Esportes

Ramalhão sai de campo há quatro
anos. E entra o fracassado Saged

DANIEL LIMA - 12/12/2011

A partir de hoje vou suprimir o nome do Esporte Clube Santo André ou da variável Ramalhão quando me referir ao futebol da cidade. A identificação será exclusivamente Saged, relativo à empresa que terceirizou o futebol da cidade com péssimos resultados dentro e fora de campo. Essa é a melhor maneira de protestar. Algo análogo e com a mesma carga de provocação e desencanto que uso ao denominar República do Grande ABC o outrora mobilizador Grande ABC.


 


Somente neste final de semana sem futebol (sem futebol?) me dei conta de que alguma coisa mais aguda precisaria ser exposta para caracterizar as diferenças do Santo André ou o Ramalhão do passado e o Saged dos últimos quatro anos. Querem algo mais sem graça, mais descomprometido com o passado, mais interesseiro, mais omisso, mais irresponsável e tantos outros mais que Saged, que vem a ser juridicamente Santo André Gestão Empresarial e Desportiva?


 


Como a sociedade esportiva de Santo André não toma juízo e deixa-se intimidar psicologicamente pelo empresário Ronan Maria Pinto, dono do Diário do Grande ABC e do Saged, não resta alternativa senão imprimir aqui a marca Saged sempre que me referir ao futebol da cidade.


 


Simplificação didática


 


Encontrei uma maneira de simplificar a comunicação com os leitores porque tenho me desdobrado para tornar compreensível a informação do que aconteceu com o futebol de Santo André nos últimos anos. Referia-me à Ramalhão quando se tratava especificamente da equipe de futebol; tratava do Esporte Clube Santo André quando a questão envolvia o clube sediado no Parque Jaçatuba; e identificava o Saged quando estava em debate a organização empresarial que privatizou o futebol da cidade.


 


Agora simplifico tudo porque o time que vai entrar em campo no próximo ano para disputar a Série B do Campeonato Paulista (Série B que a maioria chama de Série A-2) e a Série C do Campeonato Brasileiro é o Saged. A tabela da Federação Paulista de Futebol chama de Esporte Clube Santo André apenas por formalidade jurídica. Porque, de fato, é Saged.


 


As torcidas organizadas do desaparecido Ramalhão deveriam levar faixas aos estádios onde o time jogar a partir de janeiro substituindo a denominação tradicional e o dístico que remete ao brasão da cidade por algo com um cifrão, símbolo de dinheiro, e a denominação "Saged". Essa é a dura e inexorável realidade. Que só será desmontada aqui neste espaço no dia em que o futebol de Santo André voltar a ser futebol de Santo André, não uma representação absolutista que jogou no lixo um projeto que poderia ter representado a redenção do Ramalhão.


 


Anotem que eventual mudança de tratamento não está limitada ao que ocorrer nos gramados, porque seria muito pouco. Ronan Maria Pinto já provou que é capaz de colocar o time nas alturas, temporariamente, como o fez ao chegar à Série A do Campeonato Brasileiro e, em seguida, mergulhar na Série D, salva apenas por incompetência administrativa de um adversário menos sofrível em campo.


 


Somente a recuperação fora de campo vai fazer com que este jornalista retome à denominação Ramalhão ou Santo André, quando se referir ao futebol da cidade que desde 1967 é representado em diversas competições estaduais e nacionais. Anabolismos financeiros com ressacas monumentais dentro e fora de campo não resolvem nada.


 


Ninguém poderá me atribuir intolerância. Acho que demorei um bocado para tomar essa decisão. Afinal, foram quatro rebaixamentos seguidos nos gramados e uma derrapada de tamanho ainda não mensurado na gestão mequetrefe. Ou alguém tem coragem de tentar mistificar a realidade feita de um Saged mais para lá de Bagdá em matéria de finanças e de estrutura?


 


Sobrevida até quando?


 


Fosse Ronan Maria Pinto qualquer coisa, menos dono do Diário do Grande ABC, o mandato à frente do Saged e do futebol da cidade já teria sido cassado há muito tempo. A sobrevida do Saged se dá exclusivamente porque muitos temem o empresário travestido de dirigente esportivo. Há informações, inclusive, que dão conta de ameaças a acionistas do Saged caso se manifestem publicamente. Não existe unidade alguma entre os acionistas há muito tempo. O controle acionário mantido por Ronan Maria Pinto é monolítico.


 


Por isso e por tudo que já escrevi sobre a degringolada do futebol de Santo André (experimentem consultar o volume de textos reunidos na seção "Esportes", além dos links mencionados ao final deste artigo) recuso terminantemente a mencionar o futebol senão como Saged.


 


É o Saged que disputará a Série B do Paulista, a Série C do Brasileiro, é o Saged quem contratada, quem dispensa. Foi o Saged vice-campeão paulista no ano passado com um time fantástico. Foi o Saged que caiu pelas tabelas nas competições nacionais. Tudo é o Saged. Esqueçam o Santo André, assaltado em sua identidade. O que vai sobrar para o Esporte Clube Santo André, como já está sobrando, são as complicações trabalhistas e fiscais que o Saged não cumprir.


 


Juridicamente, o Esporte Clube Santo André só sobrevive no futebol brasileiro por força da legislação em vigor. Todo caldo de cultura que o alimentou ao longo de quatro décadas começou a entornar em 2007 quando Ronan Maria Pinto deu o golpe de Estado que retirou o então presidente Celso Luiz de Almeida e o ex-presidente Jairo Livolis do comando do Saged.


 


Quem conhece a trajetória do Santo André, do Ramalhão, não subscreve nada que entre nos gramados e também nada que saia das entranhas supostamente empresariais do Saged como extensão de 40 anos de uma agremiação que poderia até não ser a fina flor de institucionalidade, mas estava a léguas de distância do centralismo mercantilista autofágico dos últimos anos.


 


A melhor resposta que a sociedade poderia encontrar para se defender de tantos abusos é fazer como este jornalista: esqueçam o Santo André, deletem o Ramalhão. Que fique o Saged, apenas o Saged. Sintomaticamente, premonitoriamente, marca de concessionária de água e esgoto.


 


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