Os dirigentes do São Bernardo vão negar, os jogadores dirão que não se trata de nada disso, mas o ambiente para o clássico desta quarta-feira à noite no Estádio Primeiro de Maio entre São Bernardo e Saged, ex-Ramalhão, terá tempero especial: o time da casa deu uma reviravolta na Série B do Campeonato Paulista mas não esqueceu o desdém com que foi tratado nas páginas do Diário do Grande ABC, do mesmo Diário do Grande ABC do dono do Saged, Ronan Maria Pinto. Por isso, mais que os três pontos, há quem considere o jogo um grande acerto de contas. O Tigre, como é chamado o time do presidente Luiz Fernando Teixeira, quer dar uma sova no antigo Ramalhão. A premiação seria especial. Tudo provavelmente será desmentido, mas o ambiente é de expectativa acima do que naturalmente se reserva a um clássico.
E a julgar pelas últimas cinco rodadas, quando o São Bernardo fez os 15 pontos possíveis e o Saged somente um, talvez apenas o rótulo de clássico poderá aliviar a barra do time visitante dentro de campo. Mas o São Bernardo quer mostrar a diferença que distancia as duas equipes. Há 20 dias o Diário do Grande ABC fez pouco caso do São Bernardo e levou aos céus o Saged. O São Bernardo ocupava a lanterninha, sem qualquer ponto ganho, e o Saged era o terceiro colocado, com 11 pontos ganhos. Agora, o São Bernardo está com 15 pontos em oitavo lugar e o Saged André com 12 em 15o, a apenas três pontos da zona de rebaixamento.
Fazer do jogo com o Saged um confronto sem ressentimentos exigirá esforços especiais dos dirigentes do São Bernardo. Todo o projeto desenhado para a equipe voltar à Série A do Campeonato Paulista, depois da experiência malsucedida do ano passado, quando foi rebaixado na última rodada por saldo de gols, acabou menosprezado pela conotação de consagração precoce do Saged e de despreparo diretivo do São Bernardo, quando o Diário do Grande ABC publicou a matéria ao final da quinta rodada.
Código de ética
A reportagem não teria desdobramento significativo algum e até poderia ser catalogada como simples precipitação, porque apenas 27% da competição havia sido disputados e sentenças definitivas não pareciam apropriadas. Seria apenas um grave equívoco jornalístico. O problema é que o dono do jornal e o dono do Saged têm a mesma identidade: o empresário Ronan Maria Pinto, visto com ressalvas
As relações de Ronan Maria Pinto com a Administração Luiz Marinho jamais foram das melhores. São tempestades entremeadas de bonanças nem sempre suportáveis. O São Bernardo é um filho esportivo dileto da Administração Luiz Marinho. O projeto de dar visibilidade ao petista que está de olho no governo do Estado em 2018 também passa por um São Bernardo na Série A do Campeonato Paulista e pelo menos na Série B do Campeonato Brasileiro.
Tanto é verdade que o Estádio Primeiro de Maio, joia plantada na Vila Euclides e onde Lula da Silva iniciou atividades midiáticas comandando o movimento sindical que desafiou a Ditadura Militar, foi completamente repaginado. Mais um lance de arquibancada fechará completamente uma obra de porte. Um local apropriado a grandes espetáculos de futebol. Até prova em contrário, São Bernardo não pretende transformar o Primeiro de Maio em opção para mando de jogos de equipes grandes do futebol paulista. Por isso, subir na hierarquia do futebol e levar milhares de torcedores, como no ano passado, com campanhas motivacionais especiais, formam uma proposta que sofreu revés que se pretende temporário. Voltar à Série A Paulista é questão de honra.
Daí a reportagem do Diário do Grande ABC, entendida como medição de forças extra-campo do Saged de Ronan Maria Pinto, acabou mexendo com os brios do São Bernardo. Montou-se um pacto de acesso a qualquer custo. Reforços foram contratados após a chegada do técnico Luciano Dias, colecionador de títulos na divisão, e até mesmo as premiações foram aumentadas. Passar o Saged na classificação era fundamental como resposta. A reviravolta veio bem antes do tempo. Agora o projeto é outro: o jogo desta quarta-feira poderá arremeter o São Bernardo entre os quatro primeiros colocados e jogar o Saged nas trevas da ameaça ainda maior de rebaixamento.
Cobrança de dívida
Questionamentos sobre a temperatura que se espera no clássico desta quarta-feira terão respostas cordiais, diplomáticas. Nada que tenha qualquer parentesco com o ambiente de vestiários. O São Bernardo quer entrar em campo com a vantagem de quem cobra uma dívida e o devedor, no caso o Saged, não teria razão alguma
A polêmica reportagem de endeusamento do Saged e de demonização do São Bernardo incorreu também no pecado capital de desprezar a história recente do Saged, tratado como manancial de qualificações que fariam corar os são-paulinos que até recentemente ganhavam quase todos os títulos que disputavam. O texto não fez qualquer menção aos quatro rebaixamentos desde que o Ramalhão foi substituído pelo Saged, empresa privada sob o controle exclusivo de Ronan Maria Pinto. O quarto rebaixamento, à Série C do Campeonato Brasileiro, só não se consumou legalmente porque um adversário escalou irregularmente um jogador e foi punido com a perda de seis pontos. Dentro de campo o Saged caiu.
O clássico desta quarta-feira no Estádio Primeiro de Maio chega num momento bastante delicado para o Saged que, de um dos autoproclamados favoritos ao retorno à Série A do Paulista, já se incomoda com a zona de rebaixamento. Já para o São Bernardo, o objetivo na competição passou a ser outro: ficar entre os quatro primeiros e disputar a fase de mata-matas com vantagens.
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