Somente santista incauto ou fanatizado demais poderia esperar outro resultado que não a goleada na final do Mundial de Clubes para o Barcelona. Os fanáticos acreditam em tudo, mas os incautos muitas vezes são instrumentalizados por terceiros. Principalmente pela Imprensa patrioteira. A humilhação que poderia ter números muito além dos
Colocar durante toda a semana Santos e Barcelona no mesmo patamar foi uma heresia que só teria de dar no que deu, ou seja, num desastre descomunal de expectativa frustrada. O tom das manchetes e dos noticiários dos jornais mais sérios colocava o Santos parelho ao Barcelona e Neymar em igualdades de condições com Messi.
O futebol brasileiro recebeu ontem uma lição do time espanhol. O Santos pagou o pato, mas qualquer um de nossos melhores times teria passado pelo mesmo vexame, ou pior ainda.
Somente quem ignora o futebol internacional e principalmente o deslumbrante Barcelona seria capaz de acreditar em jogo equilibrado. A força do marketing, que comanda o futebol em todas as instâncias nacionais, principalmente a TV, não pode ser um convite à estupidez.
Nosso futebol é de segunda linha na hierarquia dos clubes, principalmente quando estão em confronto os territórios europeus que mais investem em contratações, casos de Espanha, Itália e Inglaterra. Isso significa que o Santos seria coadjuvante fosse quem fosse o finalista europeu. Menos o Barcelona, evidentemente. O time de Messi, Xavi, Inieste e tantos outros é de outra galáxia e escanteou o Santos ao papel quase inexpressivo de figurante.
Costumo dizer que o Barcelona joga futebol, enquanto os demais times do mundo pensam que jogam futebol.
O grande equívoco da imprensa patrioteira é que levou muita gente a acreditar que o Santos teria condições semelhantes de vitória às do Barcelona.
Caçapa cantada
Sei muito bem a resposta que recebi -- um olhar fulminante -- de um amigo santista quando quinta-feira, em almoço, lhe indiquei que o Santos de domingo contra o Barcelona seria o Al-Sadd que acabara de ser goleada por
Também num bolo familiar, apostei num
Não vou desfilar uma porção de vetores que fazem do Barcelona o time dos sonhos de qualquer torcedor. Prefiro direcionar os faróis de alguma luminosidade crítica à Imprensa. O ambiente de torcida organizada é um escândalo. Pratica-se jornalismo subserviente demais ao marketing, ao bom-mocismo, à industrialização da hipocrisia.
Mais entretenimento
Caímos num modelo de jornalismo de entretenimento que ultrapassa todos os limites críticos. Não é crime informar aos leitores, ouvintes e telespectadores que o Santos teria ante o Barcelona missão quase impossível, de conquistar o título. Que terminar o jogo com uma derrota discreta seria um baita resultado. Essa era a lógica.
Exceto um ou outro palhaço travestido de alguma coisa que lembra jornalismo e que pauta comportamento principalmente à frente da TV com o deboche típico dos ignorantes que só olham para os resultados do Ibope, o que prevalece é a crítica de ocasião. Há uma tendência generalizada do jornalismo à acomodação, a seguir a manada. Monitorados permanentemente pelas redes sociais, os cronistas esportivos têm horror à contrariedade e à sinceridade. Fazem o jogo que interessa à platéia. Submetidos a uma prestação de contas do que falaram antes do jogo de ontem, seriam sumariamente levados à desmoralização.
Como dizer que o Barcelona era favorito absoluto ao título, que Neymar é bom para caramba mas não chega ainda aos pés de Messi, entre outras verdades incontestáveis, se o patrulhamento eletrônico e mesmo dos companheiros de trabalho se manifestará demagogicamente?
Pois é assim que funciona em tantas outras esferas a atividade jornalística. Os medíocres plasmam determinadas definições e agem severamente para desqualificar o bom senso. Não somos o País do jeitinho por acaso. É uma cultura nacional que vai muito além da consagração de dar um nó numa dificuldade burocrática ou legal qualquer. É um modus operandi que solidifica em muitos casos o mau-caratismo. O triunfalismo é o esconderijo dos mal-ajambrados. Já conheço esse filme, principalmente fora das quatro linhas. Na economia regional, por exemplo. A desindustrialização que desfraldei com estudos minuciosos que o diga.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André