Esportes

São Bernardo não precisava de erro
de arbitragem para encaminhar título

DANIEL LIMA - 07/05/2012

O empate de 1 a 1 que o São Bernardo alcançou já nos descontos em cobrança de pênalti inexistente, sábado à noite em Santa Bárbara do Oeste, seria desnecessário para comemorar o título da Série B Paulista neste sábado no Estádio Primeiro de Maio. A diferença entre o Tigre e o União Barbarense é tão acentuada que mesmo a derrota de 1 a 0, praticamente certa, não alteraria o roteiro. O São Bernardo  teve a missão facilitada -- joga por um empate improvável, porque ganhar é a lógica.
 
Palavra de quem escreveu logo após a derrota na estréia na fase final ante o Noroeste, em Bauru, que o time chegaria à Série A do Campeonato Paulista. Convenhamos que é preciso ter coragem, ser louco de pedra ou então entender um mínimo de futebol para produzir aquela projeção. A fase final é curta, de apenas seis rodadas, e quem começa perdendo geralmente se dá mal. O São Bernardo só perdeu para o Noroeste porque era tão superior que estava insatisfeito com o empate. Descuidou-se e se deu mal.
 
Embora não tenha visto grande parte dos jogos da Série B Paulista (desprezada pela TV e muito mal cuidada pela mídia impressa e digital) não tive dúvidas em apontar o acesso do São Bernardo à Série A quando assisti ao jogo com o Noroeste. A diferença era marcante entre duas equipes finalistas. Mais que isso: como empreendera  recuperação extraordinária na fase classificatória, depois de perder cinco jogos seguidos, a conclusão era simples e direta no sentido de que a equipe estava muito adiante dos demais concorrentes quando o campeonato se afunilou.
 
Superioridade evidente
 
O jogo de sábado em Santa Bárbara esticou esse roteiro. O São Bernardo está longe de ser um time imbatível, mas tem potencialidade para superar com certa facilidade a maioria dos adversários. O União Barbarense é um time convencional, limitadíssimo, previsível. O São Bernardo encanta pelo coletivismo defensivo, conta com razoável competência organizacional ofensiva e revela personalidade dos vencedores porque vai ao ataque com determinação.
 
O técnico Luciano Dias chegou logo após cinco derrotas seguidas da equipe na primeira fase da competição e é uma promessa que poderia ser observada com mais atenção por clubes de divisões superiores. Não é fácil trabalhar num São Bernardo de dirigentes passionais como a maioria, com o agravante de que participam diretamente dos resultados financeiros de uma agremiação empresarial. Quando apenas a paixão diretiva entra em campo já é problema. Quando paixão e dinheiro se acumulam, a gestão de um grupo de jogadores vira desafio. Luciano Dias parece lidar bem com essa atmosfera potencialmente explosiva.
 
Como o calendário é escasso às equipes excluídas de competições nacionais, o segundo semestre torna-se quase inútil. O São Bernardo e tantas outras equipes estão fora das divisões nacionais e por isso  não têm o que fazer nos próximos meses. A desmontagem do grupo de jogadores é um desastre anunciado. Luciano Dias teria possibilidades de melhorar o rendimento para o time entrar na Série A do Campeonato Paulista muito mais fortalecido.
 
Ao São Bernardo sobram empenho, determinação e tudo que se espera de um time combativo sem a bola e razoavelmente lúcido com a bola. Mas há buracos a corrigir. Como o ímpeto constante que poderia ser entremeado por um controle tático mais suave em determinados trechos de um jogo, evitando-se desgastes físicos exagerados. Desgastes físicos que provocam queda de rendimento coletivo, como mais uma vez se verificou no segundo tempo de sábado em Santa Bárbara. A oscilação é um passivo de equipes que ainda acusam déficit de personalidade. Saber pautar o jogo mesmo quando em desvantagem no placar  é uma das características de equipes consolidadas.
 
Problemas ofensivos
 
As deficiências individuais do São Bernardo estão concentradas no sistema ofensivo. Danielzinho e Ricardinho foram mais uma vez escalados como pontos de convergência ofensiva de uma equipe que se utiliza de dois volantes e de dois articuladores do meio de campo com interessante poder de mobilidade. Sem contar os laterais/alas, sempre bem explorados em triangulações pelas beiradas do campo. Aliás, esse é o ponto forte do time de Luciano Dias. Quem deixar os laterais/alas do São Bernardo à vontade, organizando o jogo juntamente com os meio-campistas Leo Costa e Bady, tem tudo para se dar mal. O União Barbarense não se deu conta disso. Como o São Bernardo deixou o lado esquerdo da defesa exposto aos avanços do ala. Por ali saiu o gol do adversário, mesmo após o técnico Luciano Dias ter reforçado a marcação com a entrada de Zé Forte à frente da zaga e de um terceiro zagueiro, Max.
 
Já os atacantes Danielzinho e Ricardinho são almas gêmeas de improdutividades mascaradas por incessante participação individual que incomoda os zagueiros. Eles erram demais nas conclusões e nos passes. Tanto Danielzinho como Ricardinho rifam demais a bola em momentos que se exige mais reflexão que impetuosidade. Danielzinho provavelmente jamais vestirá a camisa de um time médio-grande por tempo razoável. Ricardinho parece menos perdulário com a bola nos pés mas tem dificuldades, como Danielzinho, para atuar no comando do ataque. Eles são atacantes a ser explorados em velocidade e, portanto, precisam de espaços para aparecer. A diferença entre eles é que Danielzinho é mais esperto e faz parte daquele agrupamento de atacantes que se lançam ao gramado à aproximação adversária.
 
Somente uma zebra
 
De qualquer modo, mesmo com o intervalo contraproducente do calendário nacional o São Bernardo provavelmente se dará bem no próximo Campeonato Paulista se reagrupar a quase totalidade do time base da Série B Paulista. O rebaixamento no ano passado foi uma lição a ser mantida na memória. A Série A Paulista exige pelo menos meia dúzia de novos jogadores com experiência na competição.
 
Salvo uma grande zebra, o São Bernardo vai festejar o título da Série B neste sábado com folga. O União Barbarense representa a média técnica do campeonato. O São Bernardo está bem acima disso. Provavelmente porque conta com um técnico dedicado e pronto a rever conceitos. Como, por exemplo, depois da derrota em Bauru, cuidou um pouco mais do sistema defensivo, não abrindo mão de dois volantes marcadores, e desbravou os caminhos do sucesso sempre com os laterais e dois articuladores prontos para contragolpes rápidos. Luciano Dias aprendeu, antes mesmo dos resultados inesperados na Liga dos Campeões da Europa, que nem sempre o melhor vence e que, portanto, cautela não é sinônimo de covardia. O Noroeste do primeiro jogo do São Bernardo na fase final da Série B  foi o Bayern do Real Madri e o Chelsea do Barcelona.  


Leia mais matérias desta seção: Esportes

Total de 985 matérias | Página 1

05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André
26/07/2024 Futuro do Santo André entre o céu e o inferno
28/06/2024 Vinte anos depois, o que resta do Sansão regional?
11/03/2024 Santo André menos ruim que Santo André. Entenda
05/03/2024 Risco do Santo André cair é tudo isso mesmo?
01/03/2024 Só um milagre salva o Santo André da queda
29/02/2024 Santo André pode cair no submundo do futebol
23/02/2024 Santo André vai mesmo para a Segunda Divisão?
22/02/2024 Qual é o valor da torcida invisível de nossos times?
13/02/2024 O que o Santo André precisa para fugir do rebaixamento?
19/12/2023 Ano que vem do Santo André começou em 2004
15/12/2023 Santo André reage com “Esta é minha camisa”
01/12/2023 São Caetano perde o eixo após saída de Saul Klein
24/11/2023 Como é pedagógico ouvir os treinadores de futebol!
20/11/2023 Futebol da região na elite paulista é falso brilhante
16/10/2023 Crônica ataca Leila Pereira e tropeça na própria armadilha
13/10/2023 Por que Leila Pereira incomoda tanto os marmanjos do futebol?
10/10/2023 São Bernardo supera Santo André também no futebol
10/08/2023 Santo André prestes a liquidar R$ 10 mi de herança do Saged