A rodada de ontem à noite da Série B do Campeonato Brasileiro foi quase perfeita para o São Caetano: além de vencer um adversário direto fora de casa (2 a 0 contra o Criciúma) foi favorecido pelo empate em casa do Atlético Paranaense de 1 a 1 com o América de Natal. Só faltou o Vitória tropeçar no Barradão ante o América de Minas. Mas o time baiano ganhou de 5 a 3. Também seria demais a combinação de tantos bons resultados.
A três rodadas do final, o São Caetano renasceu para a Série A porque está a dois pontos do quarto colocado Atlético Paranaense (64 pontos contra 66), a quatro do Criciúma (68) e a cinco do Vitória (69). O Goiás, com 71 pontos (empatou em Varginha, Minas Gerais, de 2 a 2 com o Boa Esporte) está praticamente classificado. Uma nova rodada neste final de semana poderá recolocar o São Caetano em situação que parecia completamente descartada antes da vitória de ontem: depender das próprias forças para voltar à principal competição do País seis anos depois de rebaixado.
Visitante mais indigesto da Série B com 10 vitórias, cinco empates e apenas três derrotas em 18 jogos, o São Caetano vai precisar utilizar para valer os fatores campo e torcida nas duas próximas rodadas para, provavelmente, decidir a classificação em Campinas, ante o Guarani, com a vantagem de independer de terceiros. Ganhar do Boa Esporte nesta sexta-feira e na rodada seguinte do Goiás provavelmente já classificado é essencial. Só assim será possível traçar a perspectiva de que eliminará a desvantagem de dois pontos em relação ao Atlético Paranaense (que joga duas fora de casa, com o ASA e o Criciúma) e, quem sabe, até os quatro pontos em relação ao Criciúma, que também joga duas partidas complicadas (América em Natal e Atlético em casa). Na última rodada o São Caetano vai a Campinas, enquanto o Atlético joga um clássico estadual com o Paraná e o Criciúma enfrenta também um clássico regional, ante o Avaí em Florianópolis.
Como se observa, o que parecia impossível após perder em casa sábado para o Atlético Paranaense tornou-se viável: o São Caetano não só está na briga pelo acesso como viu as portas se ampliarem ao vencer o Criciúma. Afinal, agora não está em jogo apenas uma vaga, a última, mas duas. Ou seja, Criciúma, Atlético e São Caetano jogam para ocupar a terceira e a quarta colocações. Sem contar que, como atua as duas próximas partidas fora de casa, com o desesperado Guaratinguetá e o sempre competitivo Joinville, o Vitória pode ser atirado às feras de dúvidas classificatórias.
O que pesa contra o São Caetano numa eventual situação de igualdade de pontos na classificação final é que soma menos vitória (primeiro critério de desempate) que o Atlético e o Criciúma. O time de Santa Catarina venceu 21 vezes, o Atlético 20 e o São Caetano 18. Também no saldo de gols, segundo critério, o São Caetano está atrás dos dois concorrentes: o Criciúma tem 18, o Atlético 27 e o São Caetano 17. Mas tudo é apenas detalhe nas atuais circunstâncias. Poucas vezes esses critérios de fato são puxados para definições.
Dedicação total
A vitória de 2 a 0 ontem à noite no Estádio Heriberto Hulse foi o somatório de dedicação, humildade e pragmatismo. O ambiente era todo favorável ao time da casa, apoiado por 14 mil torcedores. Ao Criciúma bastava uma vitória para festejar o acesso, já que ampliaria para 10 pontos a diferença em relação ao quinto colocado, o próprio São Caetano. Mas, além de enfrentar um adversário que não deu trégua defensiva tornou-se letal no ataque, o Criciúma foi vítima da dependência exagerada de um único jogador, o centroavante Zé Carlos, artilheiro do campeonato com 25 gols. O atacante cumpriu suspensão automática.
Nada garante, entretanto, que o resultado teria sido outro mesmo com Zé Carlos que, no jogo do primeiro turno, em São Caetano, praticamente nem tocou na bola. Os zagueiros Gabriel e Wagner, uma das melhores duplas da competição, praticamente não erraram durante todo o jogo em Criciúma, como o fizeram no jogo do primeiro turno. Exceto no exagero de firulas quando o resultado já estava sacramentado. Não bastasse tanta eficiência, o técnico Ailton Silva não teve dúvidas quando sentiu que o 1 a 0 poderia ser perigoso demais: aos 22 minutos do segundo tempo mandou a campo o colombiano Jaime Bustamante, zagueiro com experiência de edições da Taça Libertadores. Aí o São Caetano fechou de vez os espaços defensivos e, em seguida, marcou o segundo gol.
Além dos zagueiros de área que encaixaram a marcação e as antecipações à medida que o jogo ganhou fluência, o São Caetano contou com o brilho coletivo de não dar espaços defensivos à organização do adversário. Só faltou acertar um índice maior de preparação e definição de contragolpes. Uma deficiência explicada pela pressão ambiental, pela pressa em construir o resultado e também porque Geovane foi dispersivo demais durante todo o primeiro tempo e, retirado da equipe, a função acabou concentrada em Pedro Carmona. Ainda bem que o meia-armador deu mais uma prova de que é um desperdício ficar no banco de reservas. Os melhores momentos ofensivos do São Caetano partiram de seus pés. Inclusive o primeiro gol, aos 27 minutos do primeiro tempo: a cobrança de escanteio foi perfeita, forte e numa altura comprometedora ao corte de cabeça do volante França, que desviou contra as próprias redes.
Até que o primeiro gol do São Caetano calasse um barulhento estádio, o Criciúma era ligeiramente melhor e acumulava três oportunidades de perigo. Havia dificuldade latente de proteção à esquerda da defesa. Diego era sacrificado com o avanço do lateral Eric e o deslocamento sempre incômodo de pelo menos um meia de articulação do adversário. Tivesse Danielzinho convertido em gol um lançamento milimétrico de Pedro Carmona, aos 38 minutos, o São Caetano viraria o primeiro tempo nocauteando o adversário. Mas Danielzinho demorou e um zagueiro aliviou. No rebote, livre, Danielzinho chutou para fora.
Cuidando da defesa
O técnico Ailton Silva acertou em cheio quando voltou no segundo tempo com um terceiro volante, Marcone, substituto do instável Geovane. Pretendia-se fechar o lado esquerdo da defesa. Ainda mais que o Criciúma retornou mais ofensivo, com o atacante Gilmar no lugar do volante Elias. Um Gilmar deslocado perigosamente à direita, área de turbulência do São Caetano. No primeiro lance de que participou, Marcone sentiu o joelho e foi substituído por Eder. Uma mexida que abriu de novo o flanco esquerdo da defesa do São Caetano, porque Eder preferiu funções mais ofensivas.
Danielzinho voltou a perder um gol feito aos 11 minutos do segundo tempo, Gilmar fechou em diagonal e quase empatou aos 16 e seis minutos depois o São Caetano resolveu trancar de vez o jogo: Jaime Bustamante juntou-se aos sólidos Gabriel e Wagner na defesa e Danielzinho, que pouco antes sofrera um pênalti não marcado pelo árbitro provavelmente porque o atacante exagerou na queda, foi para os vestiários. Cinco minutos depois o centroavante Leandrão coroou uma partida de entrega total e fez 2 a 0, completando um rebote do goleiro em chute forte de fora da área de Eder.
O São Caetano do segundo tempo foi melhor que o do primeiro tempo porque deu mais densidade à posse de bola, inverteu as jogadas, movimentou-se com desenvoltura e avançou a defesa principalmente após a entrada de Jaime Bustamante. A força, o empenho e a dedicação ganharam a inteligência tática como companheira a ponto de levar a torcida do Criciúma a gritar “olé” nos minutos finais.
A viagem a Santa Catarina ganhou um novo enredo numa eventual conquista de vaga à Série A do Brasileiro. O que parecia uma dolorida despedida da competição converteu-se em esperança consolidada de que é possível voltar ao passado de sucesso. A rodada deste final de semana promete devolver ao São Caetano a carta mágica que parecia definitivamente perdida após a derrota para o Atlético Paranaense – a independência de terceiros para ocupar o G-4 ao final da competição.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André