Esportes

Entenda as razões que levaram Saged
ao empate e São Bernardo à vitória

DANIEL LIMA - 12/03/2012

São Bernardo e Saged (ex-Ramalhão) alcançaram resultados importantes no final de semana pela Série B do Campeonato Paulista. O São Bernardo venceu o Noroeste por 3 a 1 no Estádio Primeiro de Maio, enquanto o Saged jogou em casa emprestada, o Estádio Anacleto Campanella, e empatou de 1 a 1 com o Grêmio Barueri. Não há como desagregar os dois resultados numa análise. Vi os dois jogos, um na TV, sábado de manhã, e outro à tarde, em São Bernardo. Os resultados não alteraram a ordem dos fatores: o Tigre corre para conquistar uma das oito vagas à fase final, enquanto o Saged joga para fugir do rebaixamento.
 
Quando se entrelaçam vetores como ambiente, técnica, tática, contextualização classificatória e potencial dos adversários, é natural que se chegue à conclusão a que cheguei: os resultados foram bons para a região. Sobretudo os 3 a 1 do São Bernardo. Mas também o empate do Saged, alcançado no último segundo dos descontos. Caiu literalmente do céu.
 
Afinal, por que o São Bernardo venceu e o Saged empatou? Primeiro, porque o ambiente no Estádio Primeiro de Maio era muito mais favorável ao time da casa do que no Anacleto Campanella. Três mil torcedores dão importante aval emocional e o São Bernardo não desperdiçou a emulação que vinha das arquibancadas.
 
Dizem que a torcida do São Bernardo é artificial, forjada na distribuição farta de ingressos, ou no ingresso baratíssimo, a preço de liquidação. Não é verdade. Pelo menos quando se trata do público potencial de três mil pessoas que comparecem regularmente aos jogos da Série B. É gente que gosta da equipe, que vibra e torce para valer. Alguns até são doentes porque enxergam faltas, impedimentos e tudo o mais de supostamente errado quando o Tigre é o infrator. Mais que esse número de torcedores é provável que comece a permear a redução do ímpeto espontâneo das arquibancadas. Nada demais, convenhamos.
 
Torcida não pesa
 
Os gatos pingados da torcida do Santo André, herdados pelo Saged, são abnegados mas não influenciam no resultado. Se já no Estádio Bruno Daniel os últimos anos confirmaram a debacle de enfraquecimento de uma massa respeitável no passado, o que dizer quando o mando de jogo é distante do centro de paixão? O Saged tem mais torcedores organizados que torcedores comuns nos estádios. Então, o Saged não contou ante o Grêmio Barueri com o respaldo das arquibancadas que o São Bernardo tem de sobra.
 
Segundo, técnica e taticamente o Grêmio Barueri opôs mais força que o Noroeste ao São Bernardo. O time da Grande São Paulo foi melhor quase o tempo todo, mas o Saged não se deixou dominar. O time de Ruy Scarpino foi bravo, dedicado, empenhado, e mereceu o empate no final porque não desistiu jamais, mesmo com qualidade individual inferior. No conjunto, o Saged voltou a se comportar bem. Só não foi melhor porque não consegue, ainda, organizar-se ofensivamente com mais opções e contundência. As mudanças no segundo tempo, ante a desvantagem no placar, abriram a porteira para os contragolpes do Grêmio Barueri, mas colocaram o Saged mais à frente do gol adversário. O Grêmio Barueri poderia ter decidido antes de sofrer o gol de empate.
 
Já o São Bernardo encontrou um adversário que não lhe foi superior em nenhum momento do jogo. Muito pelo contrário: o Tigre tomou a iniciativa desde o início e se mostrou, pela primeira vez aos meus olhos, uma equipe compacta, dedicada na redução de espaços defensivos e na multiplicação de áreas ofensivas. Aos poucos Luciano Mandi cai na real de que é melhor quando está próximo da grande área. Os laterais avançaram constantemente. Bady e Leo foram incansáveis no meio de campo. Triangulações em pequenos espaços e lançamentos longos às costas dos laterais e zagueiros adversários revezaram-se com trocas de passes seguras. Sem contar que Fernando Gaúcho mostra como se deve jogar um bom centroavante. Nei Mineiro possivelmente não passará das lições teóricas.
 
Contexto contribui
 
Terceiro, o contexto classificatório também pesou nos dois resultados. O Grêmio Barueri tinha mais fome de obter a vitória que o Noroeste de Bauru. O time de Barueri sabia que corria o risco de, com qualquer outro resultado, perder uma vaga mesmo que provisória no G-8, o Clube dos Oito melhores times da fase classificatória e que vão disputar a fase final. Por isso demarcou o terreno da ofensividade. Foi castigado no final porque não se perdem tantas boas oportunidades ante um adversário brioso, dedicado e razoavelmente apetrechado. O Noroeste jogou em São Bernardo com a folga de que mesmo a derrota o sustentaria no G-8. Por isso optou pela cadência, da qual o adversário também lançou mão. Com a diferença de que o São Bernardo cadenciou sempre ofensivamente, mesmo sem a intensidade dos grandes jogos.
 
Quarto, o potencial dos adversários é semelhante, é verdade, porque Grêmio Barueri e Noroeste não expõem grandes diferenças técnicas e táticas. O que pesou favoravelmente ao São Bernardo, quando se estabelece sinergia entre os dois resultados, é que seu adversário afrouxou psicologicamente o ritmo, desobrigado de uma façanha no placar, enquanto ao Grêmio Barueri sobrou a quase obrigatoriedade de vencer um Saged que está entre os últimos colocados, atuava em campo neutro e, como já disse, o obrigava a vencer para ficar entre os oito. O empate do Barueri de manhã tranquilizou o São Bernardo à tarde e também deu mais conforto ao próprio Noroeste.
 
Os resultados da rodada mantiveram a tendência de que serão necessários 30 pontos para estar entre os oito primeiros e 18 para provavelmente escapar do rebaixamento. Com 22 pontos e 15 a disputar, o Tigre só deixará escapar a classificação se o jogo com o Noroeste for uma exceção de arrumação e objetividade. Já o Saged deve escapar do pentarrebaixamento, mas estará muito distante do pretendido acesso, objetivo que seria alcançado apenas se ganhar todos os jogos que restam. Uma façanha que possivelmente apenas o Fluminense conseguiria repetir. Em teipe, evidentemente.   


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