na tradição. Mas um protagonista, também, absolutamenteinocente naquele incidente


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