Esportes

Noite quase perfeita recoloca
São Caetano entre os melhores

DANIEL LIMA - 05/09/2012

A noite de ontem foi quase perfeita para o São Caetano na Série B do Campeonato Brasileiro: ao final dos 10 jogos da 22ª rodada, o time de Emerson Leão contabilizava saldo mais que positivo -- venceu o sempre indigesto Bragantino no Interior por 3 a 2 e viu todos os demais adversários colocados até o 10º lugar (exceto o Atlético Paranaense) serem derrotados ou não passarem de empates. Retornar ao G-4, o grupo que classificará novos integrantes da Série A do Campeonato Brasileiro do ano que vem, coroou a noitada. Pena que o futebol do Azulão não tenha tido nível técnico mais elevado. A marca de Leão mais uma vez prevaleceu, com muito empenho físico, combatividade, infrações e pragmatismo. Um futebol de resultados acima de qualquer preocupação plástica.


 


Quem esperava um São Caetano versus Bragantino com brilhantismo técnico não conhece a história dessa rivalidade e tampouco o perfil de Emerson Leão. Com o mesmo time-base do antecessor Sérgio Guedes, que deixou a equipe antes do confronto com o Avaí, sábado, o São Caetano de Leão foi outra vez completamente diferente. Privilegiaram-se o tempo todo a marcação implacável, o chutão em direção aos atacantes Danielzinho (o melhor da noite) e Leandrão (sempre disposto a brigar com os zagueiros) e o encurtamento do espaço aos adversários. O Bragantino escalou três zagueiros, soltou os alas, liberou comedidamente os volantes, mas esbarrou no aperto de marcação do adversário. Apenas pelo setor esquerdo, onde Fabinho sofre para jogar de lateral porque é ala, o São Caetano acusava dificuldades de bloqueio. Mas por dentro, com dois volantes implacáveis e dois zagueiros de estatura elevada, neutralizava as tentativas de infiltrações centrais do Bragantino.


 


Festival de combates


 


O fato de o Bragantino estar no fio da navalha, já que ocupa a penúltima posição na classificação, e de o São Caetano buscar nova identidade comportamental sob o comando de Leão, tornou o jogo uma sucessão de infrações, passes errados, bolas divididas e tudo que lembre um combate. Por isso, as oportunidades foram raras. O Bragantino poderia ter feito 1 a 0 aos 22 minutos quando Fernando Gabriel acertou o travessão. Dois minutos depois, num cruzamento quase despretensioso de Marcelo Costa junto à lateral esquerda, Danielzinho aproveitou rebote defeituoso do zagueiro Cadu na pequena área e chutou para as redes. O São Caetano obtinha a vantagem de que precisava para desestabilizar o adversário e poderia ter aumentado o placar se aos 29 minutos Éder não demorasse demais para concluir um lançamento perfeito de Danielzinho que a zaga abafou.


 


A vantagem parcial iria se desfazer antes do final do primeiro tempo, mais precisamente aos 39 minutos. E começou com uma falta na entrada da área, rebote da zaga, chute do atacante Cezinha na trave e complemento do centroavante Lincoln. O Bragantino voltava a sonhar com os três pontos.


 


O segundo tempo voltou sob os mesmos eflúvios de combatividade das equipes. Cada centímetro de gramado era disputado com intensidade. As duas equipes bloqueavam bem a entrada da área, mas o Bragantino tinha mais iniciativa porque projetava os alas Jefferson Feijão e Léo Jaime, o que exigia o deslocamento permanente dos volantes às laterais, quando não o recuo de Marcelo Costa e Éder para o combate. Numa das raras vezes em que se atirou ao ataque, aos 17 minutos, o volante Moradei recebeu livre na entrada da área um passe bem executado por Danielzinho e contou com a sorte para fazer 2 a 1 para o São Caetano -- a bola resvalou no zagueiro Rafael Caldeira e ganhou discreta sinuosidade em trajetória que o goleiro não conseguir cortar.


 


Era natural que o Bragantino em desvantagem fosse ao ataque. O técnico Benazzi, que, suspenso, dirige o time das arquibancadas, fez alterações nesse sentido, mas Emerson Leão, sempre de olho nos três pontos, não demorou a fortalecer a marcação à frente da zaga com o volante Marcone substituindo o cansado Marcelo Costa. Em seguida, o armador Pedro Carmona entrou no lugar do discretíssimo Éder. Essa é uma das diferenças que antagonizam Leão e Sérgio Guedes: o primeiro sabe o momento exato de utilizar o banco de reservas, geralmente com a melhor iniciativa. Não foram poucos os jogos em que o São Caetano perdeu pontos importantes nos 15 minutos finais.


 


Susto no final


 


De novo a bola parada interferiu no andamento do placar quando, aos 33 minutos, Pedro Carmona bateu um escanteio à esquerda, o zagueiro André Astorga furou e Marcone, que entrou para evitar gols, acabou fuzilando. O São Caetano parecia ter matado o jogo com os 3 a 1. Leão trocou Leandrão com cartão amarelo pelo rápido Geovane para aproveitar o avanço do meio de campo adversário. Um chute forte em cobrança de falta de longa distância levou o Bragantino ao segundo gol aos 44 minutos. Acleisson acertou o ângulo de Luiz. Um jogo que parecia decidido ganhou dramaticidade nos últimos minutos. Inclusive um pouco além dos três minutos de descontos, quando o árbitro autorizou a cobrança de um escanteio. Decisão bem diferente à do final do primeiro tempo quando, em circunstância semelhante, mas favorável ao São Caetano, o árbitro preferiu encerrar o período.


 


As reclamações de Emerson Leão contra a arbitragem não foram detalhadas na entrevista pós-jogo, mas não é difícil entender a irritação do técnico: o paulista Flávio Rodrigues Guerra fez uma atuação caseira, conceito que consiste em tratar desigualmente os atacantes, anotando faltas para o Bragantino que, do outro lado, eram sumariamente ignoradas. Sem contar que poderia ter marcado um pênalti de Rafael Caldeira em Danielzinho pouco antes do gol de empate do Bragantino. A infração sequencial, que começou fora da área e terminou quando Danielzinho insistiu em tentar chegar ao gol, agora dentro da área, não foi anotada pelo árbitro.


 


Detalhes técnicos e táticos à parte, o São Caetano de Leão parece mesmo caminhar para uma jornada de completo desprezo à harmonia tática como sinônimo de espetáculo de futebol.  O jogo de sábado no Estádio Anacleto Campanella contra o ABC de Natal será mais uma oportunidade ao exercício da força bruta como doutrina. O time deixado por Sérgio Guedes, do qual Leão parece não abrir mão, é um novo time. Possivelmente mais apto a sonhar com a Série A.  


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