Esportes

Um clássico de pouco futebol, muita
luta e um resultado ruim para os dois

DANIEL LIMA - 01/03/2012

São Bernardo e Saged (ex-Ramalhão) receberam o castigo que mereceram ontem à noite no Estádio Primeiro de Maio: o empate de 1 a 1 num jogo de baixíssimo nível técnico e tático retirou o time da casa do G-8, o grupo dos oito times que disputarão a etapa final da Série B do Campeonato Paulista, e aproximou ainda mais o time de Ronan Maria Pinto da zona de rebaixamento. Os cinco mil torcedores viram dois gols de bola parada e um amontoado de jogadores no meio de campo. Ao São Bernardo faltou organização. Ao Saged sobrou dedicação, principalmente após reduzir-se a 10 jogadores. Tudo por conta de expulsão de um zagueiro mal colocado numa bola lançada em profundidade no final do primeiro tempo.
 
A Série B do Campeonato Paulista comporta elasticidade avaliativa que tem parentesco muito próximo com a dificuldade de analisar os competidores. O apagão da mídia de olho na Série A mantém as equipes longe dos holofotes. Sentenças definitivas podem se traduzir em monumentais equívocos. Dizer, por exemplo, que o São Bernardo é um time muito abaixo do que gasta, com a força da Administração Luiz Marinho a empurrá-lo, seria uma precipitação se a frase basear-se apenas no jogo de ontem, mas também pode ser uma verdade inquestionável.
 
Tudo pode acontecer
 
Já o Saged, de investimento bem inferior e uma administração tão confusa que após 10 rodadas descobriu 10 jogadores abaixo do condicionamento físico, afastando-os para treinamentos à parte, esperar mais que a fuga do descenso é distorcer os fatos. Mas tudo pode acontecer porque poucos podem assegurar  que os principais concorrentes sejam bem melhor estruturados e qualificados.
 
O festejado técnico do São Bernardo, Luciano Dias, por exemplo, tido e havido como um desbravador dos caminhos que levam equipes mais ambiciosas à Série A, cometeu erros táticos primários no clássico de ontem. O São Bernardo foi um time previsível porque estático, porque repetitivo nos lançamentos em profundidade, nos cruzamentos em diagonal, na dificuldade de preencher os espaços com volume de jogo. Dizer que o São Bernardo teve fluência técnico-tática seria demais. Em vez de elasticidade o time de Luciano Dias mostrou rigidez.
 
E seria muito difícil mesmo outro resultado. A escalação expunha conceitos e objetivos em choque. Para superar um adversário fechado como o Saged, com quatro zagueiros fixos, três volantes, um meia de armação e dois atacantes, não seriam dois atacantes fixos, Danielzinho e Ney Mineiro, e muito menos com Luciano Mandi recuado demais, a melhor alternativa. Todos esses jogadores requerem espaço terreno para exercitar explosão muscular bem superior ao apetrechamento técnico. Sem contar que os laterais erravam demais na saída de bola. O São Bernardo vivia da mobilidade do meio-campista Leo, bom de passe e de articulação, e de um Bady sempre inteligente na ocupação interna de espaços.
 
Outros tempos, outros tempos
 
Com esse panorama, o que esperar de um clássico a léguas de distância dos bons tempos em que o Santo André, não o Saged, e o Aliança e o São Bernardo, não este São Bernardo, faziam grandes espetáculos? Gol de bola parada, claro. E foi assim que o Santo André abriu o placar no primeiro tempo quando tinha o controle tático do jogo, embora o São Bernardo sugerisse domínio da bola. A expulsão de um zagueiro do Saged no final do primeiro tempo mudou o jogo na etapa final.
 
O São Bernardo fez o que se recomendava desde o início do jogo quando começou o segundo tempo: marcou a saída de bola, avançou o meio de campo e passou a contar com Luciano Mandi mais próximo da área. Mas cometia um erro que poderia ser fatal não fosse o Saged um amontoado de jogadores no sistema defensivo: os zagueiros permaneciam afastados do que sobrava do meio de campo. Um convite a contragolpes que o Saged demorava a engatar.
 
Com a pobreza técnica de Danielzinho e Ney Mineiro, com um Luciano Mandi a correr da bola, com atabalhoadas investidas dos alas, mesmo depois de mudanças que influíram no conjunto, o São Bernardo só poderia chegar mesmo ao gol de empate após cobrança de escanteio. Muito pouco e uma decepção para quem viu a equipe pela primeira vez na competição e se sentiu atraído após acompanhar uma recuperação estonteante nas rodadas anteriores, quando venceu cinco jogos seguidos.
 
Já o Saged somou apenas dois pontos nos últimos 21 disputados. É candidatíssimo ao rebaixamento, mas como a Série B é um festival de penumbras informativas e avaliativas, não se deve excluir até mesmo a possibilidade de a equipe voltar a disputar uma das primeiras oito colocações. Ou não é verdade que o bicho-papão Red Bull não vence há cinco rodadas e já tem a liderança ameaçada?
 
Certo mesmo é que a Segundona dos tempos em que o futebol brasileiro não havia descoberto o mercado exportador de pé-de-obra a levar centenas de jogadores embora, e também dos tempos em que a TV e o marketing publicitário não davam a menor bola ao esporte, o nível técnico era esbanjadoramente superior. Parece ter restado na Série B do Paulista nada além de uma maioria de jogadores esforçados, dedicados, mas que vive intensa disputa com aquele objeto redondo que evoca contraditórios sentimentos universais. Sim, a bola, tão pouco bem tratada no clássico de ontem.


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