Política

Sucessor e classe média já são
preocupações de Luiz Marinho

DANIEL LIMA - 18/10/2012

As urnas eletrônicas mal se desconectaram em São Bernardo e o prefeito reeleito Luiz Marinho está duplamente preocupado. Primeiro porque quer eleger o sucessor sem sofrer dores de cabeça. Segundo, quer reduzir o contraste socioeconômico do cacife eleitoral do PT tanto no Município em que alcançou 65% dos votos válidos quanto em outros endereços. Entenda-se por contraste socioeconômico a dificuldade de conquistar a classe média tradicional, verdadeira, não essa bobagem de nova classe média, que não passa de jogada de marketing governamental. 


 


Luiz Marinho espera repassar o gabinete do Paço de São Bernardo a alguém do próprio partido, dando sequência a uma administração que imagina cada vez mais comprometida com obras financiadas em parceria principalmente com o governo federal.


 


A lista de candidatos à sucessão de Luiz Marinho é quilométrica em tamanho e estratosférica em diversidade ocupacional de pretendentes. Isso significa que as notícias não são nada boas. Deverá se estabelecer uma guerra de guerrilhas, uma corrida de espermatozoides, com desgastes inevitáveis. Nada, entretanto, que não possa ser equacionado na linha de chegada, quando a unidade partidária falaria mais alto.


 


A oposição que está a chupar os dedos acredita que levará vantagem no critério de recall eleitoral, fenômeno que consiste na lembrança de nomes que já concorreram à chefia de Executivo em eventos suficientes para ganhar espaço automático na cabecinha dos eleitores. Alex Manente, Orlando Morando e William Dib correm em raias próprias, agrupáveis mais adiante.


 


Quatro anos é tempo demais para encaixarem-se golpes certeiros em termos de sucessão eleitoral, mas esse raciocínio não inibirá tomadas de posição preventivas de Luiz Marinho e do restrito grupo de conselheiros que não admitem São Bernardo sob domínio da oposição. Demorou mas o PT se deu conta de que entregar a vitrine de São Bernardo equivale a admitir que os americanos invadam Cuba. 


 


Concorrentes não faltam


 


Os nomes que desfilam no balcão de especulações à sucessão de Luiz Marinho formam um batalhão. Vamos de Marcos Lula, filho do ex-presidente eleito vereador, passamos por Nilza Oliveira, mulher do prefeito, invadimos a área de Tarcísio Secoli, chefe do secretariado municipal, alcançamos a baliza de escanteio de Arthur Chioro, secretário de Saúde e chegamos a outros mais, menos votados mas não por isso descartados. O vice-prefeito Frank Aguiar está entre os últimos da fila entre outras razões porque não é petista.


 


Tão provável quanto as dores de cabeça que atormentarão o staff de Luiz Marinho para harmonizar os conflitos internos que saltarão além-muros do Paço Municipal é o desafio do petista reduzir a carga de restrições da classe média de São Bernardo à agremiação, manifestada mais uma vez nas eleições recém-encerradas.


 


Há uma imensidão de bairros mais antigos e conservadores que votou maciçamente no oposicionista Alex Manente. Nenhum fenômeno localizadamente de São Bernardo, é bom que se diga. Até em Diadema a classe média que ocupa as áreas centrais sufragou Lauro Michels, opositor de Mário Reali. PT e classe média são antípodas inconciliáveis, segundo alguns estudiosos, por causa dos estragos do mensalão. A população que mais sente diretamente no bolso o custo do Estado brasileiro e que também é mais consumidora de informações é muito mais resistente a escândalos.


 


Como superar essa hostilidade em São Bernardo e retirar dali uma espécie de case de sucesso que poderia ser replicado em tantos outros municípios paulistas para sedimentar a candidatura seja de Luiz Marinho, seja de Aloysio Mercadante ao governo do Estado de maneira a não depender excessivamente de classes mais populares? Até porque, ante eventual crise de emprego, os assalariados de menor renda poderiam virar-se contra os benfeitores petistas que fizeram do financiamento ao consumo o Plano Real da centro-esquerda.


 


São Caetano não conta


 


A operação de guerra que culminou na conquista de São Caetano em parceria com o PMDB não entra na contabilidade petista como sucesso de público e de bilheteria na classe média. Em larga escala os eleitores do vencedor Paulo Pinheiro desdenharam da possibilidade de o PT estar por trás do combustível financeiro e de marketing que o levou ao Paço Municipal.


 


Os petistas reconhecem que, salvo engano, ainda não alcançaram a glória suprema de vencer uma disputa em colégio eleitoral representativo contando com maioria de votos não só dos menos letrados e mais pobres, mas também dos mais abastados e os mais educados.


 


A cidade de São Paulo, de núcleo azulado de tucanos e aliados e de bordas imensas de avermelhados, é o macromapa do cinturão metropolitano da Capital e de áreas assemelhadas, de menores dimensões, no Estado de São Paulo e do País como um todo.


 


Os segundos turnos previstos para a Província do Grande ABC não contarão com o reforço tópico mas sempre produtivo de Lula da Silva simplesmente porque o ex-presidente não consegue separar-se de um microfone. Aliás, se dependesse de Lula da Silva e, principalmente, de recomendações médicas, microfones estariam fora de seu alcance durante longo tempo.


 


Lula vai à luta para auxiliar Donisete Braga em Mauá, Carlos Grana em Santo André e Mário Reali em Diadema porque seus discursos poderão a ajudar a fazer a diferença na reta de chegada, ante o iminente bombardeiro da mídia para trombetear a condenação do núcleo político do PT no caso mensalão, agora sob a acusação de formação de quadrilha.


 


É verdade que candidaturas do perfil de Fernando Haddad em São Paulo, antecedidas do lançamento de Dilma Rousseff à presidência da República, ajudam a atenuar as restrições da classe média ao PT, estereotipada por responsabilidade do próprio partido como agremiação de sindicalistas. Mas os números revelam que a iniciativa tem limites entre outras razões porque a imagem do ex-presidente da República se sobrepõe a todas as demais – e essa imagem é de sindicalista.


 


Luiz Marinho sabe que tem incidido no aprofundamento da divisão do eleitorado entre classes populares que lhe dão todo apoio e os resistentes de classe média. A partidarização e a ideologização de ações públicas, explicitadas na preparação do Museu do Trabalho e do Trabalhador e também na excessiva vinculação do futebol profissional à Administração Pública, são exemplos sobre os quais Luiz Marinho deveria repensar abordagem.


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