O presidente do São Bernardo, Luiz Fernando Teixeira, faz péssimo negócio (nunca é demais lembrar que futebol deixou de ser apenas entretenimento) ao ocupar páginas de jornais para destilar críticas às arbitragens na Série B do Campeonato Paulista. Sobretudo agora, na reta final da competição, quando faltam cinco rodadas e o Tigre precisa de pelo menos oito pontos adicionais para chegar entre os oito primeiros colocados que disputarão a etapa decisiva.
A choradeira do presidente do São Bernardo não tem sentido. Pelo menos dois dos pênaltis que relaciona, sem detalhamento, como provas de incompetências dos árbitros, são um exagero. Não houve nada de escandaloso no clássico com o Santo André e tampouco com o Noroeste de Bauru que pudesse ser inserido como elemento estranho a perturbar a ordem no clube. Vi os dois jogos e os pênaltis não foram caracterizados a olhos comuns. Talvez gravações em vídeo possam apontá-los, mas aí é outra história.
Luiz Fernando Teixeira erra também porque generalizou críticas tendo como base de reclamação os três jogos apontados. Esse tipo de reação atinge em cheio o corporativismo de uma classe que se reconhece vítima preferencial da maledicência alheia.
Li também ontem no Diário do Grande ABC, na mesma matéria de choramingos, que o técnico Luciano Dias seguiu a trilha do presidente, especificamente no jogo com o Noroeste, ao afirmar que um jogador adversário só não levou o segundo cartão amarelo porque o árbitro preferiu contemporizar. Não me lembro do lance. Quem de fato se beneficiou foi o atacante Danielzinho que, pendurado ao receber o cartão amarelo no primeiro tempo, cometeu uma falta desnecessária no segundo. O árbitro se dirigiu a ele, levou a mão ao bolso para puxar o cartão amarelo e, ao perceber que já havia advertido o atacante, voltou atrás.
O nível de arbitragem dos jogos da Série B do Paulista, pelo menos nos jogos a que assisti, não é muito diferente do que se tem visto na Série A. A direção de arbitragem da Federação Paulista de Futebol tem optado por uma renovação em massa, com base em trabalho que já vem de longe. Considero a qualidade dos novos árbitros acima da média do passado. Os maiores erros se dão com árbitros de safras antigas.
Mas tudo isso pode ser relativizado e abrandado porque há componentes de subjetividades que acabam por tornar as discussões inócuas, do tipo bate boca inútil. O que queremos chamar a atenção é para um desabafo presidencial que pode ser entendido como reclamação exacerbada e, mais que isso, um brado de suspeição. Nada pior, convenhamos, para quem tem sonhos classificatórios e de acesso.
Ainda bem que não observamos no comportamento dos jogadores do São Bernardo o grau de intolerância repassado às páginas de jornal pelo presidente Luiz Fernando Teixeira. Em nenhum dos lances fatais a que se refere o dirigente houve levante da equipe contra a arbitragem. Aliás, foram lances tão comuns que não mereceram mais que reações de praxe, porque se há algo que aproxima jogadores de futebol e atores não é exatamente a destreza de domar a bola, mas a inventividade e o improviso de produzir caras e bocas, quando não gestos que procuram manipular decisões.
As lamúrias públicas do presidente Luiz Fernando Teixeira não contribuem com o São Bernardo. Muito pelo contrário, porque poderá despertar irritação de uma classe inteira e, com isso, converter-se em dores de cabeça senão por perseguição explícita, mas por algo muito pior: a decisão de da arbitragem mostrar-se impermeável a pressões, que muitas vezes se transforma em excessivo zelo de imparcialidade. Por excessivo zelo de imparcialidade pode-se entender algo como não marcar determinadas faltas mais próximas da realidade técnica porque se pretende passar a ideia de que o apontamento implicaria na possibilidade de passar a ideia de que se está cedendo às injunções fora de campo.
Por isso tudo, o único que se salvou na reportagem publicada no Diário do Grande ABC foi o diretor de futebol Edgard Montemor. Ele simplesmente descartou qualquer tipo de tratamento discricionário das arbitragens ao São Bernardo e se mostrou preocupado com a repercussão externa dos lamentos presidenciais.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André