Jogar jogo a jogo de acordo com as circunstâncias dos três pontos ou definir minitorneios ao longo da competição, estabelecendo igualmente minimetas de produtividade? Eis uma espécie de dilema posto a comissões técnicas e jogadores. Qual é a melhor maneira de chegar à Séria A do Campeonato Brasileiro, o que interessa diretamente ao São Caetano nesta temporada?
Um assunto pouco explorado pela Imprensa é uma inquietação constante das equipes. A escolha de minitorneios é teoria levada à prática como a ideal. Mas há quem prefira tornar cada jogo a melhor maneira de assegurar um lugar entre os quatro primeiros.
Sabe-se que o técnico Emerson Leão prefere a segunda alternativa. O São Caetano entra em campo de olho no adversário que vai enfrentar, não nos adversários seguintes. Os minitorneios geralmente são compostos de cinco jogos. Um pacote de compromissos com definição prévia de pontos a contabilizar, traduzidos em índice de rendimento, conceito que consiste na divisão dos pontos a serem conquistados pelos pontos a serem disputados. Cinco jogos do bloco de cada um dos minitorneios significam 15 pontos em disputa. Uma projeção de 60% de índice de aproveitamento quer dizer nove pontos ganhos. O Campeonato Brasileiro da Série B (assim como o da Série A) conta com sete minitorneios de cinco jogos e um -- o último -- de minitorneio de três jogos. Totalizam, esses minitorneios, 38 jogos.
A equipe que soma 60% de aproveitamento em cada um dos sete minitorneios conquista 63 pontos. Com cinco ou seis pontos no minitorneio final, de três jogos, está garantido o acesso. Essa é a fórmula decorada por todos, da qual a realidade classificatória estatística não foge. Com 68 pontos ao final da competição não há, matematicamente, garantem as estatísticas, risco de exclusão de um dos quatro primeiros lugares.
Questão de preferência
Se existe fórmula infalível para festejar o acesso, por que então há treinadores, como Emerson Leão, que preferem desprezar a estratégia de pontuação, que significa amarrar os jogos e seus resultados ao longo da competição, e optam pela tática do jogo a cada jogo, do ponto a cada novo compromisso?
Que fórmula seria mais apropriada para um time competitivo chegar às últimas rodadas da Série B do Campeonato Brasileiro sem sobressaltos quanto ao sonho de alcançar a Série A? Seriam mais ajuizados os pontos vistos no curtíssimo prazo, de acordo com a individualização dos adversários, ou o que se oferece como irrebatível são os pontos no longo prazo, dividindo-se a empreitada em minitorneios, observando os jogos em forma de minipacotes que desprezariam os resultados individuais e valorizariam os resultados agrupados?
Tudo isso parece complicado, mas para quem é do ramo futebolístico e vive o dia a dia dos bastidores das equipes que projetam um lugar entre os quatro primeiros, o chamado G-4, não passa de preocupação óbvia.
A vantagem do viés estratégico, de competição alongada e subdividida em vários minitorneios, é que a regularidade é fragmentada, o que, teoricamente, induz a alimentar-se do próprio sistema, ou seja, do conjunto ou do miniconjunto dos jogos. O que seria vantagem de uma competição vista sob o olhar do longo prazo, com estações numéricas de avaliação, seria pressupostamente desvantagem da alternativa do curto prazo, aquela na qual o que interessa mesmo, depois do jogo de hoje, é o jogo de amanhã. Nada de jogo de rodadas distantes, por exemplo.
Desperdício de munição?
Os opositores da pontuação elástica, que desconsideram circunstancialidades de determinados jogos, lembram que o fraccionamento das 38 rodadas com base num objetivo estatístico previamente traçado pode induzir a desperdício de munição.
O que viria a ser desperdício de munição? Os minitorneios indexados por objetivo de aproveitamento ancorado no longo prazo podem levar à negligência ou à inapetência de resultados mais robustos. Minitorneio previamente definido à conquista de nove pontos (esse é o conceito de divisibilidade da programação classificatória) dispersaria o foco num alvo mais apropriado, de soma de pontos maior, acima da média de 60%. Um minitorneio que não confirme a média de aproveitamento de 60% contaminaria o minitorneio seguinte à compulsoriedade de elevação do índice, a compensar a defasagem do minitorneio anterior. Nada pior porque a situação obrigaria a equipe a eventuais rearrumações táticas que comprometeriam o conjunto de compromissos no campeonato e, com isso, retardaria o amadurecimento coletivo.
Parece estruturalmente mais robusto encarar os 38 jogos de uma competição de pontos corridos como se cada jogo fosse o objetivo básico, definindo-se para tanto um sistema de jogo com maleabilidade que permita ser mais ou menos ofensivo, de acordo com as características do adversário, o local do compromisso e o contexto do confronto.
Vejam um exemplo rebocado dos primeiros jogos do São Caetano sob o comando de Emerson Leão. Foram exatamente seis compromissos, que comporiam apenas a título explicativo um dos minitorneios da competição. Houvesse o treinador optado pelo índice de aproveitamento de 60% que asseguraria um lugar na Série A do ano que vem, o São Caetano teria somado 12 pontos. Emerson Leão mandou o time à frente mesmo nos três compromissos fora de casa e registrou 15 pontos em 18, ou 83% de aproveitamento.
Essa talvez seja a principal distância entre um treinador que sabe o que quer (o desafio de chegar com o grupo à Série A do Campeonato Brasileiro) e um treinador, no caso o antecessor, Sérgio Guedes, que se escravizou pelas numeralhas estatísticas, colocando a equipe em campo não necessariamente de acordo com os jogos que a aguardava, mas pela abrangência do conjunto do minitorneio em questão.
Contabilidade enganosa
É verdade que na contabilidade geral Sérgio Guedes colocou o São Caetano na boca do G-4, depois de frequentar o agrupamento de forma intermitente. Visto sob esse ângulo, a demissão teria sido uma bobagem diretiva. Entretanto, quando se observa reversamente o modelo de minitorneios, ou seja, não de projeção de quantos pontos ganhar nos cinco jogos seguintes, mas quanto se ganhou nos cinco jogos disputados, a situação ganha cores preocupantes. No caso de Sérgio Guedes, o minitorneio anterior à chegada de Emerson Leão reúne sete jogos. Dos 21 pontos disputados, apenas nove foram conquistados. Um rendimento de 42%, abaixo dos prováveis 60% que abrirão as portas à Série A.
Ou seja: o São Caetano vinha em processo de enfraquecimento. E isso só ocorreu porque ao chegar várias vezes ao G-4 o time de Sérgio Guedes passou a ser mais cuidadosamente avaliado pelos futuros adversários. Quando se estuda a fundo um adversário, quando se marcam os pontos fortes e os pontos fracos, coletivos e individuais, a tendência é de complicações para manter a pegada. O São Caetano de Sérgio Guedes não parecia responder às novas demandas e tudo indicava que poderia despencar na classificação.
Fosse o leitor técnico de futebol, que planejamento pretenderia aplicar numa equipe que sonha com o acesso? A individualização dos jogos de Emerson Leão ou os minitorneios da maioria dos treinadores? Quem busca analogias no campo esportivo para adotar o esquema da estratégia, do longo prazo, citando, por exemplo, a programação cronológica de quem quer chegar ao final de uma maratona como um dos destaques, não pode se esquecer de algumas lições. Uma das principais: maratonista competitivo de verdade define a velocidade média com que pretende completar o percurso, mas não é escravo de ritmo uniforme ao longo de mais de 42 quilômetros. Maratonista competente estuda previamente o itinerário a percorrer e imagina os trechos em que pode imprimir maior velocidade para, nos terrenos mais íngremes, minimizar o desgaste com o controle do espaço sem comprometer o objetivo final.
Transportando o exemplo para o futebol, Emerson Leão faz de cada trecho, no caso o próximo adversário, um estudo prévio sobre a melhor maneira de ganhar três pontos ou sobre a possibilidade de adotar alguma cautela defensiva adicional para tentar chegar ao mesmo objetivo sem expor-se demasiadamente à derrota. Nessa projeção, é claro que o perfil tático de um jogo contra o CRB, realizado sábado no Estádio Anacleto Campanella, não será necessariamente replicado no confronto com o Paraná, fora de casa. Organizar o São Caetano sob o princípio de individualização dos jogos ao invés do empacotamento prévio parece ser mais compatível com a lógica de eficiência.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André