Quem tinha alguma dúvida sobre as consequências da troca dos punhos de renda de Sérgio Guedes pelas mãos de ferro de Emerson Leão só precisou esperar o jogo de sábado no Estádio Anacleto Campanella, quando o São Caetano superou o Avaí por 1 a 0 e se manteve em quinto lugar na classificação da Série B do Campeonato Brasileiro. E provavelmente confirmará a nova versão nesta terça-feira quando o São Caetano enfrenta o Bragantino no Interior. O pragmatismo tomou conta de um time que nos últimos jogos perdera a eficiência.
Quem garantir que o São Caetano de Emerson Leão será um dos novos integrantes da Série A provavelmente exercita chutometria, mas o time não deixará pedra sobre pedra a cada palmo do gramado. Sábado foi assim. O São Caetano perdeu em qualidade técnica e tática, se qualidade técnica e tática for um jogo mais organizado, mais denso, mais orgânico, mas ganhou em competitividade. À base da força e de uma intensidade de entrega que levou a maioria dos jogadores à exaustão, o São Caetano arrancou três pontos de uma das equipes com as quais concorre à Primeira Divisão.
É claro que a campanha de Sérgio Guedes (18 jogos, 34 pontos ganhos em 54 disputados, com nove vitórias, sete empates e duas derrotas) não estaria ausente do ambiente do jogo de sábado. Até mesmo uma faixa com enunciado de agradecimento ao técnico demitido após a goleada de 4 a 1 para o ASA se viu na arquibancada. Uma surpresa tanto quanto os gritos de apoio de torcedores, porque esse não é o padrão de comportamento popular naquele estádio. Sérgio Guedes não deixou o São Caetano no G-4, comandou apenas três vitórias em nove jogos no Estádio Anacleto Campanella, mas deu uma arrumação defensiva ao grupo suficiente para colocar o São Caetano com possibilidades de voltar de onde foi rebaixado há seis anos.
Choque na acomodação
Apesar de todas as numeralhas deixadas por Sérgio Guedes, há contrapontos importantes. Primeiro, o São Caetano tem um elenco tão numeroso e de bons jogadores que não pode se prender à mesma escalação ante oscilações de rendimento de titulares que se acomodam. Segundo, nos últimos sete jogos a equipe dava mostras de enfraquecimento, enquanto outros candidatos ao Acesso subiam: ganhou apenas nove dos 21 pontos em disputa, índice de 42%, muito abaixo dos atuais 60% que assegurariam a quarta vaga classificatória ao Joinville.
A presença quase imperial de Emerson Leão não assegura que o São Caetano chegará ao Acesso, mas tem significado claro e direto: a diretoria do clube indicou o caminho que quer trilhar no restante da competição porque constatou que os treinamentos e relacionamentos de Sérgio Guedes com o elenco já teriam atingido o limite saudável. Mantê-lo no cargo teria o sentido de conformar-se com a frustração do Acesso. Com Leão, acreditam, o tratamento de choque poderá extrair o máximo de rendimento dos jogadores.
E é mesmo indispensável atuar com esse objetivo, porque o segundo turno da Série B indica que a luta será encardida. A disputa pelos quatro primeiros lugares e também para a fuga do rebaixamento se tornará cruel. A queda do índice de aproveitamento dos primeiros colocados deverá ser um dos rescaldos da temperatura em elevação. Nesse caso, cada ponto disputado em casa será decisivo. O São Caetano de Leão acenou que não desperdiçará pontuação no Anacleto Campanella. Talvez não repita os 11 jogos e as 11 vitórias do Criciúma em casa e que coloca a equipe catarinense na segunda colocação no campeonato. Mas algo próximo a isso encaminharia a classificação do São Caetano. Basta repetir parte do que registrou nos jogos fora de cada com Sérgio Guedes.
Ansiedade reduzida
A vitória ante o Avaí foi um resultado merecido, mas nada que extrapolasse o limite mínimo do placar. O time de Santa Catarina só foi melhor, com mais iniciativa, mais pegada, mais determinação, até sofrer o gol de Vandinho aos 18 minutos do primeiro tempo. O centroavante completou com um chute de baixo para cima, depois de uma matada no peito, um passe perfeito de Éder, o melhor do time. Com a vantagem, o São Caetano pôde conter a ansiedade que resultava em excesso de erros de passe, enquanto o Avaí demorou a assimilar o golpe.
A perda do lateral Diego logo aos cinco minutos, contundido, obrigou o técnico Leão a improvisar Samuel Santos na lateral-esquerda. Nada que complicasse o sistema de marcação, mas que acabou diminuindo o impacto ofensivo. O Avaí procurava mais o jogo por aproximação ante um adversário compacto atrás, mas totalmente dispersivo no ataque. Um chute sobre o gol de Luiz aos 12 minutos poderia ter atrapalhado o São Caetano, mas fora essa oportunidade o Avaí quase não incomodou. Vandinho poderia ter tranquilizado de vez aos 35 minutos quando chutou por cima.
O Avaí voltou melhor no segundo tempo mas de novo Vandinho poderia ter ampliado aos 12 minutos ao completar cruzamento de Samuel Xavier que o goleiro salvou. Pouco depois foi a vez de Geovane desperdiçar uma grande oportunidade. Mas o São Caetano se safou do empate aos 23 minutos quando Diogo Acosta cruzou praticamente da linha de fundo e Samuel Xavier salvou quase em cima da linha. O jogo guerreado não era farto em lances agudos, mas havia sempre a perspectiva de que algo poderia acontecer dada a intensidade física e emocional.
Leão tomou duas providências no segundo tempo para fortalecer a marcação e tentar resolver o placar em bola parada: substituiu o esgotado Marcelo Costa, que pouco produziu, pelo volante Marcone, e enfiou o grandalhão Jô entre os zagueiros no lugar do também esgotado Vandinho. O Avaí fez mudanças em sentido contrário, de potencializar o ataque, mas só teve mesmo uma grande oportunidade depois daquela de Diogo Acosta, quando Pirão bateu uma falta aos 44 minutos e Luiz desviou.
Desgaste total
Com 10 jogadores durante oito minutos – o zagueiro Wagner saiu grogue depois de uma trombada em bola de escanteio e o árbitro esticou o jogo por cinco minutos além dos 45 normais – o São Caetano atirou-se à luta pelos três pontos como poucas vezes no Anacleto Campanella, palco acostumado a ver a equipe sofrer derrotas e empates justamente nos últimos 15 minutos. Parece que com Leão o São Caetano jamais se acomodará. Nem terá preocupação em jogar futebol minimamente refinado. Os três pontos são o mantra de quem deixou uma mensagem nos vestiários, no dia da apresentação, que não sai da cabeça de jogadores: Leão não veio para brincadeiras. Quem o conhece sabe o que isso significa. E quem não o conhece, imagina.
Por isso que, numa perspectiva de curto prazo, o jogo desta terça-feira com o Bragantino tradicionalmente aguerrido promete ser uma batalha. E o restante do campeonato, uma guerra a ser vencida a todo custo. Ainda bem que o São Caetano tem elenco, porque a perspectiva é de que muitos jogadores deverão tombar nas próximas rodadas.
Total de 985 matérias | Página 1
05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André