Esportes

Azulão é uma família de classe média
estável sem preocupação com futuro

DANIEL LIMA - 02/03/2012

Depois de 11 rodadas e 13 pontos ganhos na Série A do Campeonato Paulista, o diagnóstico mais seguro sobre o perfil do São Caetano é simples e remete ao que se viu no ano passado na Série B do Campeonato Brasileiro, quando sofreu ameaça de rebaixamento: falta a vontade dos vencedores. O empate de ontem à noite no Estádio Anacleto Campanella de 2 a 2 ante o Oeste de Itápolis comprovou o que se viu na maioria dos jogos anteriores: o Azulão joga a maior parte do tempo burocraticamente, sem o apetite de quem transforma cada metro quadrado em prato de comida.
 
Não fosse a qualidade individual da maioria dos jogadores, mesmo assim comprometida por baixo rendimento coletivo, o São Caetano estaria em maus lençóis na competição. Sem contar que parece já definido o agrupamento de equipes que vão lutar para fugir das quatro últimas posições, que levarão à Série B: Comercial, Catanduvense, Botafogo e XV de Piracicaba perdem seguidamente e dão fôlego e tranquilidade a equipes como o São Caetano, que não se definem positivamente. É possível que com 18 pontos o Azulão esteja definitivamente fora da zona de rebaixamento. A projeção atual indica até menos pontos. O Comercial abre a zona de queda com apenas 21,2% de aproveitamento. Chegaria a 13 ao final da competição.
 
O empate com o Oeste poderia ter sido transformado em virada, depois de o São Caetano estar em desvantagem de 2 a 0 logo no início do segundo tempo. Quando se esperava que o apetite por vitória, demonstrado em 15 minutos no segundo tempo, fosse se acentuar ante um adversário descontrolado, o São Caetano voltou à rotina de fazer a bola rolar sem ambição.
 
Está faltando gás?
 
Há desconfiança de que o São Caetano está muito aquém do condicionamento físico esperado para quem participa do principal campeonato estadual do País. Não houve um jogo sequer da equipe em que se deu uniformidade de rendimento físico em nível elevado. Quanto muito, em raras situações, o time manteve razoável consumo de energia. O São Caetano é incapaz de sustentar equilíbrio durante os 90 minutos.
 
Só pode ser mesmo falta de perna a baixa de rendimento do atacante Geovane, um dos melhores da equipe. Diante do Oeste, Geovane dividiu o ataque com Isael, tendo como alimentadores ofensivos Ailton e Kleber, já que Marcelo Costa, o cérebro da equipe, foi abatido por desconforto muscular. Geovane errou demais durante todo o jogo de ontem. Sem reflexos, sem tempo de bola, sem movimentação, parecia cansado. E ainda perdeu um gol feito no último minuto, quando o lateral Vicente foi à linha de fundo e o deixou na cara do gol, na marca de pênalti. Geovane completou mal. Um lance típico de quem chegou sem fôlego e sem força para o arremate.
 
É possível que se passar por uma bateria de especialistas sem envolvimento direto com a comissão técnica o elenco do São Caetano acuse  desajustes físicos. Junte-se a isso a falta de espírito de competitividade, algo que parece originar-se nos vestiários, e se tem um resumo do baixo rendimento da equipe. O São Caetano lembra uma família de classe média sem ambição e sem preocupação com o orçamento doméstico, suficiente para tocar a vida.
 
O time que empatou com o Oeste, portanto, não fez nada diferente de outros jogos, embora outra vez tenha optado por dois volantes, dois articuladores e dois atacantes, mesmo sem um centroavante de ofício. Há inconsistências coletivas porque os setores não se agrupam, não se fundem e tornam previsíveis todos os avanços ofensivos. E defensivamente vai se desgastando e se fragilizando na medida em que o tempo corre.
 
O primeiro tempo ante o Oeste foi uma calamidade. Apenas um chute de Isael de fora da área e que raspou a trave retirou o São Caetano do marasmo geral. O Oeste se defendeu o tempo todo e procurou contragolpes, principalmente com os avanços do lateral/ala Fernandinho, sempre desmarcado. Aos 21 minutos Fernandinho bateu uma falta da intermediária para o cabeceio do centroavante Tadeu, que não alcançou, mas o goleiro Luiz calculou mal a saída do gol e a bola entrou.
 
Reação breve
 
O segundo tempo começou com uma ducha fria no São Caetano: logo aos dois minutos Fernandinho, livre nas imediações da área, cruzou na cabeça de Serginho, que marcou 2 a 0. O que se viu depois, até os 21 minutos, foi um surpreendente São Caetano, tocado pela necessidade de mudar o placar. O time de Márcio Araújo descobriu o improvisado lateral-direito Marcone, volante de natureza, e o tornou um ala de ataques seguidos em combinação com Isael, agora deslocado à direita, enquanto Geovane se projetava Do lado oposto. Uma cobrança de falta de Isael foi desviada na pequena área por Marcone e o São Caetano marcou o primeiro gol, aos 9 minutos. Duas faltas depois, praticamente do mesmo lugar, levaram pânico à defesa do Oeste. O São Caetano empatou aos 17 minutos: tudo começou na direita, com Marcone e Isael: a bola acabou com Vicente chutando de fora da área, o goleiro falhou, a zaga rebateu mal e Ailton empatou.
 
Como Isael saiu com dores musculares logo após o gol e como o São Caetano parecia ter cumprido o dever de ter evitado a derrota, o jogo ficou malemolente, com o Oeste controlando melhor as ações. Mas ainda houve tempo para Geovane perder um gol incrível. O São Caetano deu-se por feliz por empatar um jogo que se achava perdido, mas a leitura é outra: se jogasse todo o potencial de que dispõe, o Oeste seria apenas uma nova vítima no caminho rumo à classificação ao G-8, cada vez mais improvável. Como o rebaixamento. 


Leia mais matérias desta seção: Esportes

Total de 985 matérias | Página 1

05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André
26/07/2024 Futuro do Santo André entre o céu e o inferno
28/06/2024 Vinte anos depois, o que resta do Sansão regional?
11/03/2024 Santo André menos ruim que Santo André. Entenda
05/03/2024 Risco do Santo André cair é tudo isso mesmo?
01/03/2024 Só um milagre salva o Santo André da queda
29/02/2024 Santo André pode cair no submundo do futebol
23/02/2024 Santo André vai mesmo para a Segunda Divisão?
22/02/2024 Qual é o valor da torcida invisível de nossos times?
13/02/2024 O que o Santo André precisa para fugir do rebaixamento?
19/12/2023 Ano que vem do Santo André começou em 2004
15/12/2023 Santo André reage com “Esta é minha camisa”
01/12/2023 São Caetano perde o eixo após saída de Saul Klein
24/11/2023 Como é pedagógico ouvir os treinadores de futebol!
20/11/2023 Futebol da região na elite paulista é falso brilhante
16/10/2023 Crônica ataca Leila Pereira e tropeça na própria armadilha
13/10/2023 Por que Leila Pereira incomoda tanto os marmanjos do futebol?
10/10/2023 São Bernardo supera Santo André também no futebol
10/08/2023 Santo André prestes a liquidar R$ 10 mi de herança do Saged