Não tem jeito, a sorte está lançada mesmo: São Caetano e Atlético Paranaense vão jogar as últimas 14 partidas da Série B do Campeonato Brasileiro com o coração, a alma e as chuteiras na Série A. Faltam apenas sete jogos para cada uma das equipes, mas a matemática do esporte é outra, porque cada jogo do adversário deverá ser contabilizado também. Quando o São Caetano e o Atlético entrarem em campo separadamente, São Caetano e Atlético jogarão duplamente, torcendo contra o rival. E quando se enfrentarem no Estádio Anacleto Campanella o jogo valerá por dois, porque os chamados seis pontos vão ser o objetivo supremo.
A vantagem que o São Caetano detinha sobre o adversário pela quarta e última vaga à Série A se desfez na rodada do final de semana. O São Caetano jogou péssima partida contra o lanterninha Barueri, em Barueri, e o empate de 2 a 2 caiu do céu. Já o Atlético foi a Salvador e venceu um Vitória em crise mas já praticamente classificado. Os 2 a 0 colocaram o time paranaense um ponto à frente do São Caetano, revertendo a situação. Com duas vitórias a mais (18 contra 16), o Atlético leva vantagem também no critério de desempate. Isso pode significar não um, mas dois pontos de diferença na última rodada. No saldo de gols o time do Paraná tem seis à frente do São Caetano – 22 contra 16.
Qualquer alteração entre os concorrentes à Série A do Campeonato Brasileiro será desvio estatístico. O Criciúma (65 pontos), o Goiás (64) e o Vitória (63) estão praticamente classificados. O Atlético tem 58 pontos e o São Caetano 57. O único time que pode infiltrar-se nessa disputa é o Joinville, mas os 52 pontos que acumula são pouco para quem tem apenas sete jogos para tirar a diferença. Na verdade, não são apenas sete jogos, mas um vácuo de seis pontos percentuais no índice de rendimento: o Atlético registra 62,39% de pontos conquistados ante 55,91% dos catarinenses. A marca de corte do quarto colocado na Série B é a maior da história dos pontos corridos. Até então, o máximo que uma equipe necessitou para subir chegou a 55%.
Jogos associados
Embora o melhor mesmo numa competição de pontos corridos seja encarar o próximo compromisso sem relativizar pontos, ou seja, encarando o jogo como decisivo e não necessariamente num contexto de enfrentamentos agregados tendo como base um pacote de jogos futuros, talvez seja interessante ao São Caetano fazer projeções sobre a reta de chegada. Até que enfrente o Atlético dentro de três rodadas, o melhor para o Azulão é alimentar para valer a possibilidade de, com uma vitória no confronto direto, passar à frente na classificação, ou seja, retomar o quarto lugar.
A diferença de um ponto favorável ao Atlético deverá ser mantida nesta terça-feira, quando a 32ª rodada marca para Curitiba um jogo relativamente fácil ante o Guarani de Campinas, de campanha sofrível. Não será diferente a possibilidade de sucesso do São Caetano, que joga no Anacleto Campanella contra um praticamente rebaixado Ipatinga. O problema do São Caetano é manter a desvantagem de apenas um ponto na rodada seguinte, sexta-feira, quando enfrenta o Vitória em Salvador enquanto o Atlético volta a jogar em casa contra outro paulista, o Guaratinguetá, que luta para não cair. Se desgarrar mais de três pontos, o Atlético jogará em São Caetano, em seguida, podendo até perder porque seguraria a quarta posição. E teria o jogo a caráter, obrigando o São Caetano a sair para o ataque a qualquer custo.
Complicações táticas
O mais preocupante no São Caetano é a inconstância tática aplicada pelo técnico Emerson Leão. No empate com o Barueri o São Caetano entrou em campo no sistema 4-2-2-2, mudou para 3-5-2 quando percebeu que o adversário atuava o tempo todo procurando o jogo aéreo para o centroavante Magrão e, quando percebeu que ganhar era mais importante que empatar, voltou ao sistema anterior mas se fragilizou defensivamente a ponto de flertar com a derrota.
A síntese da atuação do São Caetano em Barueri não difere dos jogos anteriores: o posicionamento defensivo recuado demais abastece o potencial ofensivo do adversário, os volantes não participam do jogo ofensivo, os laterais têm baixa participação como alas, os meias-articuladores infiltram-se pouco, e os atacantes Danielzinho e Leandrão (ou Somália e Geovane) estão quase sempre isolados, marcados por vários adversários. Traduzindo, falta densidade, intensidade, determinação e mais cuidados na marcação. O time de Leão passou a desfilar os mesmos problemas do período de declínio do antecessor Sérgio Guedes: baixa combatividade de atacantes e meias sem a bola, exagero de bolas cumpridas e rifadas ao ataque e dificuldade imensa para manter a bola sob controle.
Também não se compreende como uma equipe que chega à situação de disputar uma vaga à Série A até as últimas rodadas é tão descuidada na observação dos pontos fortes dos adversários. Contra o Ceará o ala Apodi deitou e rolou como atacante pela direita. E ante o Barueri o centroavante Magrão participou diretamente dos dois gols, sempre preparando o lance final de cabeça. Marcelinho, revelado pelo Corinthians, jogou o tempo todo livre às costas de Diego e de seus pés saíram as melhores jogadas do adversário.
Do jeito que o São Caetano está jogando não é descartável a possibilidade de os melhores resultados da equipe nos 14 jogos associados até a conclusão da Série B partirem do Atlético Paranaense, ou seja, de tropeços do adversário direto à vaga. Mas não seria suficiente para o acesso do São Caetano se as deficiências não forem superadas.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André