Esportes

Guedes vê de perto o que vai
precisar corrigir no São Caetano

DANIEL LIMA - 30/05/2012

O técnico Sérgio Guedes estreou ontem à noite no São Caetano com uma vitória confortável de 2 a 0 sobre um velho e conhecido adversário, o sempre tinhoso Bragantino. Que melhor resultado que esse no terceiro jogo da equipe na Série B do Campeonato Brasileiro, no qual somente nos primeiros 15 minutos encontrou dificuldades para impor o ritmo? Mais que isso: deu-se ao luxo de, segundo tempo inteiro com um jogador a mais, fazer da bola uma sequência de incursões para levar o tempo adiante sem sustos, porque o adversário estava inapelavelmente batido.
 
Provavelmente o melhor para Sérgio Guedes tenha sido observar de perto, ao nível do gramado, na beira do gramado, o que recebeu de herança de Márcio Araújo, demitido sexta-feira passada após 36 jogos e 43% de produtividade -- números que flertam com históricos indicadores de rebaixamento.
 
Há muitas correções a fazer, mas a julgar pelo desempenho de ontem à noite o São Caetano não repetirá uma manjada sinfonia do período de Márcio Araújo: uma quase aversão à ofensividade e uma acomodação implícita com o resultado parcial a favor.
 
Enquanto o jogo oferecia justificativas para um empenho mais intenso dos jogadores, o São Caetano foi forte na marcação e decidido no ataque. E mesmo quando o placar de 2 a 0 não corria risco algum ante um adversário desfalcado por expulsão do zagueiro Cris no final do primeiro tempo, o time de Sérgio Guedes soube controlar as ações. Poderia ter feito mais gols se aplicasse ritmo semelhante ao do primeiro tempo. Naquele período, um placar de 4 a 0 não seria exagero.
 
Se o técnico Sérgio Guedes tornar o Estádio Anacleto Campanella aliado do São Caetano, já terá percorrido mais da metade do caminho para viabilizar uma equipe com ambições de disputar o grupo dos concorrentes mais fortes ao acesso. Transformar um jogo difícil em jogo fácil não era a especialidade de Márcio Araújo. Muito pelo contrário: o antecessor de Sérgio Guedes preferia mesmo fortes emoções. Qualquer jogo fácil se tornava difícil, quando não decepcionante. O São Caetano cansou de perder pontos em casa depois de estar em vantagem no placar.
 
Sem milagres
 
Esperar milagres táticos de Sérgio Guedes é acreditar que futebol não tem engenhosidade alguma. O próprio treinador deve ter comemorado o resultado de ontem com comedimento. Há providências a tomar com treinamentos específicos intensos. O São Caetano não sabe usar as laterais do campo com combinações de dois e três jogadores. Também demora para perceber que um adversário abre espaços demais num determinado setor (como o Bragantino na lateral-direita desfalcada) e que por ali pode ser um atalho importante ao desequilíbrio no resultado. O meio de campo também demora para engrenar a posse de bola, o faz com certa intermitência e por isso mesmo se excede em lançamentos e passes laterais. Sem contar que há ainda descuidos funcionais de marcação. O lateral Andrezinho, principal arma de contragolpes do Bragantino, teve momentos de liberdade excessiva. Menos mal que o craque do time, Romarinho, foi negociado com o Corinthians poucas horas antes do jogo e retirado da concentração. O Bragantino parece ter perdido a bússola.
 
Antes não tinha
 
Talvez a melhor notícia para o São Caetano e principalmente para Sérgio Guedes nesse início de Série B do Campeonato Brasileiro é que não faltará especialista em gols. Ontem foi a vez de Leandrão mostrar talento, substituindo o ainda mais experiente Somália, que está contundido. Não bastassem essas duas opções, há outras duas entre os reservas: o jovem Jô, das equipes de base do Corinthians, e o polêmico Nei Paraíba. Tanto no Campeonato Paulista deste ano quanto no Brasileiro do ano passado o São Caetano sofreu um bocado com os camisas nove -- pela escassez e pelos casos de contusão. O meia Geovane acabou improvisado durante a maioria dos jogos do Paulista.
 
A vantagem de ter um centroavante de ofício, desses que incomodam para valer os zagueiros, que abrem espaços, que cabeceiam, que chutam, é que eles costumam simplificar o arranjo coletivo. Sem centroavante de verdade o time precisa estar azeitadíssimo para ocupar os espaços com sabedoria e contundência, algo que leva muito tempo. Com centroavante de verdade, simplificam-se situações. Um lançamento comprido, um escanteio, um lançamento em diagonal, uma bola alta na pequena área e a potencialidade de mudar o placar se manifesta.
 
Tanto que Leandrão participou dos dois gols ante o Bragantino. No primeiro, fez um corta-luz na pequena área no passe em diagonal de Augusto Recife e Geovane, desmarcado, chutou no ângulo. No segundo, Leandrão  dominou a bola na pequena área, protegeu do zagueiro e tocou de calcanhar para Eder que penetrou livre. O jogo do São Caetano neste sábado contra o ABC em Natal é uma oportunidade para avanços coletivos mas principalmente para Sérgio Guedes fazer do pragmatismo a melhor doutrina à motivação contínua do grupo: vencer com objetividade tática, mas vencer. As duas derrotas nos dois primeiros jogos precisam ser compensadas para que a equipe não se distancie dos primeiros lugares.


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