Esportes

São Caetano dá show de aplicação
contra Palmeiras; agora é só repetir

DANIEL LIMA - 05/03/2012

Embora o ingresso do São Caetano no G-8 da Série A do Campeonato Paulista seja possibilidade remota, o empate de ontem à tarde no Pacaembu ante o Palmeiras poderia servir de plataforma de embarque a uma nova fase na competição, visando exatamente essa meta: uma fase de dedicação total durante todo o tempo, desafiando o desgaste físico e a probabilidade de ser superado por um adversário mais qualificado. O São Caetano não precisou passar sufoco para empatar de 0 a 0. O Palmeiras teve mais volume de jogo, mas não encontrou um adversário acovardado nem impotente.
 
É esse São Caetano combativo, redutor de espaço, rápido nas puxadas de contra-ataque, determinado a marcar em todos os pontos do gramado, que o torcedor espera também contra equipes de menor porte e de torcida menos barulhenta. Surpreendente, pela primeira vez no campeonato o São Caetano não registrou desequilíbrio físico nem técnico. Foi estável o jogo todo e exatamente por isso mereceu o empate contra um adversário invicto e que vinha colecionando enxurrada de gols nos últimos jogos.
 
A grande virtude do São Caetano foi  marcar o Palmeiras o tempo todo. Para isso, além de um 4-2-2-2 defensivo, fechando todos os espaços laterais e também internos, principalmente com Moradei e Augusto Recife se desdobrando à frente da zaga, a equipe teve intensidade no combate. Dificilmente o Palmeiras encontrou facilidades para dominar a bola a partir da intermediária. O São Caetano tomava sentido proativo e determinado de marcar. Não ficava à espera do adversário em sua linha de retaguarda. Bem diferente de tantos outros jogos.
 
É claro que a dedicação defensiva custou a diminuição da potencialidade ofensiva. Mesmo assim, o São Caetano criou algumas oportunidades. No primeiro tempo, Moradei avançou três vezes e arriscou ao menos dois chutes perigosos, além de Marcelo Costa acertar a trave. No segundo tempo, uma blitz fez do goleiro Deola por duas vezes o salvador da pátria palmeirense em chutes de Geovane e Marcone.
 
Tradição mantida
 
O Palmeiras teve mais oportunidades, principalmente em bolas paradas, no primeiro tempo com Daniel Carvalho e no segundo com Marcos Assunção. O centroavante Barcos incomodou bastante no primeiro tempo mas no segundo se rendeu definitivamente à boa atuação de Eli Sabiá. A substituição de Daniel Carvalho por Valdívia no intervalo não deu o resultado que o Palmeiras esperava: a dificuldade de penetrar na área do São Caetano, tanto frontalmente como pelas extremidades, limitou o poder de criatividade do chileno que impressionou apenas nas primeiras jogadas, para depois desaparecer.
 
A tradição do São Caetano enfrentar as grandes equipes do futebol brasileiro com resistência e capacidade de surpreender prevaleceu. A equipe de Márcio Araújo jogou com personalidade, mesmo voltada a contragolpes. Foi defensiva mas não abdicou de ameaçar o adversário. Tanto que Moradei foi o principal finalizador no primeiro tempo. No segundo, sobretudo com as mudanças que colocaram o Palmeiras mais ofensivo, Moradei guardou mais a função destrutiva. Augusto Recife combateu o tempo todo e até Marcelo Costa, menos intenso na articulação no segundo tempo, contribuiu bastante para fortalecer o sistema defensivo. Geovane e Isael movimentaram-se muito por todo o ataque. Ailton desdobrou-se tanto na criação quanto no combate à subida do lateral Julinho. O combate a partir do campo de defesa do Palmeiras facilitou a tarefa do meio de campo, que avançou os volantes, e também dos zagueiros, sempre bem colocados.
 
O que causa preocupação depois de um jogo como o de ontem ante o Palmeiras é tentar entender as razões do São Caetano ser tão instável na competição. Com o entusiasmo com que se lançou ante os palmeirenses, a classificação para o G-8 não seria um bicho de sete cabeças se na maioria dos jogos anteriores houvesse algo semelhante. Individualmente o São Caetano, em média, segue o mesmo ritual da Série B do ano passado, ou seja, é muito melhor que o coletivo. Quando o coletivo, como  no jogo de ontem, resolve aparecer, tem-se um time forte, respeitado, que, mesmo diante de um Palmeiras em amplo processo de recuperação do prestígio, não se submeteu a uma derrota iminente. Muito pelo contrário: teve forças e talentos para exigir do adversário num nível de cautela evidente. Felipão não deu ao São Caetano os contragolpes esperados. Preferiu precaver-se: foi ao ataque dentro do limite de cuidados que a invencibilidade sugeria e o adversário recomendava.



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