O prefeito de São Bernardo começa o último ano do mandato conquistado nas eleições de 2008 com ampla vantagem estratégico-eleitoral sobre o prefeito de Santo André, igualmente sufragado naquela temporada. A cotação de Luiz Marinho na bolsa de apostas à reeleição é muito maior que a de Aidan Ravin. O que tem uma coisa a ver com a outra? Que Luiz Marinho pode ajudar a liquidar a eleição em Santo André favoravelmente ao também petista Carlos Grana.
Decidir o jogo no primeiro turno em São Bernardo e colocar a militância e as celebridades vermelhinhas para liquidar o jogo no segundo turno em Santo André é o plano perfeito do PT para construir um resultado aparentemente improvável, mas não descartável: imprimir o resultado regional de 6 a 1 nas próximas eleições. Somente São Caetano estaria fora do cesto da goleada.
A perspectiva de ganhar o jogo no primeiro turno em São Bernardo é mais que viável. Haja vista que a oposição está tão perdida quanto o Santos ante o Barcelona.
Tão perdidos estão os oposionistas em São Bernardo que o deputado federal William Dib, prefeito duas vezes, já costurou o nome do político que vai para o sacrifício de apanhar sem reclamar: o vereador Admir Ferro.
Os deputados estaduais Orlando Morando e Alex Manente fazem firulas verbais, principalmente o segundo, mas tudo não passa de encenação. Eles têm mesmo é horror à possibilidade de massacre que comprometeria o futuro, porque ambos tem o futuro como aliados, jovens que são.
Governador cuidadoso
Tudo indica que os oposicionistas em São Bernardo não terão suporte financeiro de campanha do governo do Estado. Primeiro porque disputa eleitoral é como aplicação financeira: avalia-se com extremo cuidado e racionalidade a possibilidade de sucesso para modular os investimentos. Quando a aplicação se torna contraproducente, de custo-benefício arriscadíssimo, os recursos financeiros mínguam.
O deputado estadual Alex Manente, aparentemente mais interessado na disputa com Luiz Marinho do que Orlando Morando, está apenas jogando para a platéia, como bom jogador que é. Sabe que, salvo excepcionalidades locais ou macronacionais que possam afetar os situacionistas, não existe luz no final do túnel — até porque não se está no túnel, mas num buraco sem fim.
Na vizinha Santo André, o prefeito Aidan Ravin, que nem entre os mais efusivos partidários alcança índices de aprovação de Luiz Marinho, o sonho é contar com o apoio do vereador Paulinho Serra para alavancar votos da classe média tradicional em densidade suficiente à polarização da disputa com o petista Carlos Grana, levando a definição também ao primeiro turno. Com isso, fugiria da armadilha do adversário, reforçado pelo grupo de militantes petistas de São Bernardo.
Salles no jogo
É claro que Aidan Ravin desconsidera uma quarta candidatura, do advogado Raimundo Salles, que, reduzindo o impacto da importância de Paulinho Serra principalmente na classe média, também poderá ter votos suficientes para levar a disputa ao segundo turno.
A dificuldade de um acerto que conduza Paulinho Serra às hostes do governo Aidan Ravin é enorme. O peessedebista parece que finalmente acordou para o fato de que precisa sair das sombras eleitorais como eterno figurante.
Paulinho Serra poderá ter num eventual segundo turno em Santo André uma força semelhante a de Alex Manente nas eleições de 2008 em São Bernardo. Manente teve o passe valorizadíssimo pelo finalista Luiz Marinho, contribuindo para a vitória no turno decisivo.
A diferença, que torna a equação mais problemática para Paulinho Serra, é que novamente aparece a potencialidade de Raimundo Salles como possível adversário à concentração de votos complementares decisivos do segundo turno.
Não é por outra razão que Raimundo Salles há muito está entre os aliados do PT em Santo André. É uma espécie de antídoto à influência decisiva de Paulinho Serra num segundo turno que envolveria Carlos Grana e Aidan Ravin. Ou de um concerto dos situacionistas que procure definir o jogo no primeiro turno. Raimundo Salles é uma reserva de votos que reduziria o impacto eleitoral de Paulinho Serra.
Por enquanto, algumas pesquisas eleitorais conduzem a resultados que colocam Paulinho Serra como terceira via e Raimundo Salles na condição de quarta via. Lá na frente, de acordo com o contexto eleitoral, a ordem dos fatores não alteraria o produto final: a disputa pela Prefeitura passaria longe da polarização pretendida por Aidan Ravin. E uma quarta via amenizaria a força supostamente desequilibradora de uma terceira via. Aí a militância petista poderia fazer a diferença. Tanto quanto o desembarque de altos coturnos do governo federal. Sem contar o ex-presidente Lula da Silva, é claro, avalista da candidatura de Carlos Grana. Avalista não: incentivador e monitorador.
Interpretando o noticiário
Convém aos leitores acompanharem o noticiário político regional com a agudeza interpretativa que os jornais, de maneira geral, ignoram por desconhecimento ou interesses outros. Na maioria dos casos, o que está impresso em forma de declarações de candidatos e respectivas assessorias não é o que de fato se pretende. A dissimulação é uma das armas de disputas eleitorais.
O jogo de cena prevalece. Certo mesmo é que o jogo em Santo André provavelmente jamais esteve tão vinculado ao resultado do jogo em São Bernardo, porque a força da militância petista da capital política e econômica da Província do Grande ABC se mostraria avassaladora.
Já surgiram algumas tentativas calibradamente preparadas para tentar queimar a imagem de Carlos Grana. Caso específico da boataria que coloca o ex-integrante do Fórum da Cidadania do Grande ABC na corda bamba da viabilidade eleitoral, a ponto de correr o risco de ser substituído pela ministra Miriam Belchior. Tudo bobagem. Nestas alturas do campeonato Carlos Grana reúne números mais favoráveis nas sondagens eleitorais do que Dilma Rousseff à mesma época, então candidata à Presidência da República.
A fragilização da candidatura de Carlos Grana nas páginas impressas é apenas ressonância de idiossincrasias de gabinetes situacionistas na Prefeitura de Santo André. Tudo absolutamente dentro da lógica do jogo a ser jogado, de desgaste do adversário. Mas não pode ser levada a sério.
Sério mesmo e sem manipulação é que o jogo em Santo André depende, entre tantos fatores, do jogo em São Bernardo. E o jogo eleitoral em São Bernardo é francamente favorável ao PT. Luiz Marinho, santista de coração, se sente confortável na posição do Barcelona. A oposição é o Santos. Em Santo André, por enquanto, o jogo eleitoral lembra o último Campeonato Brasileiro. Pegadíssimo demais. O que é um péssimo resultado para quem está no comando do Paço Municipal e enfrenta um adversário que, salvo algumas exceções por conta de brigas internas, costuma crescer na reta de chegada.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)