O São Caetano venceu o desesperado Guaratinguetá ontem à noite no Estádio Anacleto Campanella por 1 a 0 e ganhou imunidade durante pelo menos uma semana, período mínimo de permanência no G-4 do Campeonato Brasileiro da Série B. O empate que prevalecia até 49 minutos do segundo tempo certamente excluiria a equipe da zona de classificação à Séria A, porque a rodada fragmentada vai se estender até sábado. O libertador gol do zagueiro Gabriel, após bate-rebate em cobrança de escanteio, aliviou a barra do técnico Emerson Leão. Por mais que tenha melhorado o rendimento no segundo tempo, é preocupante a extensão do apagão da equipe nos próximos compromissos, considerando-se também a baixa produção no jogo anterior, derrota ante o Paraná.
Quem só enxerga resultado certamente está feliz com a vitória do São Caetano, mas após oito jogos à frente da equipe o técnico que recentemente dirigiu o São Paulo precisa decifrar algumas equações técnicas e táticas. O elenco do São Caetano talvez seja diversificado demais, com opções que podem embaralhar as preferências de Leão. Se a quantidade de opções levou o antecessor Sérgio Guedes à autodefesa de fechar-se com um grupo de titulares e a criar problemas com reservas potencialmente preparados, com Emerson Leão parece dar-se o contrário. O treinador parece ter um gosto especial pela troca, por experimentos. Como tudo tem limites, a organização coletiva entra em pane.
Por que improvisar?
Possivelmente o jogo de ontem à noite provou a Leão que improvisar o volante Augusto Recife na lateral-direita em detrimento de Samuel Xavier (e mesmo do reserva Samuel Santos) é algo que deve ser avaliado como exceção, não como regra. Samuel Xavier voltou à titularidade ontem à noite e depois de um primeiro tempo discretíssimo como marcador, desembaraçou-se no segundo tempo e foi peça importante à melhora do rendimento ofensivo do grupo.
A entrada de Geovane no segundo tempo, transformando-se no melhor da equipe porque infernizou a vida dos zagueiros e do goleiro Saulo, também deve provocar um repensar de escalação. Geovane, especialista na condução de bola em velocidade por dentro, quebra a rigidez de marcação adversária e finaliza geralmente com precisão. Danielzinho, que jogou o primeiro tempo praticamente ao lado do centroavante Somália, rendeu muito abaixo da média. Danielzinho é um jogador de explosão física, tem técnica menos qualificada que Geovane e, sem espaço, não sobrevive.
Foi o que se deu durante todo o primeiro tempo de ontem. Diferentemente de outros jogos, Danielzinho caiu pouco à esquerda do ataque, porque o lateral-ala Fabinho, escalado no lugar de Diego, penetrava por ali. Danielzinho é um atacante talhado para o São Caetano jogar em contra-ataques. Como o Guaratinguetá congestionou o meio de campo, sempre atrás da linha da bola para tentar achar um gol em contragolpe, Danielzinho naufragou.
Também foi no segundo tempo de ontem que os volantes Augusto Recife e Moradei, geralmente em revezamento, lançaram-se mais ao ataque e abriram espaços que os atacantes e os meias começaram a preencher. No primeiro tempo os dois volantes se limitaram a destruir e a tentar construir jogadas com lançamentos ou passes mais longos, sem mobilizarem-se fisicamente em jogadas de aproximação. Com isso, agravado pelo fato de Samuel Xavier não sair da defesa, o São Caetano era um anacrônico grupo de três compartimentos distintos – defesa, meio de campo e ataque – que praticamente não se comunicavam. Por isso os primeiros 45 minutos foram um terror. O Guaratinguetá não estava nem aí, porque a inutilidade ofensiva era recompensada pela rigidez de marcação.
Mudanças demais
Emerson Leão poderia ter evitado o erro de escalar o centroavante Leandrão no segundo tempo, logo no intervalo, juntamente com a entrada de Geovane. Com Somália seria provavelmente mais fácil penetrar na defesa adversária, porque tem mais habilidade e senso de colocação que Leandrão. Além disso, Leão não teria restringido demais as opções a novas substituições no tempo final. Quando Ailton entrou no lugar de Eder havia a perspectiva de melhora. A probabilidade de penetrações frontais com a bola dominada, juntamente com Geovane, causaria transtornos ao adversário. Ailton recupera-se de contusão e não jogou tudo que se esperava, mas Geovane compensou.
A comemoração coletiva pós-jogo mostrou que o São Caetano era uma pilha de nervos no gramado. E explica também a razão de tantos erros de passes e, principalmente, de precipitação na preparação e na conclusão de jogadas. O time que está entre os quatro primeiros da Série B deu mostras de que precisa controlar a ansiedade. O G-4 parece pesar além da conta sobre o grupo. Há diferenças entre confiança motivadora e inquietação perturbadora que o São Caetano parece confundir, o que pode atrapalhar nas 10 rodadas que faltam para o apito final do campeonato. O São Caetano parece estar à flor da pele, mas, de bom, teve o poder de reação mesmo que atabalhoada no segundo tempo, após um primeiro tempo que precisa ser esquecido. Sorte que o adversário, na zona de rebaixamento, não se deu conta de que poderia ser menos defensivo e, portanto, mais incômodo.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André