Esportes

São Caetano troca água por vinho
para tentar chegar entre primeiros

DANIEL LIMA - 30/08/2012

O São Caetano acaba de sinalizar de forma emblemática e contundente o que pretende na Série B do Campeonato Brasileiro desta temporada. A troca do suave Sérgio Guedes pelo vertiginoso Emerson Leão extratifica um projeto claro: estar entre os quatro primeiros colocados ao final do segundo turno e, com isso, voltar à Série A na próxima temporada. Sérgio Guedes caiu porque virou amigo demais dos jogadores, fechou com um grupo de titulares e com isso cerrou as portas a novos saltos de qualidade de uma equipe que não inspira confiança para chegar ao Acesso, apesar do currículo apreciável de nove vitórias, sete empates e duas derrotas em 18 jogos. Emerson Leão chegou hoje de manhã porque a equipe precisa sair da zona de conforto e de ambição comedida demais. É um choque anafilático conhecido.


 


Sérgio Guedes e Emerson Leão são tão opostos que acabam se assemelhando nos resultados. O treinador que acaba de sair mantém ambiente quase intimista com os jogadores, troca ideias, raramente levanta a voz. Emerson Leão é desbocado, personalista, às vezes atrevido. O que os aproxima é o trabalho intenso de preparação, cada um a sua maneira. Mas o que mais os tornam semelhantes nas diferenças é que Sérgio Guedes desgasta o relacionamento com o grupo porque é bonzinho demais. Perde o controle em nome de uma democracia excessiva. Emerson Leão obtém resultados no curto prazo também, mas por motivos opostos, ou seja, porque é o controlador único do grupo. Os danos ambientais começam a aparecer depois de três meses. Como os danos ambientais de Sérgio Guedes.


 


Ora, bolas, como o campeonato de Acesso não vai demorar mais que três meses para terminar, esse é o período ideal para os efeitos da contratação de Emerson Leão se tornarem utilíssimos ao São Caetano. Um tiro certo foi dado pela diretoria, então. Um tiro de quem sabe que há um ingrediente de risco, porque em cada troca de treinador, em qualquer que seja a equipe, há sempre elementos fortuitos que podem quebrar a expectativa traçada. Mas não há dúvida de que com Emerson Leão o São Caetano será outro time no segundo turno da Série B. Era, portanto, o momento oportuno para a troca. Sérgio Guedes esgotara o que de melhor poderia ter dado. Leão tem tudo a dar. A conjunção sincronizada dos opostos pode ser a pedra de toque para o São Caetano voltar à elite do futebol brasileiro depois de seis temporadas seguidas na Segunda Divisão. Sérgio Guedes chegou quando o São Caetano requeria serviços de ourivesaria. Emerson Leão chega quando o São Caetano requer uma manipulador de britadeira.


 


Desafio de fazer gols


 


O maior desafio do novo treinador do São Caetano não está nos bastidores, nos vestiários, ou seja, de marcar presença quase imperial entre os jogadores. O estilo de Leão se fará respeitado pelo tempo mínimo do segundo turno. É dentro de campo que estão os desafios a serem superados, desafios que Sérgio Guedes, conservador demais, não ousou superar. O São Caetano não tem um sistema ofensivo que inspire confiança de sucesso, em oposição ao sistema defensivo. Emerson Leão terá obrigatoriamente de mexer em peças e em conceitos.


 


Apesar da campanha estatisticamente interessante de Sérgio Guedes (ele deixa o São Caetano em quinto lugar na classificação geral ao final da primeira rodada do returno depois de conquistar 62,96% dos pontos que disputou, ou seja, 34 em 54) a perspectiva não era das melhores simplesmente porque a equipe acumula várias rodadas de oscilações profundas. A impressão que o São Caetano transmitiu nos últimos jogos é que teria chegado ao limite técnico e tático. Um limite imposto pelo treinador, incapaz de desafiar sua própria essência de relacionamento interno ao providenciar mudanças que se faziam necessárias.


 


Coincidentemente, Sérgio Guedes deixa o São Caetano depois de uma goleada de 4 a 1 fora de casa. Em 2010, após 19 jogos (oito vitórias, três empates e três derrotas), foi demitido por conta dos 4 a 1 ante o Ipatinga, em Minas Gerais. Naquele momento a situação do São Caetano era mais problemática que a atual porque estava distante do G-4, a zona de classificação à Série A, com 31 pontos conquistados em 22 jogos, com índice de aproveitamento de 46,97%.


 


O quinto lugar atual, com índice de aproveitamento de 56,66%, estatisticamente classificatório à Série A, parece o ponto central em termos temporais e contextuais, para uma arremetida classificatória. Contará para isso com a tempestuosidade conhecida de Emerson Leão, um sargentão que toma o lugar de um quase sempre sereno padre. Quase sempre sim, porque o que Sérgio Guedes disse no intervalo do jogo em Arapiraca, acusando indevidamente o árbitro de favorecer o adversário, já indicava que alguma coisa estranha habitava os vestiários do São Caetano.  Muito provavelmente os efeitos sempre perversos de quem lidera um grupo elegendo intocáveis, um problema tão crônico para ele como a administração de um grupo de jogadores tendo como premissa uma liderança pessoal inquestionável, como é o caso de Emerson Leão.


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