Esportes

Da Neymardependência à nova
tentativa de valorizar Danielzinho

DANIEL LIMA - 08/05/2012

 A dependência do Santos ao futebol de Neymar é uma graça divina que não pode ser minimizada sob pena de que se estaria cometendo um atentado contra a genialidade do atacante. Tampouco pode ser superdimensionada a ponto de transformar o quase campeão paulista num time qualquer. Neymar faz sim a diferença. E que diferença! O Santos sem Neymar seria um time grande comum, como todos os times grandes brasileiros. Perderia com mais frequência e não entraria numa competição como favoritíssimo ao título. Seria apenas um dos favoritos. Como os outros melhores.
 
 É claro que a dependência do Santos ao futebol de Neymar é proporcionalmente muito maior que a do Barcelona em relação a Messi. Não se trata de paradoxo, porque Messi é muito mais jogador que Neymar, ainda. A diferença é que o Barcelona é muito mais time que o Santos (a final do Mundial de Clubes com 4 a 0 para os catalães não expressou a distância  que os separa) e está menos suscetível a desequilibrar-se ante eventual ausência do atacante.
 
 O lance que culminou no pênalti assinalado pelo árbitro no jogo em que o São Bernardo empatou em Santa Bárbara Doeste com o União aos 50 minutos do segundo tempo foi tão corriqueiro no futebol que tanto o narrador quanto o comentarista da Rede Vida só se deram conta da marcação 30 segundos pós-choque entre o goleiro e o lateral Renato Peixe. Para não perder o embalo, o comentarista acabou aprovando a marcação, enquanto o narrador preferiu frases de desconfiança. De fato, não houve nada. No extremo da interpretação, quem cometeu infração foi o lateral Peixe, que deixou a perna ante um goleiro que saiu de forma estabanada mas não faltosa.
 
 O São Paulo fulanizou de tal maneira o comando diretivo que o afastamento do zagueiro Paulo Miranda marca um comportamento que nem no futebol varzeano tem mais vez. Pegou mal para o técnico Leão, sempre centralizador e autoritário, ter de engolir a decisão de um Juvenal Juvêncio sempre autocrático. Tudo poderia ter sido resolvido de maneira que não abalasse o elenco e, principalmente, não expusesse as fragilidades administrativas do Tricolor.  Paulo Miranda não é nenhuma maravilha, mas ao puni-lo a diretoria do São Paulo procurou mesmo proteger-se, porque já foi o tempo em que acertava em quase todas as contratações. Tempos em que controlava praticamente sozinha a bolsa de jogadores prestes a se tornarem disponíveis no mercado, dentro das regras da Lei Pelé. Tempos de relações mais próximas com a CBF, embora esses tempos, sem os mesmos resultados, pareçam estar de volta.
 
 Quem acompanha o noticiário esportivo do Diário do Grande ABC é capaz de jurar que a preparação do Saged (ex-Ramalhão) para a Série C do Campeonato Brasileiro (do qual não foi apeado ano passado apenas por conta da burocracia esportiva, porque dentro de campo caiu para a Série D) é digna de um representante da Liga dos Campeões da Europa. Não há reforço que não seja a fina flor da técnica. Quando o senso crítico baixa a guarda, o nocaute é iminente. Aliás, é o que vem ocorrendo faz tempo.
 
 Por falar em Saged, há movimentação bastante discreta de acionistas da empresa que terceirizou o futebol do Esporte Clube Santo André. O sentimento de frustração após cinco anos em que a rotina de derrotas rivaliza-se com a falta de transparência do negócio ainda não conseguiu saltar para o terreno da reação coordenada. Há correntes que se dividem em duas direções. A primeira quer simplesmente esquecer o negócio, mantendo-o com Ronan Maria Pinto até que se exaure. A segunda é partir para um confronto. Como o confronto poderia desencadear rompimento do contrato, e ninguém quer ficar com a batata quente de uma empresa de números financeiros obscuros, prevalece a filosofia de que é melhor um passarinho de omissão na mão de que dois passarinhos de complicações voando.
 
 Não faltaram jornalistas indignados com revelações de suas paixões futebolistas, publicadas pela  revista Vip. Quem conhece o mundo da bola e da mídia não se surpreendeu com a origem passional dos profissionais de narração, comentários e reportagens. Eles se traem em pequenos detalhes. Por exemplo: quando Cleber Machado remeteu ao centroavante Juari aquela comemoração de Neymar a girar o corpo no pau da bandeirinha num dos gols contra o São Paulo. Com tanta presteza informativa, só poderia mesmo ser algo saído do fundo da alma alvinegra. Outro cronista, flamenguista de coração, segundo a revista, saiu do armário clubístico naquele domingo em que Ronaldo sofreu pênalti contra o Cruzeiro, ano retrasado, no Pacaembu. A reação de indignação foi tão desproporcional, porque o lance provocou comentários favoráveis e contrários à arbitragem, que tudo só se explicaria pela traição do sentimento que vai muito além de cariocas versus paulistas. O profissional em questão é um anticorintiano convicto que, por atuar em São Paulo, deve ter adotado um clube paulista como reserva emocional. Alguém tem dúvida que, por serem donos das maiores torcidas nacionais, Flamengo e Corinthians também são campeões em rejeição dos adversários mais tradicionais?
 
 Está ficando cada vez mais difícil a bancada da TV Globo sustentar paixonite aguda por Kaká, derivada de relações pessoais e também de demandas de audiência, porque o atacante goza de imagem de bom menino. Kaká não consegue voltar à forma que o transformou num dos mais eficientes pontas de lança do futebol, mas segue na condição de dono de um fã clube midiático que simplesmente fecha os olhos à sequência de improdutividades tanto na Seleção Brasileira quanto no Real Madrid. A possível transferência de Kaká para o francês PSG, empurrada pela decepcionada torcida do Real Madrid, é a escala descendente de uma carreira brilhante, mas nem tanto. Galvão Bueno provavelmente chorará viuvez.
 
 As cabines de imprensa e de autoridades do Estádio Primeiro de Maio são uma festa nos dias de jogos do São Bernardo. Há convidados especiais de todos os tipos, principalmente nesta temporada eleitoral. A correlação entre a equipe que está prestes a ganhar o título da Série B Paulista e a Administração Luiz Marinho poderia ser menos ostensiva, por mais que seja defensável o envolvimento do Poder Público nas equipes de médio e pequeno porte como contraponto ao poder monolítico das grandes agremiações na mídia e nos patrocínios gerados pela exposição televisiva.
 
 A direção do São Bernardo insiste em valorizar Danielzinho. Agora é o São Caetano que aparece no noticiário como eventual destino do atacante, fiel praticante do velho vício de intercalar algumas jogadas de brilho com muitas de perna-de-pau. Sem histórico de correção de fundamentos técnicos em equipes de base, Danielzinho é mais um profissional da bola que dificilmente resistirá às exigências de clubes de massa, nos quais um gol perdido é a porta de saída. Danielzinho é um desperdiçador infatigável de oportunidades imperdíveis. Avaí e Sport já testaram seus erros e acertos e o devolveram aos donos inconsoláveis.


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