A goleada que o São Caetano aplicou ontem à noite no Estádio Independência por 5 a 2 confirma o viés ofensivista do técnico Emerson Leão, em contraste com a excessiva cautela do antecessor Sérgio Guedes. O América Mineiro foi completamente dominado em jogo de seis importantes pontos. Afinal, o vencedor se manteve a um degrau do G-4, agrupamento das equipes que jogarão a Série A do Campeonato Brasileiro do ano que vem. A derrota em casa sábado passado ante ABC de Natal por 1 a 0 foi mesmo um acidente de percurso que não desequilibrou o São Caetano. Tanto que, como naquele jogo, o time fez dos ataques a principal arma em Belo Horizonte.
Agora na quinta colocação na Série B do Campeonato Brasileiro, o São Caetano destila confiança a quem projeta o Acesso numa competição dificílima e que tem, entre os quatro primeiros, três integrantes do Clube dos 13 (Vitória da Bahia, Atlético Paranaense e Goiás). Com escalonamentos ditados pela audiência, os integrantes do Clube dos 13 recebem repasses financeiros preciosos de receitas da TV e transformados em investimentos nas equipes. O principal adversário do São Caetano rumo à Série A possivelmente será mesmo o Criciúma, terceiro colocado, derrotado ontem por 1 a 0 pelo Goiás, após ser goleado no sábado em casa pelo América de Minas por 4 a 0.
A melhor explicação para a terceira vitória do São Caetano de Emerson Leão em quatro jogos é que entre arriscar em busca de três pontos e acautelar-se para garantir apenas um, o exigente treinador prefere mesmo utilizar todas as alternativas que possam incomodar os adversários. Avanços dos laterais, dos volantes, movimentação intensa dos atacantes e dos meias, muita combatividade na saída de bola, atenção permanente no fechamento de espaços laterais e centrais são pontos nucleares da forma de Emerson Leão comandar a equipe. O América sentiu o golpe ontem à noite. Jamais poderia imaginar que, depois de ganhar fora de casa do vice-líder, enfrentaria um oponente tão incisivo em procurar o gol.
Mudanças forçadas
Leão não chorou o leite derramado das perdas, por contusão, de dois zagueiros titulares que fazem ótimo campeonato: Gabriel e Diego foram substituídos por Eli Sabiá e Fabinho. O restante do time foi o mesmo que iniciou o jogo com o ABC em casa. Esperava-se que substituísse Marcelo Costa e Danielzinho, que saíram no intervalo do jogo no Estádio Anacleto Campanella e o time melhorou com Geovane e Vandinho. Mas Leão começou e terminou o jogo com ambos, porque eles contrariaram o desempenho de tantos outros jogos, de muita oscilação técnica, e atuam de forma constante, vibrante.
O São Caetano foi sempre melhor que o América Mineiro. Apenas no começo do segundo tempo o adversário teve uns 15 minutos de maior controle tático. O jogo estava empatado em 2 a 2, placar do primeiro tempo. Um resultado que não espelhava o São Caetano sempre melhor. O time de Leão saiu na frente com um gol de Fabinho, em chute forte e cruzado com pouco ângulo, aos 17 minutos, mas o América empatou depois de uma jogada individual do lateral Pará que se infiltrou, driblou três adversários e chutou no canto, aos 25 minutos. Um minuto depois Eder recebeu na entrada da área e chutou com força no canto de Neneca, desempatando o jogo. O América voltou a empatar aos 42, depois de Pará ganhar uma dividida com Samuel Xavier no meio de campo utilizando-se do antebraço e de cruzar para Alessandro fechar e completar. O gol americano resultou de rápido contragolpe, quando o São Caetano sentia os efeitos dos 12 minutos em que o jogo foi paralisado por causa de queda de energia elétrica.
Mudando e ganhando
O time que voltou para o segundo tempo praticamente eliminou o único espaço por onde o América incomodava com infiltrações: Samuel Xavier sentiu contusão, Augusto Recife foi deslocado à lateral-direita e Marcone entrou de volante. Augusto Recife colou em Pará e estrangulou a saída de bola do América pela esquerda. Pela direita, o lateral Boiadeiro não era explorado. Tanto que Fabinho, um perigo constante na marcação quando escalado por Sérgio Guedes, fez sua melhor partida pelo São Caetano porque Leão o escalou para jogar do jeito que gosta e sabe: avançando em velocidade, chutando e cruzando. A marcação às costas foi cuidadosamente garantida por Wagner e um dos volantes.
Quando Marcelo Costa desempatou aos 19 minutos num lance cinematográfico, encobrindo o goleiro, o São Caetano não tinha o volume de jogo do primeiro tempo porque o América avançou a marcação, até então monopólio dos visitantes. Mas em seguida o São Caetano passou a submeter o América Mineiro à tortura da melhor performance.
A entrada de Somália, três minutos antes do gol de Marcelo Costa, mostra que o time de Leão tem alternativas mesmo quando parece que conta com jogadores replicantes. Somália fez o passe a Marcelo Costa depois de antecipar-se à zaga e também sofreu dois pênaltis, aos 25 e 32 minutos, que Marcelo Costa e ele mesmo, Somália, traduziram em gols. A mobilidade do atacante, especialista em sair da marcação dos zagueiros, potencializou o ataque. Até então, Leandrão preferia o contato físico. O São Caetano trocou um gladiador por um passista e levou os zagueiros adversários à loucura.
É verdade que um dos pênaltis assinalados pelo árbitro – o segundo -- foi obra da esperteza de Somália, que inclinou o corpo para ser atingido, mas nada que tenha influenciado no placar porque logo após o 3 a 2 de Marcelo Costa, Danielzinho foi atropelado na área, o arbitro levou o apito à boca, mas preferiu não marcar.
Refazendo pontuação
Se antes de enfrentar o América em Minas Gerais o São Caetano planejava voltar com quatro pontos dos dois jogos desta semana, a goleada pode embalar a equipe a alcançar o máximo do limite matemático. O jogo desta sexta-feira em Natal contra o América passou a ser visto também como mais uma etapa de novos três pontos de uma equipe que só é superada pelo líder Vitória como o visitante mais indesejado, ou seja, que rouba mais pontos dos times da casa.
A diferença do São Caetano visitante com Leão em relação ao período de Sérgio Guedes é que jogava apenas no erro dos adversários, enquanto agora se expõe sem limites para construir o placar. Leão não é bobo, entretanto: fecha-se defensivamente, sem abdicar do ataque, quando sente que o melhor é explorar o desespero adversário. Foi assim com o América Mineiro. Poderá ser assim como América Potiguar.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André