Política

Salles troca de vice, segue com
Martinha e mantém segundo turno

DANIEL LIMA - 29/05/2012

A matemática ou a aritmética eleitoral com a candidatura de Raimundo Salles à Prefeitura de Santo André é uma, sem Salles é outra. Com Salles, o jogo vai para o segundo turno. Sem Salles, o jogo pode terminar no primeiro turno. E os adversários que querem ver Raimundo Salles fora do jogo se deram mal. Ele trocou o companheiro de chapa, sindicalista Cícero Martinha da Silva, pelo classe média tradicional, engenheiro Edgard Brandão, o qual abandonou a candidatura ao Paço como cabeça de chapa. Como Martinha segue firme e forte ao lado de Salles, abrindo os corredores trabalhistas, não há como negar que a nova composição fortaleceu o pedetista.


 


Pesquisas preliminares de fontes confiáveis colocam Raimundo Salles como pêndulo de uma balança que pode surpreender se os ventos continuarem a soprar contra o gol da Administração sob suspeição de Aidan Ravin, contra o gol da até agora não mais que morna candidatura do petista Carlos Grana e também contra o gol do novato e ensaboadíssimo Nilson Bonome, peemedebista que tanto pode manter-se na disputa como juntar-se a Aidan Ravin ou a Carlos Grana.


 


Trocando em miúdos, por enquanto apenas Raimundo Salles não acusou golpes de improvisação, desencontros, indecisões e malfeitos na disputa pelo Paço de Santo André. Carrega um recall apreciável de 73 mil votos nas eleições de 2008, quando perdeu a oportunidade de ir ao segundo turno com o petista Vanderlei Siraque por pouco mais de um ponto percentual, batido por Aidan Ravin e um concerto de interesses difusos que redundaram na Administração que está aí. Todos são culpados no cartório porque apostaram as fichas interesseiras num concorrente praticamente sem suporte partidário. Um Fernando Collor mal-ajambrado que, ao contrário do original, levando-se em conta o andar da carruagem da CPI do Legislativo, as investigações da Polícia e as apurações do Ministério Público (além da omissão da OAB e de outras entidades anêmicas), vai se safar tranquilamente de algo que lhe poderia ser fatal, no caso o impeachment.


 


Amadurecimento político 


 


É inegável reconhecer que Raimundo Salles, quatro anos depois, está mais maduro à disputa em Santo André. Aprendeu com as vicissitudes que uma das armas de quem busca votos é deixar para os jornalistas independentes ou malucos a tribuna de críticas aos candidatos. Salles trafega por um caminho mais suave. Deixa Aidan Ravin no respectivo canto. De Carlos Grana não fala nada, exceto frases diplomáticas. De Nilson Bonome mantém distância suficiente para não entrar nem no time dos detratores nem dos apoiadores subjacentes. Salles é um animal político que deve ser reconhecido pelo desempenho nas urnas mesmo sem contar com financiadores mais que conhecidos na praça. Poucos conseguem tanta quilometragem de caminhadas pelas periferias de Santo André.


 


Exatamente porque faz na periferia peregrinação constante e conta com um ponta de lança sindical para chegar aos trabalhadores, Raimundo Salles decidiu mudar o jogo. Sabedor de que a classe média tradicional, em qualquer lugar do planeta e também em Santo André, não é uma cidadela que se conquiste sem atingir em cheio a cumplicidade dos mais antigos, reforçou a candidatura com um representante desse nicho, no caso Edgard Brandão.


 


Basta conversar com o ex-superintendente da Infraero e ex-tri-secretário de Santo André para se dimensionar o que é um classe média tradicional. Não tem nada a ver com a classe média emergente criada pelo governo Lula da Silva e que, todos devem saber, está à beira da loucura por conta da inadimplência recorde de quem foi com muita sede ao pote do crediário sempre traiçoeiro.


 


Classe média tradicional transborda conhecimentos sobre ocupação demográfica, política, institucional e econômica. Eles se sentem protagonistas da vida social do Município. São por natureza extremamente seletivos na convivência cotidiana. Edgard Brandão faz parte desse time. Raimundo Salles não tem a mesma inserção, embora também não seja mais um forasteiro. Nilson Bonome está degraus abaixo. Como Aidan Ravin. Diferentemente de Dinah Zekcer, de linhagem semelhante a de Edgard Brandão.


 


É claro que a classe média tradicional de Santo André reúne estratos. Há a classe média mais próxima da riqueza, a classe média-média e a classe média-baixa. São camadas bem visíveis quando se observam mapas eleitorais. Estão em áreas geográficas povoadas a partir de meados do século passado, distribuídas de acordo com os crachás de ocupações funcionais principalmente nas indústrias que recheavam os horizontes de Santo André, ou dos contratos sociais de empresas de pequeno e médio porte. Jamais se estudou a fundo a composição desse segmento socioeconômico, mas é certo que seus representantes são conservadores. No fundo, sentem-se invadidos pelas hordas de migrantes. Também há tonalidades de conservadorismo. Quanto mais próximos do Centro, mais arraigados a valores morais e éticos os classe média são. Celso Daniel sofreu um bocado nas quatro eleições de que participou. A muito custo conseguiu uma maioria não mais que discreta quando concorreu pela quarta vez, em 2000.


 


Nos erros dos outros


 


Pois é essa turma – ou essas turmas – que ajuda a definir as eleições em Santo André. Não se chega com facilidade ao Paço Municipal sem votação expressiva nesses redutos. Ganhar confortavelmente na periferia é até possível, mas nada que decida a contagem final. Quanto mais o jogo for equilibrado entre os classes médias, mais os votos populares determinarão o vencedor.


 


Raimundo Salles observa atentamente a tendência eleitoral em Santo André. O mapeamento possivelmente lhe indicou que o sindicalista Cícero Martinha é um aliado indispensável, mas não necessariamente um vice insubstituível. Tampouco descartável. O candidato pedetista joga um jogo eleitoral com inteligência. Não comete precipitações. Deve estar se divertindo com os erros dos outros.


 


As trapalhadas do prefeito, as indecisões de Carlos Grana, a nebulosidade sobre Nilson Bonome, tudo isso dá a Raimundo Salles uma sequência de passes açucarados para marcar gols atrás de gols. Terceira via do embate em Santo André, Raimundo Salles quer dar o troco e passar, mesmo que raspando, para o turno final. Até porque, e as pesquisas garantem, seu eleitorado é formado por aficionados de seu nome e predominantemente por reservas potenciais dos eleitores de Aidan Ravin e Carlos Grana. Resta saber qual é o grau de fidelidade dos votos supostamente dirigidos a Aidan e a Grana para se alcançar um diagnóstico mais preciso do vazamento em favor de Salles. Por isso Salles joga no esquema do Chelsea, campeão europeu da temporada e finalista do Mundial de Clubes. Nada de se expor a riscos.  


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