Alguém precisa recomendar ao presidente Luiz Fernando Teixeira certos cuidados para que o São Bernardo Futebol Clube não se descaracterize ainda mais. Deslumbrado como dirigente esportivo e audacioso como arrecadador de dinheiro em campanhas eleitorais, Luiz Fernando Teixeira ultrapassa os limites e conduz o futebol de São Bernardo ao separatismo esportivo ao aprofundar a divisão da cidade entre torcedores e não torcedores de algo que se encaminha para PT Futebol Clube. Nada pior para um clube empresarial, porque reduz o mercado do ponto de vista econômico e o estigmatiza como elemento social.
A mais recente trapalhada de Luiz Fernando Teixeira foi anunciada sem o menor pudor na edição de sábado do Diário do Grande ABC. Ele vai recorrer aos préstimos do ex-presidente da República, Lula da Silva, a quem não cansa de estender o tapete, para atuar como empresário de futebol. Quer que Lula vá aos grandes clubes paulistas, Corinthians do coração entre eles, para garantir reforços subsidiados de que o São Bernardo precisaria na Série A do Campeonato Paulista do próximo ano. O PT Futebol Clube seria, no ensaio do presidente Luiz Fernando Teixeira, uma colcha de retalhos dos grandes clubes do Estado.
Lula da Silva não é apenas ex-presidente da República e amigo do peito do prefeito Luiz Marinho, a quem o São Bernardo Futebol Clube, ou PT Futebol Clube, serve como alavanca na área esportiva. Lula da Silva também é presidente de honra ou algo parecido do representante de São Bernardo no futebol profissional e imortalizou a camisa de número 13 sem sequer jamais ter atuado um minuto sequer. A camisa 13 do Tigre jamais será utilizada por ninguém, porque o PT Futebol Clube decidiu em reunião de cúpula que é uma homenagem ao ex-presidente. Qualquer semelhança com o número que identifica eleitoralmente o partido não é mera coincidência.
Politização acintosa
Até parece que o julgamento do mensalão não provoca a mais ínfima preocupação ao presidente Luiz Fernando Teixeira. Atrevido, vai em frente com o projeto do PT Futebol Clube que causa horror a quem, como este jornalista, caiu na besteira de acompanhar alguns dos jogos da equipe do setor de arquibancadas e, ante uma chuva torrencial, dirigiu-se às cabines de Imprensa e de autoridades e verificou que ali se instalava um QG partidário. A politização do São Bernardo é acintosa, a confirmar as suspeitas de que seja, no mínimo, uma correia de transmissão de objetivos igualmente políticos do presidente Luiz Fernando Teixeira, de olho no Paço Municipal de São Bernardo em 2016. Nada que a ambição não lhe seja de direito, desde que não misture as estações de forma tão abusada.
Utilizar o prestígio pessoal de Lula da Silva junto aos clubes grandes do futebol paulista pode ganhar uma conotação coercitiva que, por sua vez, evocaria a desconfiança de que se patrocina uma concorrência desleal com as demais agremiações de pequeno e médio porte que disputarão a Série A do ano que vem. Ou o leitor tem dúvidas de que entre um pedido do ex-presidente por determinado reforço e uma oferta mesmo que mais interessante de outra agremiação sem o mesmo peso politico os dirigentes de clubes grandes ousarão deixar de atender ao pedido daquele que, por força do passado de sucesso político e de entranhamento no governo federal, destravaria qualquer tipo de nó?
Basta verificar que, mesmo sem que constasse do regulamento da competição e infringindo a lógica hierárquica, o PT Futebol Clube acabou convidado recentemente para disputar a Copa do Brasil da próxima temporada, supostamente por ter vencido a Série B do Campeonato Paulista. A chiadeira já se fez, e nos bastidores o silêncio é muito mais ensurdecedor, porque o PT Futebol Clube começa a ser visto pelos demais clubes pequenos e médios com muita desconfiança de que goza de força descomunal nos bastidores, cujos reflexos podem se expandir às mais variadas direções, inclusive para dentro de campo.
O que causa surpresa é a sem-cerimônia com que o presidente Luiz Fernando Teixeira se manifesta sobre o suporte logístico oferecido por Lula da Silva. É verdade que não é a primeira vez. Ele se coloca em cena com alguma constância de forma ostensivamente ingênua ou declaradamente egocêntrica e, com isso, arrisca muito do arrojadamente construtivo desenvolvido nos últimos anos. Caso da tomada do Estádio Primeiro de Maio por milhares de aficionados de futebol, uma parcela dos quais está se convertendo em torcedores do Tigre. É verdade que em grande escala é uma torcida de cabresto político, tangida por interesses que vão além das quatro linhas, mas de qualquer forma algo sem precedentes na história da Província do Grande ABC.
Searas conflitantes
Não sei exatamente por que penso no julgamento do mensalão quando leio no Diário do Grande ABC a notícia sobre o reforço de Lula da Silva para a contratação de jogadores ao São Bernardo. Trata-se possivelmente de uma bobagem deste jornalista, porque provavelmente uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Entretanto, como minha intuição não costuma falhar, até porque está mais ou menos sempre respaldada por conhecimentos acumulados, sugiro ao presidente do São Bernardo Futebol Clube, ou PT Futebol Clube, que dê uma ajeitada na gravada do exibicionismo porque a notícia só atrapalha o próprio Lula. Afinal, como se sabe, o PT é uma agremiação política de abrangência estadual (e também nacional) e seus correligionários, dirigentes e apaniguados de outras praças podem requisitar os mesmos préstimos ao ex-presidente. Ou seja, se a moda pega, faltarão jogadores aproveitáveis dos grandes clubes paulistas para atender às demandas petistas.
Sabe-se que nem mesmo o fato de a declaração ter sido publicada numa véspera de eleição municipal impediu que o Paço de São Bernardo lamentasse o alarde de Luiz Fernando Teixeira. Dizem que toda a discrição que exercita nos bastidores da política, juntamente com o advogado Edson Asarias, também dirigente do PT Futebol Clube, Luiz Fernando Teixeira despreza no campo esportivo, por entender que são searas diferentes. Podem até ser, mas quando se tem um clube-empresa, como é o caso do PT Futebol Clube, o mais recomendável é não abusar da sorte.
O pessoal do mensalão do PT não fez nada radicalmente diferente do modelo adotado pela maioria dos partidos políticos, exceto o desprezo à possibilidade de uma reviravolta no placar. O PT Futebol Clube não pode desprezar leis não escritas mas sobejamente conhecidas e respeitadas no futebol. Entre as quais uma certa distância entre o que se apresenta nos gramados e as instâncias de poder paralelas. O passionalismo do futebol pode entornar o caldo daqueles que se imaginam intocáveis. Quando declarações públicas ganham o significado de desconsideração pela concorrência, introduzindo no jogo de potencialização das equipes um fator especial, como o camisa 13 Lula da Silva, as consequências nem sempre são as melhores. Sempre há a possibilidade de aparecer um Roberto Jefferson a botar fogo no paiol de privilégios.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André