Esportes

São Caetano sólido, São Bernardo em
formação e Ramalhão pós-desmanche

DANIEL LIMA - 07/01/2013

Não acredito sinceramente que quando a Série A do Campeonato Paulista de 2014 chegar a região contará com a repetição do que protagonizou em 2011, quando tivemos o ineditismo de São Caetano, Santo André e São Bernardo entre os 20 participantes. O Santo André dificilmente conseguirá o acesso, porque a terapia emergencial em forma de retorno do Ramalhão ao berço antigo, depois dos maltratos e malfeitos do Saged, mal dará para evitar nova recaída, ou rebaixamento. Já o São Bernardo provavelmente terá um ano de sucesso, se sucesso for algo como manter-se na Série A. O São Caetano pinta com melhores possibilidades de transformar 2013 numa temporada e tanto.


 


Tudo isso é previsão, claro, algo muito complicado de preparar e expor porque há nuances que modificam completamente os prognósticos. Haja vista que no dia seguinte à magra e decepcionante estreia do Corinthians no Mundial de Clubes e logo após o massacre do Chelsea ante os mexicanos estava eu achando que o foguetório anticorintiano iria colorir os céus da região. Mas aí apareceu Tite, previdente como sempre, e rearrumou o Corinthians com a entrada de Jorge Henrique. Sem contar que a força da Fiel, cada vez mais espelho às demais torcidas, num processo de cópia de quem se proclama avesso ao alvinegro, e tudo se alterou. Mas isso é outra história.


 


Vou tentar explicar sucintamente as razões para acreditar que o São Caetano pode voltar a disputar uma fase semifinal ou mesmo final da Série A Paulista, depois de longa espera de seis anos. Também farei esforço para tentar diagnosticar as possibilidades do São Bernardo. E farei o possível para tentar sondar os passos do Ramalhão. Tudo com a ressalva de que há um pacote de subjetividades nessa análise. E subjetividades no futebol são um caminho fértil ao descaminho, porque mesmo com certezas absolutas o imponderável costuma aprontar.


 


Mantendo a força


 


Depois de muito tempo o São Caetano sai de uma Série B do Campeonato Brasileiro com a mala cheia de entusiasmo e acertos e se prepara adequadamente para disputar a Série A do Campeonato Paulista. As mudanças técnicas são poucas e providenciais, porque dão a perspectiva de potencialização do grupo. Alguns reforços chegaram para preencher espaços que se mostraram senão comprometedores ao menos pouco efetivos para o conjunto do grupo. Mas o melhor mesmo é que os jogadores com os quais o técnico Ailton Silva pretendia contar de verdade foram mantidos. O jovem treinador tem a melhor oportunidade da carreira para, quem sabe, dar um grande salto rumo ao futuro. Como deram Muricy Ramalho, Tite e Dorival Júnior -- todos que passaram pelo São Caetano e registraram o mais importante vestibular rumo ao sucesso estadual e nacional.


 


Sem entrar em detalhes individuais que influenciem aspectos técnicos e táticos dos quais trataremos no momento adequado, o São Caetano ganhou estabilidade diretiva na condução do elenco, o que permite traçar uma linha convergente a uma constante melhoria classificatória. Somente o acaso – a exemplo do pênalti perdido pelo meia Ailton no final do jogo contra o Goiás – impediu o acesso à Série A do Campeonato Brasileiro. E mesmo assim num contexto único e inusitado – o Azulão empatou em pontos ganhos ao final da competição com duas das quatro equipes que subiram, Atlético Paranaense e Vitória da Bahia. Quem disser ou escrever que o resultado final foi algo que não seja um sucesso, quando a perspectiva é o dia seguinte à consolidação de um projeto essencialmente progressivo, precisa refazer os conceitos. Até nas trocas de técnicos durante a Série B do ano passado o São Caetano acertou. Márcio Araújo nem deveria ter iniciado a competição, Sérgio Guedes deu o que deu e deu bem até perder o controle do elenco, Emerson Leão deu mais ainda até indispor-se com todo o elenco e Ailton Silva deu ainda mais ao cair nos braços do elenco como um comandante sereno, respeitoso e pronto a inovar.


 


Harmonia, eis o desafio


 


A maior vantagem que o São Caetano apresenta em princípio para esta nova temporada na Série A do Campeonato Paulista converte-se em desvantagem ao São Bernardo – ou seja, o teste mais que contínuo, exaustivo, de que o grupo de jogadores com que vai dispor não oferece margem exagerada a surpresas desagradáveis. O São Bernardo investiu alto, contratou jogadores experientes, amadureceu diretivamente o suficiente para provavelmente evitar novo rebaixamento depois de novo acesso, mas o ponto de interrogação sobre o desempenho na Série A é compulsório.


 


Um time completamente refeito, juntado praticamente no último mês do ano passado, esse time precisará de harmonia dentro e fora de campo. O técnico Luciano Dias aparentemente é jovem demais para a responsabilidade de suportar o peso da expectativa gerada pelos próprios dirigentes – conquistar uma vaga na Série D do Campeonato Brasileiro e participar com relativo sucesso da Copa do Brasil – mas tem a favor princípios técnico-táticos. No ano passado o São Bernardo ganhou o título da Série B Paulista com amplos méritos porque era o melhor agrupamento coletivo da competição. Mas foram notórias as oscilações de rendimento, a ponto de quase entregar o ouro na reta de chegada. Essa ciclotimia técnica deriva de exageros de bastidores, intensos demais em emoções.


 


Um olhar positivo sobre as contratações do São Bernardo indica que há talentos suficientes para a formação de um grupo de porte médio entre os competidores da Série A Paulista. Ou seja: ficaria sem grandes sustos fora da zona de rebaixamento. A dúvida é saber se conseguirá dar uma esticadinha na expectativa de resultados e chegar a uma posição que sustente uma vital ponte em direção ao projeto de nacionalização da marca – ou seja, chegar à Série D do Campeonato Brasileiro, para onde foi rebaixado o Ramalhão na temporada passada. E mais que isso: com a Série D, abre-se uma fresta em direção a um calendário anual, de janeiro a dezembro, caso a equipe consiga imediato acesso à Série C do Campeonato Brasileiro. Quem consegue calendário integral no futebol brasileiro muda completamente o rumo da história, como foi o caso do Santo André. Por isso o desastre da administração de Ronan Maria Pinto é estrondoso: se o Ramalhão não ficar entre os quatro primeiros da Série D no Campeonato Brasileiro desta temporada, voltará à fase de classificação àquela competição, na Série A do Campeonato Paulista.


 


O mesmo Ramalhão que volta ao ninho do Esporte Clube Santo André e que, mesmo com uma dose de nutrientes da Administração Carlos Grana, não oferece nenhuma segurança quanto à possibilidade de voltar à Série A na temporada de 2014. Seria ótimo se conseguisse, porque certamente teríamos de novo o trio regional na principal competição estadual do País, mas o bom senso sugere que o melhor mesmo, ante a calamidade herdada do Saged -- empresa que representou a agremiação desde 2007 e colecionou seis rebaixamentos em 12 competições -- é evitar uma nova queda.


 


A formação da equipe a toque de caixa, como se está dando, já que Ronan Maria Pinto entregou a rapadura em meados de dezembro, significa um presente de grego para o presidente Celso Luiz de Almeida e para o vice Jairo Livolis. Entretanto, como a história do Santo André é salpicada de surpresas, tanto que o time campeão da Copa do Brasil em 2004 surgiu quase ao acaso, é melhor não desprezar as ínfimas possibilidades de uma reviravolta. O Ramalhão costuma tirar leite de pedra, embora o contexto do futebol nestes tempos seja bem diferente do que se vivenciou no passado, a tornar os resultados lotéricos mais lotéricos ainda. 


 


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