Ficou muito mais difícil, mas a possibilidade de o São Caetano chegar à Série A do Campeonato Brasileiro do ano que vem ainda não ingressou no terreno da metafísica. A derrota em casa para o Atlético Paranaense por 3 a 1 no último sábado complicou a situação do representante da região, mas o jogo desta terça-feira em Santa Catarina contra o Criciúma abre a janela da expectativa de eventual, embora improvável, recuperação. O São Caetano precisa vencer para manter acesa a viabilidade de chegar pelo menos em quarto lugar. Está a quatro pontos do Atlético Paranaense (65 a 61), a cinco do terceiro colocado Vitória (66) e a sete do vice-líder Criciúma (68). Goiás, com 70 pontos, lidera e está praticamente com a classificação garantida. Em suma, o São Caetano perdeu quase tudo ante o Atlético e como não tem muito mais a perder, deve transformar-se em franco-atirador.
O São Caetano pagou caro o preço de um primeiro tempo fora dos padrões de uma equipe que construiu a melhor campanha ao longo de seis temporadas na Série B do Campeonato Brasileiro. O Estádio Anacleto Campanella recebeu mais de cinco mil torcedores, um terço dos quais de atleticanos, e viu uma quase decisão liquidada em apenas 26 minutos.
Foi nesse período que os visitantes marcaram os dois gols ante um São Caetano atrapalhado na defesa, pouco combativo no meio de campo e desarrumado no ataque. O gol de Marcão logo aos seis minutos, completando de cabeça um cruzamento do lateral Maranhão, foi decisivo para impactar o adversário. Até que o apito final do primeiro tempo fosse acionado, o São Caetano praticamente pouco fez de ofensivo. Mas antes disso, aos 26 minutos, numa jogada treinada, Maranhão bateu uma falta em diagonal da intermediaria, Marcão ganhou de Wagner de cabeça e Marcelo fechou ante a indecisão de Luiz e Eli Sabiá. Era o segundo gol.
O que se pergunta é por que o São Caetano jogou tão mal no primeiro tempo. É verdade que o adversário colaborou com isso, porque marcou atrás da linha da bola, reduziu os espaços e saiu em velocidade nos contragolpes. Mas os erros do São Caetano foram próprios também. Passes errados, pouca fluência do meio de campo na transposição ao ataque e excesso de jogadas pela esquerda bem cuidada pelo sistema defensivo do Atlético foram uma rotina.
Tudo muito diferente
O time do técnico Ailton Silva que uma semana antes deslumbrou o Barradão ao vencer o Vitória por 1 a 0 parecia paralisado ante a responsabilidade de vencer para ultrapassar o Atlético na classificação. Provavelmente o excesso de nervosismo explique a paralisia geral. Atribuir apatia em circunstâncias como a de sábado é um julgamento equivocado. O estado emocional exacerbado provoca reações que se confundem com desinteresse. O São Caetano parecia congelado durante todo o primeiro tempo.
Houve melhora sensível no segundo tempo com as substituições do dispersivo Marcelo Costa e o pouco móvel Somália por Geovane e Leandrão. Sem ter Marcelo Costa a sobrepor espaço físico de armação, Pedro Carmona pode movimentar-se com desenvoltura. Geovane deslocava-se entre as duas meias e verticalizava mais as jogadas. Já Leandrão executou a especialidade de Somália: soube sair da área para atrair a marcação de zagueiros e favorecer descongestionamento às penetrações. Foi dele o passe bem calculado e decisivo para o zagueiro Wagner, como centroavante, completar de cabeça e diminuir o placar aos 30 minutos.
Nada mais justo que o gol de Wagner, porque o São Caetano estava bem melhor na partida. O Atlético já não conseguia a mesma eficiência na marcação e se perdia nas tentativas de contra-ataques porque o adversário já não recuava demais a linha de zagueiros. Os laterais Samuel Xavier e Diego apareciam mais no ataque e ajudavam a encurralar o adversário. Até os volantes Moradei e Augusto Recife se lançaram à frente.
Arriscando a sorte
O técnico Ailton Silva arriscou na troca do volante Augusto Recife pelo meia-atacante Eder, dono de chutes sempre bem colocados e fortes. Tudo indicava que o São Caetano pressionaria em busca do empate, mas não demorou quase nada para Marcelo receber de Paulo Bayer pela meia-esquerda e bater forte de fora da área. O goleiro Luiz deu a impressão de não ter acreditado na velocidade e na precisão do chute. A bola chutada em diagonal entrou no canto. Estava liquidado o jogo. Até o final o Atlético ficou mais perigoso, porque o São Caetano voltou a cometer erros de posicionamento que tornaram o primeiro tempo um inferno.
Ao restarem apenas quatro rodadas para o encerramento da Série B, a única certeza em relação ao São Caetano é que o jogo desta terça-feira em Criciúma determinará o que efetivamente estará reservado nas rodadas que restarem. Ganhar os três pontos é essencial e só perde em importância absoluta se o resultado for acompanhado de eventuais surpresas nos jogos que envolvem Vitória e Atlético Paranaense, que atuam com o apoio de seus torcedores.
Essa dependência de terceiros e a necessidade de vencer um adversário que lidera o ranking de pontos conquistados dentro de casa, com apenas três derrotas em 16 jogos, resumem o quanto o resultado ante o Atlético Paranaense foi desastroso. Talvez tenha sido por isso, ou seja, pela perspectiva de estar com a corda no pescoço após os 90 minutos no Estádio Anacleto Campanella, que o São Caetano foi um time instável demais naquela derrota. Quem sabe que, corda no pescoço consumada, o São Caetano tenha equacionado o problema emocional e jogue a partir de agora com o destemor calculista de franco-atirador? Até porque, não existe outra saída quando já não se depende mais das próprias forças para chegar lá.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André