Ao restarem apenas sete rodadas para o encerramento da fase classificatória da Série B do Campeonato Paulista, não é exagero afirmar que o Saged, ex-Ramalhão, que há dois anos disputou o título da Série A com o Santos em jogos memoráveis, luta agora para não cair para a Série C. A administração da empresa que usa o uniforme do Ramalhão é realmente insuperável na história do futebol da cidade. Já o São Bernardo, mantido a peso de ouro, vai fazer o suficiente para classificar-se ao G-8, o grupo das oito equipes que vão disputar os quatro primeiros lugares de acesso à Série A da próxima temporada.
É claro que não existe nessas conjecturas nada que tenha vizinhança com o etéreo, com manipulações da sorte, com qualquer imaterialidade. A projeção está respaldada pelos números. Está certo que futebol não é ciência exata, mas também não comporta como regra grandes surpresas. Apenas de vez em quando, apenas de vez em quando, está sujeito a forte reação, mesmo assim de equipes cujos circunstanciais fracassos contam com antídotos estruturais. O que seria uma grande surpresa? O São Bernardo não se classificar e o pobre Saged, ex-Ramalhão, recuperar-se e chegar ao G-8.
Para o Saged chegar entre os oito, mesmo que seja em oitavo lugar, é preciso que faça nos sete jogos que restam o que nenhuma equipe conseguiu em 12 rodadas da Série B: alcançar índice de produtividade de 81%. Com 13 pontos ganhos e, segundo a tendência matemática, necessitado de outros 17 em
Improvisação demais
Não é preciso ir muito a fundo para ter um diagnóstico claro sobre as razões de o Saged estar onde está: quem contrata tantos jogadores (muitos dos quais jovens demais, sem experiência no Acesso) e afasta também tantos jogadores por conta de baixo condicionamento físico, oferece ampla munição à sequência de maus resultados. O que mais os dirigentes subestimam é um dos segredos do sucesso no futebol é o conjunto. Um time bem organizado --e isso leva tempo -- faz de individualidades razoáveis individualidades coletivismo interessante, enquanto um time apressadamente montado faz de individualidades coletivismo medíocre. Mesmo levando em conta que o nível da Série B Paulista é baixíssimo, torna-se problemático acreditar que o Saged mudará os rumos com tantos erros.
O Saged tem tudo para assustar mais uma vez seus torcedores, herdados do Ramalhão. O pentarrebaixamento não é uma heresia, tratando-se de um grupo sob controle de Ronan Maria Pinto. Do jeito que se conduz a agremiação/empresa, é possível que entrará para o livro dos recordes como ineficiência diretiva no futebol. O Saged começa a estar para competições o que o Íbis de Pernambuco representou no calendário de jogos: um perdedor persistente chamado de pior time do mundo em determinado período. Pentarrebaixamento não é para qualquer um. É preciso ter a improvisação, mãe de todas as imperfeições, como modelo a ser cultuado. Talvez o preço para evitar o pior seja a elevação do custo financeiro dos últimos investimentos. Quem não se planeja paga sempre mais caro para ter o resultado menos pior possível.
Sobram vagas
Já o São Bernardo que vi em dois jogos -- ante o Saged e o Monte Azul, no Estádio Primeiro de Maio -- provavelmente se classificará porque o alargamento de vagas à fase de mata-mata é uma porta aberta à ineficiência. O time dirigido por Luciano Dias está muito longe da força que vem das arquibancadas. É contraditório ver um grupo tão pobre coletivamente e limitado individualmente levar milhares de torcedores a um endereço glorificado por Lula da Silva. Os investimentos não correspondem ao padrão de jogo que se vê em campo.
Tomara que haja melhora e que o São Bernardo saia do estágio atual de time confuso, oscilante, peladeiro, e que se destaque na provável fase de mata-mata, porque o entusiasmo com que seus dirigentes se dedicam à equipe merece recompensa. Mas esse mesmo entusiasmo está recheadíssimo de voluntarismo, parente muito próximo da cegueira crítica. O centroavante Nei Mineiro, uma estátua no ataque, é o símbolo da teimosia diretiva em tentar fazer limonada sem limão: bastou que fosse substituído ante o Monte Azul por um centroavante experiente e mesmo fora de forma para o São Bernardo criar algumas situações que embalaram a expectativa de vitória, finalmente conseguida aos 40 minutos do segundo tempo. Gol de Fernando Gaúcho, o centroavante fora de forma.
Danielzinho é caso de paixonite aguda dos dirigentes: o atacante é um faz-tudo que no momento seguinte se torna um faz-nada. Consegue contato permanente com a bola durante os 90 minutos, tanto quanto o desperdício. De vez em quando acerta uma jogada, faz uma jogada de craque, e se garante. Mas não consegue ser negociado porque carrega o ônus de deficiências técnicas que só as divisões de base eliminam.
Os 19 pontos que o São Bernardo somou em 36 na Série B do Campeonato Paulista asseguram o oitavo lugar ao final de 12 rodadas. O índice de 52,77% de aproveitamento ancora as projeções matemáticas que elaborei. A perspectiva é de que 30 pontos são suficientes para disputar a próxima fase. Convém não facilitar porque entusiasmo é pouco para chegar entre os quatro primeiros, que é o que realmente interessa ao final da etapa seguinte.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André