Esportes

Futebol de Santo André pode ser
partidarizado pelo PT de Marinho

DANIEL LIMA - 18/09/2012

Há uma ameaça no ar a atingir ainda mais o que resta do futebol de Santo André, privatizado pelo Saged (Santo André Gestão Empresarial e Desportiva): a vitória do PT de Carlos Grana na corrida à Prefeitura pode conduzir à partidarização política. Uma réplica do que ocorre no São Bernardo Futebol Clube da Administração Luiz Marinho.


 


O risco de Luiz Fernando Teixeira e Edson Asarias, principais dirigentes do São Bernardo, além de Edinho Montemor -- presidente de honra e atuante na gestão daquela agremiação --estenderem tentáculos em direção ao ex-Ramalhão, hoje Saged, não pode ser descartado. Para viabilizar-se ao governo do Estado em 2018 o prefeito Luiz Marinho não mede esforços. O trio diretivo do São Bernardo, uma empresa privada de ligações fortíssimas e íntimas com a gestão petista, quer mais, sempre mais. É assim que a roda financeira do futebol gira, ante a carroça no acostamento do superado modelo de voluntariado que tanto sucesso fez no passado.


 


Já imaginou torcedor do ex-Ramalhão, hoje Saged, o que estaria reservado ao moribundo futebol da cidade se Carlos Grana ganhar as eleições e manobrar no sentido de ceder aos projetos hegemônicos do PT de São Bernardo? Quem considera a hipótese acintosa elucubração não sabe da missa um terço. Afinal, Carlos Grana é apenas uma extensão do viés sindicalista do PT de São Bernardo, centralizado no prefeito Luiz Marinho, ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e da CUT (Central Única dos Trabalhadores).


 


É verdade que há alternativas em pauta, mas jogar na lata do lixo a possibilidade de intromissão de São Bernardo na vida esportiva de Santo André é ingenuidade. O grupo de Luiz Marinho o fará intensamente na vida política e administrativa ante a eventual vitória de Carlos Grana. Como o está fazendo na campanha do peemedebista Paulo Pinheiro em São Caetano e dos demais petistas que concorrem às prefeituras da região. Luiz Marinho regionalizou a Província do Grande ABC no que lhe interessa objetivamente, ou seja, fortalecer-se no interior do PT rumo ao governo do Estado. Celso Daniel o fez de forma republicana, embora também e com muito mais talento intelectual tivesse o governo federal como horizonte seguinte.


 


Um trio diretivo poderoso


 


Aparentemente seria um grande achado Luiz Fernando Teixeira, Edson Asarias e Edinho Montemor à frente, mesmo que disfarçadamente, do ex-Ramalhão, hoje Saged. Trata-se de um trio poderoso, que sabe manipular cordéis dentro e fora dos gramados, ou seja, tanto no âmbito esportivo quanto no político e administrativo. Luiz Fernando Teixeira e Edson Asarias, para os leitores terem uma ideia singular sobre o que fazem como multiempresários, são pontas de lança do sistema de arrecadação de dinheiro de financiadores às campanhas eleitorais dos petistas e agregados na região. Eles são fieis escudeiros e orientadores da Administração Luiz Marinho.


 


Foi Luiz Fernando Teixeira quem comandou o cerimonial do jantar de aporte de recursos financeiros à campanha de Carlos Grana, outro dia num restaurante grã-fino de Santo André. Quem conhece a mecânica desses jantares sabe que nem tudo que parece é de fato. A tolerância da Justiça Eleitoral, com todas as iniciativas nesse sentido, choca quem acredita que o julgamento do mensalão vai higienizar a política nacional.


 


Possivelmente o futebol de Santo André também acordaria para uma retomada popular, levando alguns milhares de espectadores aos jogos no Estádio Bruno Daniel, porque aquele trio de dirigentes do São Bernardo tem uma fórmula infalível para seduzir o público.


 


O grande risco que a iniciativa carregaria e que atinge em cheio o São Bernardo Futebol Clube é a partidarização política da qual clube de futebol de verdade deve afastar-se, sob risco de desaparecer na medida em que se recompõem as preferências eleitorais com o esgotamento do poder de plantão. Como se já não fosse suficiente o pecado capital de misturar paixão esportiva com interesses políticos geralmente incontroláveis, porque gananciosos. Está aí o mensalão para confirmar.


 


Com uma possível (embora por enquanto improvável) vitória do petista Carlos Grana, e ante o alerta deste jornalista, é admissível que a operação preparada pelo trio de São Bernardo não seja levada a cabo conforme o modelo do São Bernardo Futebol Clube, mas que, também, não seja desativada. Uma parceria informal com Ronan Maria Pinto, presidente do Saged e diretor-presidente do Diário do Grande ABC, poderia entabular-se. Não se joga fora um mercado de 600 mil almas. Mesmo que a quase totalidade dessas almas não esteja nem aí mais com o futebol da cidade, depois de tantos desencantos.


 


Saged sob tutela?


 


Um Saged sob a tutela petista de São Bernardo significaria o paroxismo do modelo privatista no futebol, porque associaria o fracasso do Saged com o sucesso de público e bilheteria (e outros mais) do São Bernardo Futebol Clube. As escolinhas públicas de futebol, em que se plantando tudo dá, não são espaços apenas para entretenimento. São Bernardo sabe explorá-las bem como laboratórios e saberá, também, adotar um regime semelhante em Santo André.


 


Uma terceira possibilidade de impedir que o ex-Ramalhão, hoje Saged, fracasse de vez, é o retorno da equipe ao berço que a originou, ou seja, ao Esporte Clube Santo André, hoje presidido por Celso Luiz de Almeida e no ano que vem mais que certamente sob o controle do ex-presidente Jairo Livolis. Trata-se de operação complexa, mas nem por isso incontornável. O Saged deve os tubos em impostos que azucrinam a administração do Esporte Clube Santo André, oficialmente o representante da equipe nas instâncias esportivas e também na Justiça Trabalhista. Além disso, o Saged tem compromissos pendentes com acionistas que caíram no conto de que a privatização do futebol da cidade seria a redenção da agremiação.


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