Desde que em 10 de fevereiro passado o Diário do Grande ABC abriu a principal manchete de esportes para espicaçar o São Bernardo e divinizar o Saged após cinco rodadas da fase classificatória da Série B do Campeonato Paulista, a biruta de resultados virou. Virou e permanece virada. Agora, 10 rodadas depois e a quatro apenas do encerramento dessa etapa, o Saged está entre os últimos colocados, ameaçado de rebaixamento, enquanto o Tigre está muito próximo da fase decisiva, na qual quatro dos oito classificados festejarão acesso à Série A.
Desde aquela manchete chamada de maldita o Saged, ex-Ramalhão, ganhou apenas três pontos em 30 disputados (quatro empates e seis derrotas), enquanto o São Bernardo chegou a 25 pontos (oito vitórias, um empate e uma derrota), todos ganhos nesse período. Ou seja, quando da reportagem, o Saged estava em terceiro lugar invicto com três vitórias e dois empates, enquanto o São Bernardo amargava a lanterninha com cinco derrotas.
O que teria acontecido com o Saged, além de uma série de contusões, de contratações de última hora que sempre rompem laços coletivos, e da síndrome de rebaixamentos seguidos, quatro no total desde que o Esporte Clube Santo André passou a figurar apenas como um jogo de camisas e o que restou de torcedores nos estádios?
Muitos ossos duros
Muito provavelmente o Saged caiu no conto da tabela de jogos. Descobre-se a uma simples consulta que por circunstâncias do destino, porque a ordem de jogos na Série B do Campeonato Paulista não guarda a priori uma lógica de análise substancial das possibilidades de cada agremiação, porque a maioria das equipes é desconhecida das demais até que cinco, seis rodadas, começam a definir a ordem técnica, descobre-se, como disse, que o Saged enfrentou as equipes mais frágeis da competição. Os ossos duros vieram depois, como ainda estão por vir nas últimas quatro rodadas. Já não há mais galinhas mortas. Menos mal que três dos últimos jogos serão no Estádio Bruno Daniel.
Também é possível que a empáfia que o jornal externalizou na manchete e no conteúdo de um texto que colocava em xeque o rival São Bernardo tenha superado largamente o comedimento como reflexo do ambiente na equipe de futebol. Aliás, o mesmo se deu com o Red Bull, que começou a disputa de forma ainda mais retumbante, com sete vitórias seguidas e, depois, entrou em parafuso, demitiu toda a comissão técnica e agora luta para assegurar um dos oito lugares à fase final.
Há situações na vida pessoal e também na atividade corporativa, e time de futebol é atividade corporativa, que nos pregam peças inesquecíveis. Muitas vezes é possível reagir, recuperar o terreno perdido até com mais força espiritual e técnica. Em outras situações, a vaca vai para o brejo porque a capacidade de assimilação dos reveses e de adoção de medidas corretivas esfarela-se juntamente com o trauma dos resultados.
Como o Tigre reagiu
O que teria vivido o São Bernardo para escapar precocemente da eliminação da fase final como o Saged? Provavelmente o senso crítico de que tudo que fizera com planejamento, montando a equipe para competições que antecederam a Série B, conforme determina o manual de bom comportamento esportivo, estava fora de foco. A troca de técnico, a obtenção de alguns importantes reforços, a indignação pelo tratamento jornalístico que fugia da bitola da liberdade de expressão e se contaminava como espécie de retaliação do Saged, cujo presidente é também presidente do Diário do Grande ABC, tudo isso e muito mais levaram o São Bernardo a unir forças para reprogramar a rota de resultados na competição.
Ganhar como o São Bernardo ganhou 25 pontos dos últimos 30 disputados é muito mais que abrir uma larga estrada à classificação. É principalmente adubar o terreno fértil da competitividade dentro de campo, no gramado, não apenas nas manchetes e nos investimentos ditos milionários, e colher frutos ainda mais generosos na fase final que virá.
Saged, por enquanto
Parece que o São Bernardo aprendeu mais rapidamente as lições que as decepções recomendam, porque o rebaixamento à Série B do Campeonato Paulista na última rodada da Série A do ano passado foi um cruzado na mandíbula do entusiasmo das relações entre dirigentes e torcedores. Já o Saged, que entrou num buraco sem fundo de rebaixamentos em campo e de esvaziamento crônico de representatividade tanto nos gramados quanto nas instâncias sociais de Santo André, parece não ter aprendido nada.
Quando deixar de ser Saged e voltar a ser Santo André (sem que necessariamente o Saged saia do campo legal, mas sob novos conceitos) quem sabe tudo se reorganizará?
Quando houver a mínima sinalização de que o Saged cansou de apanhar e reconhece que está na hora de honrar as tradições sociais do Santo André, garanto aos leitores que o Saged não será mais chamado de Saged, porque Saged é apenas uma provocação de alguém indignado com os últimos quatro anos terríveis que se abateram sobre o futebol de Santo André.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André