O jogo da noite desta terça-feira ante o América Mineiro no Estádio Anacleto Campanella é um teste apressado demais para os efeitos da troca de técnico no São Caetano, mas o que se pode fazer se a tabela assim o decidiu? Após vencer dois jogos seguidos (o segundo foi sábado à noite em Natal ante o ABC, por
Um breve balanço do São Caetano nos dois jogos com Sérgio Guedes não é uma precipitação. Trata-se de apenas um mapeamento preliminar do que já se viu em campo em 180 minutos, sempre tendo como base de comparação os 21 jogos anteriores, quando a equipe foi dirigida por Márcio Araújo na Série A do Campeonato Paulista e os dois primeiros jogos (e derrotas) na Série B do Brasileiro. Ou, esticando-se o ensaio aos 15 jogos
10 pontos positivos
Divido o novo São Caetano em dois blocos de 10 pontos cada. O primeiro de aspectos positivos. O segundo de aspectos negativos. Primeiro vamos aos 10 pontos positivos:
1. Por influência da novidade de contar com novo técnico ou porque Sérgio Guedes tem poder superior de transmitir competitividade, o São Caetano mostrou nas duas vitórias maior mobilização com e sem a bola. Os espaços encurtaram para os adversários e houve avanços ofensivos. A transpiração foi maior. Se cada jogador tivesse passado por um medidor de quilometragem, a média geral seria certamente muito superior com Sérgio Guedes.
2. Não é simplesmente porque abdicou de três volantes, mantendo apenas Augusto Recife e Moradei à frente da zaga, que o São Caetano tornou-se mais ofensivo. É claro que o esquema 4-2-2-2 com variável para o 4-2-3-1 é indutivamente mais agressivo que o 4-3-2-1, mas não foram poucos os jogos nos quais Márcio Araújo lançou mão de dois volantes de contenção e se deu mal. A intensividade ofensiva se deve principalmente ao espírito de competição do técnico que chegou. Resta saber se o processo será contínuo e aperfeiçoado.
3. Zagueiros, laterais e volantes já não deixam espaços demais entre si aos contragolpes adversários. Houve nos dois jogos uma melhoria bastante importante na redução do espaço aos adversários. Longe do ideal, mas significativo. As vulnerabilidades são bem menos explícitas.
4. Os dois volantes do São Caetano não ficam o tempo todo na marcação, como não ficavam com Márcio Araújo, mas há mais cuidados para não desguarnecer a defesa. O revezamento entre eles coloca menos risco a contragolpes.
5. Entre o equilíbrio emocional dos tempos de Márcio Araújo e o equilíbrio emocional agora sob o comando de Sérgio Guedes há uma diferença fundamental: os jogadores mostram-se mais aguerridos, mais interessados no combate, empenham-se muito mais. A passividade cedeu espaço à combatividade.
6. Com dois jogadores na articulação do meio de campo, logo à frente de Moradei e Augusto Recife, tem-se mais sustentação aos recuos e às infiltrações em velocidade do meia-atacante Geovane. Falta apenas sincronia nas ultrapassagens para que Geovane seja mais bem explorado em velocidade e nas finalizações.
7. Possivelmente Sérgio Guedes opte por entregar a titularidade da armação do São Caetano a Pedro Carmona, que veio do Palmeiras depois de ganhar fama no Criciúma. Pedro Carmona difere dos atuais meias escolhidos por Sérgio Guedes (Marcelo Costa e Eder) porque é organizador por excelência, não um meia-ponta-de-lança. Pedro Carmona sabe dar ritmo à equipe, acelerando e desacelerando o jogo de acordo com as circunstâncias. Tem entrado na equipe jogando um pouco mais adiante do recomendável. Pode atuar um pouco mais recuado e tanto partir com a bola dominada como articular contragolpes com lançamentos e passes sempre precisos, quando não surpreendentes.
8. Há uma melhoria senão surpreendente e sustentável pelo menos já perceptível de velocidade na construção de contragolpes. Já não se perde tempo demais na transposição entre defesa, meio de campo e ataque. O espírito ocupacional parece sair dos vestiários e se ainda não se consolidou em campo é porque depende de tempo e de treinamento.
9. A definição do esquema com um centroavante de ofício, desses que não se desgarram demais da grande área, desses que acossam os zagueiros o tempo todo, desses que abrem espaços, desses que sabem jogar de pivô, como Somália e Leandrão, simplificada a arrumação tática. E isso é fundamental para um time
10. O lateral-direito Samuel Santos começa a ser melhor aproveitado como ala, partindo sempre em velocidade rente a lateral para surpreender adversários que costumam utilizar laterais esquerdos como apoiadores. Foi assim que apareceu em três espetadas ante o ABC de Natal e, inclusive, fez o gol da vitória.
10 pontos negativos
Agora vamos listar os 10 pontos negativos sobre os quais o técnico Sérgio Guedes deverá envolver-se mais demoradamente nos treinamentos e jogos:
1. Mais no jogo de sábado contra o ABC em Natal do que na estréia do treinador ante o Bragantino no Anacleto Campanella, o São Caetano oscila demais durante os 90 minutos. Em Natal saiu de uma situação de conforto no primeiro tempo, quando poderia ter alcançado vantagem no placar, para um sufoco nos primeiros 20 minutos do segundo tempo. Em seguida, melhorou com as substituições, mas, de novo, voltou a cair. Faltou em Natal um pouco mais de cuidado defensivo, depois de marcar
2. Os laterais estão contando com baixo aproveitamento coletivo. Faltam jogadas de aproximação pelas extremas. Samuel Santos começou a aparecer em investidas individuais, buscando a linha de fundo para complementar passes em diagonal, mas Diego se excede em apoiar pelo meio. Os dois articuladores do meio de campo (Eder e Marcelo Costa) também se excedem em incursões pelo meio.
3. Os laterais e também os volantes adversários precisam ser mais bem vigiados. Eles estão avançando com certa liberdade. Falta encaixar a marcação. E nesse ponto os meias-articuladores devem participar mais ativamente para não sobrecarregarem o sistema defensivo.
4. O centroavante Leandrão, titular dos dois últimos jogos, é um especialista em abrir espaços e proteger a bola, mas os meio-campistas precisam ter mais agressividade e fome de gol. Apenas Geovane tem dividido a atenção dos volantes e zagueiros adversários em forma de infiltrações. É nesses momentos que se deve avaliar o quanto custa a ausência de um organizador como Pedro Carmona.
5. As estatísticas consagram a bola parada, em cobrança de falta ou de escanteio, como arsenal valiosíssimo à produção de gols, mas o São Caetano tem baixo aproveitamento no quesito.
6. Está faltando mais volume de jogo ao São Caetano. Há pressa desmedida para desvencilhar-se da bola. Por isso o ritmo de jogo da equipe vai do céu ao inverno e cobra a contrapartida de desgaste físico constante e intenso ao qual o grupo não está preparado.
7. Marcelo Costa não está conseguindo há bom tempo reproduzir o ritmo e o equilíbrio dos primeiros jogos no São Caetano. Movimenta-se pouco, penetra pouco, chuta pouco. É mais um ponta de lança do que um armador. Por isso, Pedro Carmona é uma opção para dar mais tranquilidade à equipe.
8. O lateral-esquerdo Diego excede-se em apoiar pelo meio, ocupando espaços de companheiros. A extremidade do campo é o roteiro que deve cumprir, preferencialmente com a proximidade de um meia de armação e de um atacante em triangulações que sempre dão resultado.
9. O desgaste físico de uma equipe que durante algum tempo aplica ritmo forte dá uma configuração de desmanche tático à medida que o jogo vai se encaminhando para o final. A recomposição defensiva e a articulação ofensiva sofrem avarias por conta da baixa de rendimento físico. A demora para recompor peças desgastadas agrava o problema.
10. Há deficiências no posicionamento dos zagueiros de área principalmente porque Gabriel e Wagner praticamente se conheceram há pouco tempo. O jogo em Natal virou um tormento nas bolas aéreas lançadas principalmente da linha de fundo ou próximas da grande área.
Com esse mapeamento de prós e contras, o que esperar do São Caetano nesta terça-feira diante de um América Mineiro até agora implacável na competição? Introduzir um terceiro volante sem abdicar do ataque não é uma conceituação esdrúxula e impraticável se o São Caetano souber ocupar os espaços. Tudo vai depender, também, do apetite do time mineiro. Se contar com três atacantes, o melhor é o São Caetano precaver-se, porque o ABC de Natal gerou uma crise de marcação defensiva da equipe depois de substituir um volante por um atacante.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André