Esportes

Danielzinho supera estigma
de peladeiro e vira joia tática

DANIEL LIMA - 27/11/2012

De peladeiro ovacionado por dirigentes e torcedores fanáticos o atacante Danielzinho transformou-se em joia tática. A fase de faz-tudo que pouco fazia de fato eletrizou o São Bernardo Futebol Clube, a quem Danielzinho estava vinculado até recentemente. A fase de componente tático importantíssimo do São Caetano na Série B do Campeonato Brasileiro decorre de um profissionalismo superior. No mundo prático do futebol, mais importante que a pirotecnia é a eficiência, embora não falte na praça quem confunda malabarismo com aplicabilidade. Não é qualquer um que chega ao nível de Neymar, associação perfeita de show e eficiência.


 


Danielzinho não valia um tostão furado como opção de reforço e de contratação para investimentos tanto no São Bernardo que embalou equivocadamente seus dotes técnicos como nos clubes pelos quais passou rapidamente, casos de Avaí e Sport Recife, emprestado para ganhar experiência e quem sabe uma negociação bem vantajosa. Foi no São Caetano, principalmente com a chegada de Emerson Leão, que Danielzinho morreu como peladeiro quase inconsequente e virou terror dos zagueiros. Com a troca do truculento Leão pelo afável Ailton Silva, melhorou ainda mais.


 


Embora tardiamente, mas nunca em vão, Danielzinho esmera-se em longos treinamentos específicos para minimizar uma deficiência letal para quem é atacante e tem obrigação de fazer gols: pratica insistentes finalizações. Se inspirar-se em Rogério Ceni e sua sede por balançar as redes, conseguirá recuperar parte do tempo perdido com a ausência de exercícios nas divisões de base.


 


Com Leão, Danielzinho aprendeu a se posicionar em campo. Chega de correr por todos os cantos, de recuar demais para buscar a bola e tentar conduzi-la em velocidade. Chega de cair em demasia. Chega de achar que é craque em qualquer pedaço de gramado. Danielzinho virou jogador de jogada mortal, infiltrando-se em diagonal entre os zagueiros com a bola dominada ou pronto para receber um passe verticalizado, como os que Ailton lhe ofereceu sábado ante o Guarani, deixando-o em condições de domínio e arremates fatais. Danielzinho também sabe procurar a linha de fundo, sempre às costas dos zagueiros, sempre atento ao avanço do lateral, sempre ligado na possibilidade de posicionar-se em impedimento.


 


Atacante sintético


 


Danielzinho virou um jogador mais sintético e muito mais produtivo. Danielzinho seria algo como um jogador de uma jogada só, ou de uma jogada originariamente única, de passe ou lançamento em profundidade para bater cruzado ou cruzar para alguém bater. Nada que o minimize. Um jogador, guardadas as devidas proporções, de uma jogada só como Lucas, que acaba de ser negociado com o futebol francês por cifra recorde.


 


É melhor cumprir uma tarefa de modo qualificadíssimo a enveredar por espaços diversos e ficar a ver navios. Danielzinho e sua fome de bola aprenderam isso. Os aplausos incontidos dos torcedores do São Bernardo lhe fizeram muito mal, porque o embalaram de tal maneira que o blindaram de eventuais restrições.


 


No São Caetano, Danielzinho caiu na realidade de que futebol profissional não é espetáculo circense, de que a plástica desgrudada da letalidade vira objeto de curiosidade pública sem atingir os resultados desejados.


 


Danielzinho deve ter sido orientado a conter o ímpeto de que tudo poderia fazer, porque de fato pouco estava fazendo. Ter contato mais seletivo com a bola não significa, em determinadas funções, participação menor no futebol. Reparem em Fred que, com algum exagero, acaba de ser eleito o craque do Campeonato Brasileiro. Vejam quantas vezes ele toca na bola. E vejam os resultados desse contato. Danielzinho era até há pouco tempo um Fred às avessas, embora executem funções diferentes: mantinha um contato permanente com a bola, estava em todos os cantos, mas não respondia satisfatoriamente às necessidades práticas da equipe. Por isso era um peladeiro.


 


Qualidades fortalecidas


 


As virtudes de Danielzinho estão sendo potencializadas pelo São Caetano. Preparar a equipe para, ofensivamente, explorar o máximo possível o estoque focado de Danielzinho é o mínimo que se espera desde que Leão sintetizou as qualidades desse atacante que normalmente se apresenta como companheiro do centroavante. Os técnicos e os jogadores adversários do São Caetano na reta de chegada da Série B convergiam num ponto: era preciso tomar muito cuidado com Danielzinho, porque aquele azougue já estava consagrado como incômodo de movimentação constante nas proximidades da área, oferecendo-se sempre e sempre como opção a um passe medido, a uma jogada de infiltração, a um lançamento em diagonal ou a uma corrida junto à linha lateral. Tudo isso requeria atenção redobrada.


 


O atacante que o São Caetano descobriu e que o São Bernardo escamoteou sob o manto de uma idolatria vazia que nada tem a ver com o futebol destes novos tempos é, além da centralidade de jogadas contundentes, um sempre humilde combatente sem a bola, um jogador capaz de atrapalhar com devoção a saída de bola adversária, além de entregar-se fisicamente em bolas divididas normalmente refugadas por outros atacantes. Tudo isso sem acusar baixas na enfermaria. No máximo, sai antes dos 90 minutos por esgotamento físico.


 


Se melhorar a pontaria em treinamentos que devem ser intensificados e se for utilizado sempre e sempre como uma flecha pronta a ser acionada, Danielzinho dará voos que jamais imaginei que pudesse. Até porque, não botava mesmo fé naquele peladeiro que se pretendia craque quando de fato é uma joia tática de que o futebol não pode prescindir.  


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